Ministro se reuniu com representantes de Torcidas Organizadas.Eugenio Goussinsky
O ministro do Esporte, Aldo Rebelo, afirmou, na última sexta-feira (14), que a presença de empresários no futebol atingiu um nível prejudicial ao esporte.
Ainda ocupando o cargo, apesar da iminente reforma ministerial a ser feita pela presidente Dilma Rousseff, ele garantiu que o poder público irá trabalhar para limitar a ação dos chamados agentes Fifa.
Rebelo esteve em São Paulo, onde participou de Fórum sobre os 10 anos do Estatuto do Torcedor e debates sobre violência no futebol.
O ministro falou basicamente para representantes de torcidas organizadas, mostrando que o governo dá apoio a estas agremiações, não as vinculando diretamente ao problema da violência no futebol. Depois da palestra ele concedeu uma entrevista ao R7.
R7 - O sr. já deu declarações de que deixaria o cargo mesmo com a reeleição da presidente Dilma Rousseff. Ela já o informou sobre alguma decisão a ser tomada?
Aldo Rebelo - Continuo como ministro. Não recebi nenhuma informação sobre qualquer alteração. Aliás, só me encontrei com a presidente Dilma uma vez desde o fim da Copa do Mundo no Brasil.
R7 - Depois que o Estatuto do Torcedor foi implantado, muitas arenas foram construídas, jogadores dos clubes grandes passaram a ganhar altos salários e observamos uma profissionalização do futebol. Muitos veem nisso uma evolução. E o sr.?
Rebelo - O direito do torcedor que o Estatuto do Torcedor deve tratar não é o do consumidor. É uma ideia perigosa. O torcedor não deve ser visto como um consumidor. Isso rompe a base da relação deste esporte tão popular com a massa. Trata-se de uma relação de afeto. O torcedor não é apenas um "comprador" de produtos e da imagem do clube. Ele sente, ele coloca suas emoções, parte de sua vida nos jogos e é isso que deve ser considerado dentro do Estatuto.
R7 - O futebol se mercantilizou demais, em sua opinião?
Rebelo - O mercado trouxe coisas boas ao futebol. Os jogadores precisam ganhar bem, os clubes devem ter bons patrocínios e tudo mais. Acontece que está havendo algo exagerado. O mercado não traz apenas coisas boas. É um mau senhor e um bom servo. O futebol não tem como essência o lucro. Ele tem outro papel, mais social, que se relaciona mais com a identidade popular
R7 - Isso tem a ver com a presença dos empresários atuando junto aos clubes?
Rebelo - Claro, há muita relação. Estamos estudando maneiras de reduzir a presença dos empresários. O Ministério do Esporte está discutindo modificar a legislação. Conversamos com as autoridades competentes e com os clubes para que isso seja efetivado. E deverá ser, em breve. A ideia é obrigar o clube a ter pelo menos 50% dos direitos federativos dos jogadores. Nosso propósito é reduzir o papel dos empresários. Hoje há muito empresário que tem mais força do que grandes clubes.
R7 - O sr. considera que a Lei Pelé trouxe este prejuízo?
Rebelo - Sim, é necessário criar uma legislação adequada. Tem empresário no Brasil que hoje fatura R$ 600 milhões por ano. E há clube grande que chega à metade disso. Não é mais possível entregar ao mercado este patrimônio brasileiro que é o futebol.
R7 - Como o sr. vê a violência no futebol? Considera positiva esta reunião com organizadas, legitimando estas instituições?
Rebelo - A violência não é a lógica do futebol. Mas o diálogo é importante. Falo isso para eles e sei que não se pode generalizar e relacionar diretamente a violência com as torcidas organizadas. É necessário haver um equilíbrio entre reprimir e coibir. Isso é necessário, pois a violência degrada a instituição torcida, que é feita para vibrar, cantar e ajudar na coreografia linda das arquibancadas. Quando isso não acontece, só reduz o papel da torcida aos olhos da sociedade.
R7 - Como o Brasil, após a derrota na Copa, pode voltar a ser o País do Futebol?
Rebelo - Poucas atividades projetam tanto o Brasil como o futebol. O Brasil aprendeu a descobrir novamente o Brasil através do futebol. Nelson Rodigues dizia algo semelhante. O primeiro negro a se tornar celebridade no país foi por causa do futebol: Friedenreich, no início do século passado. Depois vieram outros. A riqueza futebolística do país é imensa e conhecê-la pode ajudar o futebol brasileiro a continuar em alta. Mas parte da mídia do Sudeste acha que não existe futebol fora do eixo Rio-São Paulo. Desconhece a história do futebol porque desconhece a do Brasil. Muitos só passam sobre Manaus, de avião, quando vão a Miami. E pelo Nordeste, quando vão a Paris.
3480 visitas - Fonte: R7