Muito mais que futebol

26/8/2015 20:35

Muito mais que futebol

Muito mais que futebol

POR DANIELA THONES, do blog “Donas da Bola”



Para quem, como eu, já perdeu as contas de quantas vezes foi ao estádio, poderia ter sido só mais um jogo, mas valeu muito mais do que os três pontos de uma partida pelo Brasileirão.



Foi o primeiro jogo que meu pai assistiu no estádio após ser diagnosticado com Alzheimer.



Depois de muito tempo, o cara que me levou pela primeira vez a um jogo de futebol, que me ensinou todas as quebradas e caminhos até o Beira Rio, quis ir a um jogo. E fomos juntos.



Na verdade ele foi junto comigo. Eu o levei, como se ele fosse meu filho, a quem eu deveria ensinar os todos os caminhos e quebradas.



Levei-o de ônibus – porque o verdadeiro clima pré-jogo não é possível sentir dentro de um táxi.



Fiz questão de ir até o centro só para embarcar em um ônibus da linha FUTEBOL, a clássica linha que leva os torcedores do centro de Porto Alegre até o estádio, seja do Inter ou do Grêmio. A mesma linha que muito usei na infância, levada pela mão do meu pai. No fundo eu queria apenas viver de novo a infância, na época em que meu pai era o meu super-heroi, senhor dos próprios passos e dono da própria memória.



Caminhamos calmamente pelo centro, pegamos o ônibus já cheio de torcedores e fomos para o Beira Rio. Meu pai repetia a todo momento: “Tô por ti, tu que sabe o que fazer”.



Chegando lá, depois de eu comprar o ingresso dele, paramos para tomar aquela cerveja de sempre antes dos jogos.



Deus abençoe os hábitos. Graças a eles, sabemos o que fazer, independente se lembramos ou não.



Encontramos minha melhor amiga e seu filho de dois anos que estava indo pela primeira vez ao Beira Rio, assim como meu pai parecia estar. Pensei nisso na hora em que botei o olho no jovem coloradinho e me questionei como a vida pode ser tão irônica.



Entramos pelo portão 7, pelo qual eu sempre entro há mais de 20 anos quase que semanalmente.



Domingo, jogo, ônibus, cerveja, portão 7. A banalidade dessa sequência a qual eu estou tão acostumada foi quebrada pela expressão no rosto do Seu Macau: ele estava desbravando um mundo totalmente novo. Eu nunca vou esquecer sua cara de guri meio assustado, meio encantado.



Escolher o lugar onde sentamos, esperar à porta do banheiro, chamar o vendedor de cachorro-quente. Coisas que meu pai fez tantas vezes por mim e que neste domingo eu pude retribuir, segurando para não chorar.



Foi mágico e ao mesmo tempo muito triste. É complicado perceber que nossos pais também envelhecem e adoecem. Que nossos pais são seres humanos, também. Mesmo que para nós tenham sido sempre super-heróis sem capa.



Se eu tenho o futebol e o Inter como companheiros de vida, devo isso ao Seu Macau.



Meu pai foi jogador de futebol, atuou profissionalmente e também nos campos da várzea, enquanto o corpo aguentou. É de uma geração em que não era comum o pai trocar fralda ou fazer a janta dos filhos. Ele faz parte da tribo dos que sustentavam a casa e os filhos com tudo de melhor que podiam; aqueles pais que se reservavam para as brincadeiras noturnas e aos finais de semana, deixando as broncas por conta da Dona Tania.



Futebol sempre foi a paixão do meu pai, o seu assunto predileto, o seu programa favorito. E isso foi o que ele compartilhou comigo de sua vida. Isso foi o elo que criamos entre nós e a paixão em comum que passamos a ter. Algo que escolhemos dividir pela vida.



Portanto, eu quero dizer que respeito e muito os que acham cafona usar camisa de time como se fosse uma roupa normal, as mulheres que se irritam quando só passa futebol na TV e até aqueles que não gostam de futebol. Todo mundo tem direito de achar e sentir o que quiser. De criar elos com o que quiser.



Mas eu quero mesmo dividir com vocês o que, para mim, assim como para muitos filhos e filhas da pátria de chuteiras é muito mais do que futebol.



O Inter é, na minha vida e na vida do meu pai, algo mais do que um simples clube. Resume muito do que ele mesmo me ensinou de respeitar o outro, de lutar pelo que acredito, de compartilhar as alegrias e as tristezas, de não desistir nunca, de aproveitar a partida da vida mesmo nas derrotas e, nesse domingo, especialmente, aprendi a viver cada partida de uma vez. Afinal, o passado é lindo, mas o que temos pela frente é o dia de hoje.



Obrigada, pai por me ensinar esse tantão de sentimento pelo futebol. E fica tranquilo: eu vou te apresentar o Beira Rio quantas vezes tu quiser.



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