O bom futebol deve fazer com que o técnico Cuca o mantenha no time para o jogo de ida das quartas de final da Copa do Brasil, contra o Cruzeiro, nesta quarta-feira, às 21h45 (de Brasília), no estádio do Verdão.



Além da surpresa com a forma segura com qual debutou, Gabriel chamou a atenção por uma bonita homenagem à mãe Rosemeire. O garoto faz questão de valorizar tudo que ele fez por ele ao longo da vida. Por ele e pelos irmãos Rafael (gêmeo do volante) e Pedro. Abandonados pelo pai na infância, os três viram a professora e esteticista Rosemeire, de 40 anos, se desdobrar para sustentar as crianças e deixar o sonho de serem jogadores de futebol vivo dentro deles.



– Foi muito difícil para eu colocar eles onde estão agora. Não foi fácil, tive que cuidar deles praticamente sozinha, o pai deles acabou nos abandonando. Por ter problemas na minha gravidez, fui ter eles em São Paulo. Eu já tinha perdido dois filhos. Enquanto eu estava em São Paulo, minha casa, em Cerejeiras, no estado de Rondônia, pegou fogo, não sobrou nada – conta Rosemeire ao GloboEsporte.com.



– Desde muito cedo descobri que eles gostavam muito de bola e coloquei eles na escolinha de futebol aqui em Cerejeiras. Eles foram crescendo e tudo era bola. Eu resolvi levar eles pra São Paulo. Eles ficaram aí até os 14 anos, quando resolveram desistir e começaram a jogar vôlei aqui em Rondônia. Mas eu insisti para que eles não desistissem, porque era o sonho deles. Os três jogavam muito e eu sempre acreditei que o sonho deles iria se realizar.



A insistência de Rosemeire surtiu efeito. Gabriel e Rafael foram jogar no Paraná, onde o agora palmeirense chegou a participar de um jogo como profissional durante a Série B. Após isso, os gêmeos tiveram que se separar. Gabriel foi emprestado para o Palmeiras e Rafael para o Atlético-MG. Pedro, de 20 anos, está à procura de clube em São Paulo.



– O Rafael é muito apegado ao Gabriel. Quando eles se separaram foi uma dor muito grande. O Gabriel sempre foi mais forte. Eu acredito que se tivesse a oportunidade primeiro para o Rafael, ele desistiria e não deixaria o Gabriel. Como o Gabriel era mais forte, ele disse "eu vou". E eu disse para ele não perder a oportunidade e agarrar. Daí ele foi, surgiu essa oportunidade no Palmeiras, ele pegou, agarrou e foi.



E quis o destino que, em um elenco recheado de peças importantes como o Palmeiras, Gabriel Furtado fosse titular contra a Ponte Preta para preencher o espaço deixado por Felipe Melo, Thiago Santos e Arouca, lesionados. Como conta Rosemeire, esse pode ter sido o primeiro passo para que o volante realize um desenho que fez para a mãe quando era menor.



– Um dia, ele fez um desenho para mim. Era uma casa. Ele falou assim: "No dia que eu crescer, eu vou te dar uma casa boa, vou colocar pitbull e carro". Ele foi contando essa história e guardou esse desenho, ele falava que ia dar o melhor para mim. Mas eu falava: "Meu filho, mas quando você crescer e isso tudo acontecer na sua vida, eu vou estar velhinha, não vou nem dar conta de ter um carro mais" e ele falava "não mãe, você vai estar velhinha, mas a gente vai te colocar em um lugar que vai te deixar novinha".

Gabriel Furtado em ação na partida contra a Ponte Preta (Foto: Cesar Greco/Ag Palmeiras)



Professora há 25 anos, com duas pós-graduações no currículo, Rosemeire lembra dos tempos em que andava cerca de 60 quilômetros para ir e voltar da faculdade. Era difícil até para um ex-atleta como ela, corredora de provas como a São Silvestre. Mas tudo valeu a pena, segundo ela, mesmo que Gabriel ainda esteja começando a carreira profissional no Verdão:



– Está um pouco difícil ainda para mim, porque até agora ajudei o Gabriel e o Rafael. E ainda estou bancando o Pedro em São Paulo. Não é fácil. Para bancar o Pedro, praticamente todo dia tenho que mandar 60 reais, porque ele tem que comer, pagar o alojamento e também pagar ônibus todo dia para ir e voltar. Eu ainda não parei, tem muita água para passar por baixo da minha ponte.

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