Estamos no meio de agosto, e o ano já acabou para o Palmeiras. Eliminado no Paulistão, na Copa do Brasil e na Libertadores, o time fatalmente terminará 2017 sem levantar um troféu, já que está a 14 pontos do líder Corinthians, que tem um jogo a menos e não dá mostras nenhuma de que vá despencar. Acontece. Ser campeão não é o usual, é a exceção.



E não se trata aqui de cobrar pelo menos um título de todos os times da Série A, independentemente se o clube é rico ou não. Trata-se de cobrar futebol.



O torcedor palmeirense, a essa altura, já entendeu que a meta é fechar o ano dentro do G-4, classificando-se direto para a fase de grupos da Libertadores. Esse torcedor, porém, que vem cantando, vibrando e enchendo a arena merece ver um time, com triangulações, jogadas de ultrapassagem, mobilidade, compactação, tudo o que o futebol moderno exige.



Falando especificamente do jogo em Volta Redonda, é óbvio que desfalques como Yerry Mina, Moisés e Dudu fazem falta. Mas que garantia o torcedor tem que, com eles, a história seria diferente? Contra o Barcelona de Guayaquil, o time não se achou, passou vários sustos e só achou o gol graças a Moisés, que jogou claramente no sacrifício (cinco meses e meio de recuperação de uma cirurgia de ligamento de joelho é um tempo impressionante).



Daí a necessidade de a cobrança ser direcionada a Cuca, e não a jogadores que eventualmente errem um pênalti ou aleguem cãibra para não bater.



Cuca mexe, mexe, mexe (às vezes mexe até demais) e não consegue dar uma cara para o Palmeiras. Alguns poderão argumentar que seu início no ano passado também foi ruim (teve até derrota por 4 a 1 para o Água Santa). Mas é fato que ele conhecia muito mais do elenco agora, em seu retorno após a demissão de Eduardo Baptista (no dia 4 de maio), do que em 2016, quando construiu, com a temporada em andamento, uma base sólida a ponto de ganhar o Brasileirão com nove pontos de vantagem sobre o segundo colocado.



Sendo assim, as perguntas que surgem:



Por que o time não consegue jogar com a bola nos pés?

Por que as linhas parecem tão distantes umas das outras?

Por que nenhum centroavante consegue render? Aliás, a função do centroavante será sempre agora a de limitar-se a tentar pressionar a zaga adversária?

Quem são os laterais titulares?

Quem são os zagueiros titulares?

Quem são os volantes titulares?

Se não usa Hyoran e Raphael Veiga, quem os indicou ainda no fim do ano passado?



Dá pra contar nos dedos de uma mão os jogadores que, se estiverem bem fisicamente, são titulares absolutos no Palmeiras, incontestáveis: Yerry Mina, Moisés, Dudu e Guerra. Todos os outros jogadores do elenco já passaram pela situação de se sentarem no banco de reservas, mesmo com condições de atuarem por 90 minutos.



Cuca precisa definir se usará os próximos três meses e meio como "pré-temporada para 2018" ou se vai conseguir dar ao palmeirense o que ele quer: um TIME para torcer.



Ele ainda tem a confiança pública da diretoria e da maior parte da imensa torcida palmeirense, a ponto de ter recebido carta branca no caso Felipe Melo. Mas, como o patrocinador bem sabe, não existe crédito infinito, ainda mais para quem está negativado, incapaz de dar um padrão de jogo para um time que não custou barato.



O jogo em Volta Redonda



Cuca armou o time num 4-2-3-1. Até aí, tudo bem. O estranho foram as peças escolhidas: Tchê Tchê aberto na direita, Róger Guedes na esquerda (e embolando demais pelo meio)...

A atuação no primeiro tempo acabou sendo ruim, com o Vasco tendo a melhor chance e o Verdão encaixando um único contra-ataque, criado a partir de um belo lançamento de Guerra para Róger Guedes.



Na volta do intervalo, Cuca sacou Bruno Henrique, recuando Tchê Tchê para a função de volante, deslocando Róger Guedes para a direita e encaixando Keno na esquerda – uma formação, digamos, "menos estranha", mais perto do normal.



O gol surgiu a partir de uma boa inversão de jogo de Tchê Tchê, que acionou Jean na direita. O cruzamento veio na medida para Guerra aparecer como homem-surpresa e cabecear para o gol, aproveitando o espaço criado por Deyverson, que levou com ele a marcação dos zagueiros.



Eram 31 minutos do segundo tempo, e o Verdão teria pouco mais de 15 para segurar a pressão (que nem parecia ser tão grande assim, já que o Vasco vinha de derrotas consecutivas como mandante em Volta Redonda, longe de São Januário). Mas o Palmeiras não conseguiu. Recuou demais, deu espaços para o Vasco e viu o empate aos 42, num lance de escanteio em que Deyverson perdeu a disputa no primeiro pau e Jean viu o colombiano Manga Escobar surgir às suas costas para mandar a bola para dentro, em posição legal.



O próximo jogo será no domingo, em casa, contra uma Chapecoense cansada de uma maratona de viagens em meio ao Brasileirão (neste momento, o time catarinense está no Japão, depois de já ter jogado na Europa). A expectativa, mais uma vez, é de que a torcida lote a arena e empurre o time do começo ao fim. E também se espera que Cuca saiba usar a semana livre de jogos para dar um padrão ao Verdão.



Responda rápido: quando foi a última jogada ensaiada (falta, escanteio, lateral, etc), marca registrada de Cuca em 2016, que você viu no Palmeiras?



Aos que entenderem a cobrança como exagerada, vale lembrar que só se cobra de quem pode entregar, e Cuca e todos os jogadores do atual elenco do Palmeiras já deram mostras de muita qualidade no passado.

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