O primeiro é que arrebentar na base, ainda mais no sub-15, não é garantia alguma de sucesso entre os profissionais. Para ficar em Gabriel Jesus, exemplo raro de bom aproveitamento pelo Palmeiras: aos 14 anos ele ainda jogava peladas no Jardim Peri, zona norte de São Paulo.



O segundo é que o discurso de aproveitar bem a base soa contraditório com a história recente do Palmeiras – especialmente após a chegada de Alexandre Mattos à direção de futebol. Famoso pelos bons contatos e com aval da patrocinadora para gastar sem pudor, o diretor parece mais preocupado em contratar a rodo do que em montar um time. E nessa brincadeira, a base parece não existir. Que o digam Matheus Sales no Bahia, Victor Luis no Botafogo e Lucas Taylor no Paysandu.



Que o digam os jogadores negociados direto da base com o futebol europeu nos últimos tempos: além de Vitinho, que foi emprestado para o time B do Barcelona com cara de que nunca mais vai voltar, saíram o zagueiro Gabriel Estigarribia, para o Alavés, o mesmo clube espanhol que nos brindou com Deyverson, o meia Emerson Muller, para o Lugano, da Suíça, e o atacante Iacovelli, para o Estoril, de Portugal.



Entre os profissionais, Iacovelli jogou 14 minutos contra a Chapecoense, na segunda rodada do Brasileirão; Vitinho atuou 16 minutos em dois jogos no Paulistão: nove contra o Audax, sete contra o Mirassol. Além deles, dos 35 atletas que entraram para jogar pelo Palmeiras em 2017, só mais um saiu da base: o volante Gabriel Furtado, que jogou 45 minutos na vitória contra a Ponte Preta e saiu no intervalo porque levou o cartão amarelo.



Quem acompanhou na base os que saíram dizem que não perdemos grande coisa, mas aí temos então outro problema: não é possível que um jogador chegue ao topo das categorias de base do Palmeiras sem ter condições de jogar pelo time principal do Palmeiras. Aqui não é um tabuleiro de Banco Imobiliário que negocia jogadores como se fossem imóveis: é um dos maiores clubes do Brasil, que briga por títulos todos os anos e precisa ter na base uma central de reposição de elenco, e não um mercadinho para ganhar trocados. Sério que não tinha ninguém no sub-20 melhor que Mayke, Juninho, Bruno Henrique ou Deyverson – igual que fossem, porém mais baratos, só para ficar nos que chegaram no meio do ano?

Fabinho é capitão e dono do meio-campo no sub-15. Terá chance ou será outro João Denoni?



Enquanto isso, a central de boatos já começa a falar em Lucas Lima, Weverton, Gatito e outros nomes que, provavelmente, não devem custar barato. Nem mesmo a tradição de buscar jovens talentos em outros clubes, que já foi a desculpa de nossa “característica” para justificar a falta de talentos próprios, está funcionando. Ao reclamar no Twitter de uma possível vinda de Lucas Lima para um elenco que já tem, para a posição, Moisés, Guerra, Raphael Veiga e Hyoran, num setor em que jogam no máximo dois, a resposta de alguns foi imediata: “Veiga e Hyoran não servem”.



Como pode-se ter tanta certeza se os caras mal foram testados direito? Veiga tem 726 minutos jogados em 19 partidas – em menos que 10 teve a chance de jogar mais de 30 minutos. Hyoran jogou inacreditáveis 77 minutos em 4 partidas, sempre saindo do banco, nunca antes dos 19 minutos do segundo tempo. Foram mais de dois meses e meio sem jogar antes de entrar aos 28 da etapa final contra o São Paulo, sem uma chance sequer nos momentos em que o time se dividia entre três competições e Cuca reclamava da maratona de jogos. Dá mesmo para avaliar alguém com justiça dessa forma?



No ano passado, o time sub-17 foi vice-campeão mundial da categoria, derrotado pelo Real Madrid nos pênaltis. Vitinho estava nesse time e já foi embora. Léo Passos também, e andou treinando com os profissionais, mas ainda sem chances. E desse sub-15 que voa agora, o que será daqui a cinco anos? Que a estrutura de comando e montagem de elenco do Palmeiras até lá melhore e possa dar mais chances a esses moleques.

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