Ao contratar o ex-atacante argentino Ricardo Gareca, de 56 anos, como técnico, o Palmeiras repete uma estratégia que já adotou no passado.
Ele é o vigésimo estrangeiro a dirigir o alviverde e retoma uma tradição que estava afastada desde 1979. O treinador de cabelos longos e grisalhos conversou com o Esporte Espetacular e revelou admirar o trabalho dos técnicos brasileiros, sendo um desafio para ele ser o único gringo a ocupar este posto entre todos os clubes da primeira divisão do país.
Para o argentino, que tem o espanhol como idioma, ele diz que a comunicação em português com os jogadores é muito importante para que suas instruções sejam compreendidas.
- É Importantíssimo. Para mim é importantíssimo falar português para a comunicação, para os jogadores entenderem. É fundamental – afirma ele.
Gareca fará sua estreia pelo Palmeiras depois do fracasso da Seleção e de pedidos para que um estrangeiro assuma o cargo de comandante da amarelinha. Mesmo com essa possibilidade mais longe, o substituto de Gilson Kleina sabe que não pode errar em um país que habitualmente não cultiva a tradição de importar técnicos estrangeiros. O ex-atacante não recua diante deste desafio.
- É um desafio em um país como o Brasil que habitualmente não contrata treinadores estrangeiros. É um desafio isso. Um país muito grande, muito importante. É um desafio – repete o argentino nascido em Tapiales.
Ricardo Gareca Palmeiras (Foto: Cesar Greco/Ag Palmeiras/Divulgação)
Gareca esteve dentro de campo entre 1978 a 1994. Teve passagens marcantes por Boca Juniors, Sarmiento, River Plate, América de Cáli, Vélez Sársfield e Independiente. Jogou também pela seleção argentina e marcou seis gols em 20 partidas com a camisa alviceleste, inclusive um sobre o Brasil. É um treinador que conhece bem o Brasil dos embates pela Libertadores da América, e admira o trabalho dos técnicos brasileiros.
- Estão muito bem aqui no Brasil os treinadores brasileiros, não tem que sair do país. Ganham muito bem, está muito bem o Brasil. Nos últimos anos da Copa Libertadores os times brasileiros foram campeões. Treinadores ganham bem, estão bem, o futebol competitivo. Não tem por que sair, ou por isso tudo não querem sair – afirma ele.
Para o Palmeiras, clube da colônia italiana, ter um gringo sentado no banco não é tão estranho. Dezenove estrangeiros já comandaram o Verdão. Foram três italianos (Caetano de Domenico, Attilio Fresia e Renzo Mangiante); oito uruguaios (Humberto Cabelli, Ventura Cambon, Carlos Viola, Conrado Ross, Félix Magno, Ondino Vieira, Ramón Platero e Segundo Villadoniga); dois húngaros (Eugênio Medagyensy e Emeric Hirchel) e um paraguaio (Fleitas Solich). Gareca é o sexto treinador argentino a dirigir o Verdão, os outros cinco são Filpo Nuñez, que dirigiu o Verdão em três ocasiões (1964 a 65; 1968 a 69; 1978 a 79) e foi o último gringo a sentar no banco palmeirense, além de seus conterrâneos Abel Picabéa, Alfredo González, Armando Renganeschi e Jim López. Ao todo, o Palmeiras já foi comandado 305 vezes por argentinos com um total de 173 vitórias, 65 empates e 67 derrotas.
Os técnicos argentinos estão em alta e comandaram três seleções na Copa (Jose Pekerman, Colômbia; Jorge Sampaoli, Chile; Sabella, Argentina). Como mestres do ofício, Gareca cita os compatriotas Carlos Bilardo e Alfio Basile e o colombiano Gabriel Ochoa Uribe, que foi seu técnico no América de Cáli. Na hora de citar colegas que admira, ele amplia sua lista de admirações e inclui alguns brasileiros.
- Guardiola, Mourinho, Simeone, Martino, Bielsa, Felipão, Ramalho são técnicos importantes no mundo. E Sabella, a nível de seleção. Sabella um pouco maior que eu, mas somos da mesma geração – conta ele.
Gareca em treino do Palmeiras (Foto: Marcos Ribolli)
Sua carreira como técnico começou em 1996 no Talleres de Córdoba. Já comandou Independiente, Colón, Quilmes, Argentinos Juniors, os colombianos América de Cáli, Santa Fé, o peruano Universitário e estava de volta à Argentina onde comandou o Vélez Sarsfield por cinco anos, de 2009 a 2013. Ele chegou ao Palmeiras sem saber o que lhe esperava, mas mostra que está atento ao tamanho da missão dentro do Brasileirão.
- Eu não vi antes os jogos. Teria que ter visto antes quais são os jogos, mas assinei o contrato e depois vi quais são os jogos. Mas tem que jogar com todos e o começo é importante. Tem que jogar bem o Palmeiras. Primeiro tem que jogar bem e tem que ser um time protagonista de acordo com a história do clube. Clube grande tem que ser protagonista. É importante ser protagonista e jogar bem – explica ele.
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