Baiano relembra histórias antes de Palmeiras x Boca

10/4/2018 10:19

Baiano relembra histórias antes de Palmeiras x Boca

Veterano tem passagem pelos dois clubes, que duelam nesta quarta-feira

Baiano relembra histórias antes de Palmeiras x Boca

Baiano, em treino pelo Real DF, seu atual clube (Foto: Real DF/Divulgação)



Antes de qualquer coisa, não há dúvida: apesar de ter jogado pelos dois clubes, Baiano torcerá muito pelo Palmeiras contra o Boca Juniors, no duelo desta quarta-feira, pelo Grupo 8 da Libertadores. Não são poucas as razões para o ex-lateral – ex-lateral, não ex-jogador –, de 38 anos, escolher um lado.







Ainda volante do Real DF (equipe que caiu nas quartas de final do Campeonato Brasiliense) e aspirante a treinador, Baiano riu ao telefone, em conversa com o GloboEsporte.com, relembrando histórias de sua curiosa passagem de sete meses por Buenos Aires, em 2005. De reforço contratado pelo hoje presidente da Argentina a uma rescisão antecipada por episódios de racismo.



Mesmo no início maravilhoso no Boca, com carinho dos torcedores e colegas, o então lateral-direito já lidava com olhares ciumentos (hoje em dia lembrados com bom humor) do atacante Guillermo Barros Schelotto, que nesta quarta-feira estará à beira do campo da arena palmeirense como treinador do Boca.



Mais tarde, quando voltou ao Brasil, ainda em 2005, para vestir novamente a camisa alviverde, Baiano reencontrou nos gramados justamente um dos grandes nomes da história do clube argentino: Tevez. Outro que enfrentará de novo o Palmeiras, mas ainda como jogador. Outro de quem o ex-lateral ri ao falar, mas não por uma boa recordação.



Trote de rádio e contratação

GE - Como aconteceu a procura do Boca?

Baiano - O pessoal do Boca estava no Brasil, tinha acabado de vender o Tevez para o Corinthians. Nosso jogo contra o São Caetano foi numa quarta-feira. Pelo que me falaram depois, eles vieram para ver o Pedrinho e o Marcinho, que estava no São Caetano. Só que eles viram um lateral-direito Baiano, que Deus abençoou muito naquele dia (risos). Eles me ligaram no mesmo dia, se não me engano o jogo era 21h30. Cheguei em casa já era mais de meia-noite. Tocou meu telefone, não tinha identificador. "Hola, soy Mauricio Macri, presidente del Club Atletico Boca Juniors". Eu respondi: "Se você é Mauricio Macri, eu sou Pelé".





Você não acreditou.

É que uns dias antes eu tinha feito gol contra o Paraná, num domingo à tarde, no Palestra também. Daí na segunda-feira me ligaram de uma rádio falando que estavam com repórter em Brasília e que colocariam o Lula na linha. "Baiano, meu companheiro, sei da sua luta, parabéns pelo gol". E eu falando como se fosse o Lula mesmo. "Pô, presidente, que honra, satisfação". Daí foram direto para o Guarujá com o Pelé. "Baiano, você jogou com meu filho, Edinho, no Santos". Era muito igual!



Tocou meu telefone, não tinha identificador. "Hola, soy Mauricio Macri, presidente del Club Atletico Boca Juniors". Eu respondi: "Se você é Mauricio Macri, eu sou Pelé".

O presidente do Brasil e o Rei do futebol (risos).

É, eu estava importante! Liguei pras minhas irmãs, pra minha esposa. Tinha falado com o Lula e o Pelé! Quando cheguei no Palmeiras, o Sergião, o Marcão, Marcinho Guerreiro, Diego Souza, Love... Todos eles me zoaram, deitaram em mim. "Você é muito inocente, caiu na pegadinha dos caras". Logo em seguida, depois do jogo contra o São Caetano, me liga o presidente do Boca? Na verdade, eu nem sabia que Mauricio Macri, hoje presidente da Argentina, era presidente do Boca. A gente não acompanhava muito futebol argentino, uruguaio naquela época. Hoje em dia sim, antigamente não. A não ser quando ia jogar contra na Libertadores. Mas, durante o Brasileiro, nem sabia o que estava acontecendo. Eu não sabia quem era.



Mas e aí?

No outro dia, ele me ligou. Mauricio Macri é um cara fenomenal, poucos seres humanos que conheci têm a educação e a simplicidade dele. Aprendi a admirá-lo e a gostar muito dele pelo tratamento que me deu. Eu o encontrei num hotel em São Paulo e acertamos tudo. Eu estava no final do contrato com o Palmeiras, o Boca me fez uma proposta muito boa. Terminei o campeonato, classificamos o Palmeiras para a Libertadores e fui para o Boca no ano seguinte.



"Café", o novo reforço do Boca

Como foi sua chegada, a apresentação?

Passei por uma série de exames e viajei no dia seguinte para a pré-temporada, para o torneio de verão. Todos me receberam muito bem, os torcedores e os cronistas me apelidaram de Bombom, de Café. Joguei futevôlei com o Palermo, me chamavam de negrito de arena. Com o Palermo, não tinha como perder (risos), ele tinha uma cabeçada que parecia um chute.



O Boca era um timaço.

Sim, tinha ainda Schelotto, Abbondanzieri, Palacio, Gago, o Fabián Vargas, colombiano, o Claudio Morel Rodríguez, paraguaio. Os dois estrangeiros foram os que mais me abraçaram lá. Quando cheguei, tinha um grupo de jogadores que já tinham ganhado tudo no Boca, outros jovens que estavam começando e uma turma com 25, 26 anos. Era mesmo um timaço. E eu cheguei para substituir simplesmente o Ibarra, que já tinha ganhado tudo lá. Mas, fisicamente, eu estava no meu melhor momento e rapidamente virei titular. Fiz uma pré-temporada muito forte. Até o episódio do Grafite*, eu estava no céu.

(*Nota da redação: em 2005, durante um jogo entre São Paulo e Quilmes, o atacante Grafite acusou o zagueiro Desábato de racismo. O argentino recebeu voz de prisão após a partida no Morumbi, mas foi liberado após pagar fiança.)





Baiano foi capa do principal jornal esportivo da Argentina, em 2005 (Foto: Reprodução/Olé)



Você estava com moral.

Tinham me colocado para morar em Puerto Madero (bairro nobre de Buenos Aires), o Macri tinha me disponibilizado um rapaz para me acompanhar aonde eu fosse, para ajudar a procurar creche aos meus filhos. Fui tratado como quem tinha sido contratado para ser titular. Foi após o episódio com o Grafite e o Desábato que jogadores e torcedores adversários começaram a me tratar mal. Eu não tinha tido problema nenhum de racismo em cinco, seis meses. Tinha feito gols na Libertadores, contra Pachuca e Sporting Cristal. Estava vivendo uma lua-de-mel, todos gostavam de mim. Aí tive dificuldade por causa disso, logo depois veio proposta do Palmeiras, e acabei voltando. Pedi para terminar meu contrato sete meses depois. O Boca tinha me dado dinheiro pelo contrato de um ano, tive que devolver parte do dinheiro.



Duras de Schelotto, agora técnico do Boca

Você teve bastante contato com o Schelotto?

Dele eu não era muito amigo (risos), mas tive relação. Ele não foi meu amigo. Às vezes, ficava puto, chateado comigo. Ele falava que eu tinha ido para o Boca para ser "figura" do meio-de-campo para trás, marcador do ponta adversário. Como eu passava na frente dele, ele ficava bravo. "Volta, volta. Você não veio para ser destaque do meio pra frente. Do meio pra frente mando eu".



Como ele era em campo?

Ele era um jogador muito inteligente, na função dele sabia muito bem o que tinha que fazer. Tanto é que foi um grandes ídolos da história do Boca. Dentro de campo, eu o comparo muito ao Muller e ao Valdo, era muito inteligente. Quando a bola chegava nele, parecia que já sabia 10 vezes antes o que iria fazer. Já não tinha a força do começo de carreira, mas experiência. Sabia causar expulsão do marcador, peitava juiz. Era muito copeiro, sabia como irritar o adversário.



E agora como treinador? Tem acompanhado?

Vi alguns jogos do Boca neste ano. Agora, como treinador, ele está muito centrado, muito quieto à beira do campo. Vejo ele com estilo muito parecido ao do Bianchi (Carlos Bianchi). Ele fica com o braço cruzado, sem gesticular tanto no banco. De vez em quando, chama o irmão gêmeo dele (Gustavo Barros Schelotto), que é auxiliar, e eles conversam.



Bolada em Tevez em Dérbi

Em um Palmeiras x Corinthians, logo no seu retorno ao Brasil, você se envolveu em uma confusão com o Tevez. O que houve ali?

Por tudo que vivi na Argentina, depois do episódio do Grafite, era muita coisa acumulada. O Palmeiras estava vencendo, mas, depois que o Corinthians virou, ele (Tevez) olhava e debochava de mim, porque eu entre aspas paguei para sair do Boca. O Tevez é muito torcedor do Boca. Tanto que, na época de Corinthians, quando ele tinha folga ia para Buenos Aires. Acabei perdendo a cabeça, fui expulso e dei uma bolada nele (risos), mas o placar já estava decidido.



É difícil jogar contra ele?

É difícil, porque ele te irrita. Para o time dele, ele faz muito bem. Mas, para o adversário, é irritante demais. Pode ver que, no Brasil, não tinha um adversário que não brigasse com eles. Não foi privilégio meu, muitos zagueiros e laterais perderam a cabeça com ele.



O que acha do Tevez de hoje?

Desde que ele saiu da Inglaterra (em 2013 foi para a Itália), caiu muito de produção. É a sensação que tenho dos jogos que vi dele. Ele não é mais aquele Tevez briguento, provocador que era. Está mais tranquilo, mais paz e amor. Antes, ele ganhava do River Plate e imitava galinha, provocaca. Vi pelo menos três jogos dele neste ano, e ele me parece bem mais paz e amor, muito de boa.



Ele poderia continuar como desfalque nesta quarta, mas viajou.

É um reforço importante pelo que ele representa ao Boca e ao futebol argentino. Uma coisa é jogar e saber que ele não está do outro. Outra coisa é ele estar do outro lado. Ele pode não estar no auge da carreira, mas se tem uma bola no jogo pode fazer a diferença.



Palmeiras atual e Roger Machado

Tem acompanhado os jogos do Palmeiras?

Tenho acompanhado. Tenho gostado muito dos dois zagueiros, mas tem um no momento que não está jogando. O Luan, que veio do Vasco, é um baita de um zagueiro. É que futebol é momento, mas ele é um grande zagueiro. À frente dele, tem o Felipe Melo, que passa muita tranquilidade, chama a responsabilidade. Quando eu olhava para trás e via o Marcão no gol, ficava tranquilo, porque ele chamava a responsabilidade.





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Gosta do trabalho do Roger Machado?

Ele é um cara do bem, vejo pelas entrevistas. Dentro de campo, é o oposto do Schelotto. Vejo que ele interage muito, volta para o banco, conversa com o auxiliar. Nas entrevistas, parece ser muito centrado também, raramente o vejo sair da linha. Vai ser um dos melhores treinadores do Brasil em pouco tempo, pelo jeito dele, pela maneira com que ele trata os jogadores. Parece ser uma pessoa muito boa de conviver.



Como palmeirense e brasileiro, vou torcer muito pelo Palmeiras.

Chegou a jogar contra ele?

No meu primeiro jogo como profissional, em janeiro de 96, um torneio de verão, fui lateral contra o Grêmio do Roger. Tive de marcar o Roger e o Paulo Nunes. Eles deram muito trabalho. Ainda bem que empatamos o jogo por 2 a 2, daí vencemos o Corinthians e fomos campeões (risos).



Vai torcer por quem nesta quarta?

Vou torcer pelo Palmeiras. Hoje sou torcedor de coração mesmo, torço para Palmeiras e Santos. São dois times que amo. O Santos foi onde tudo começou, onde me formei. O Palmeiras, cheguei num momento delicado do clube, tinha acabado de ser rebaixado em 2002. Conseguimos ser campeões, e foi ali onde me projetei. Dali fui para o Boca, para a Rússia. São dois clubes que amo demais. Como palmeirense e brasileiro, vou torcer muito pelo Palmeiras.





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5148 visitas - Fonte: Globo Esporte

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