À procura do ponto de equilíbrio entre investimento e resultado

21/5/2018 13:17

À procura do ponto de equilíbrio entre investimento e resultado

Maurício Galiotte conduz o time de futebol que mais investe em folha salarial e aquisições de atletas do Brasil. Os riscos da bonança começam a ficar evidentes

À procura do ponto de equilíbrio entre investimento e resultado

No dia em que tomou posse do Palmeiras, 20 de dezembro de 2016, Maurício Galiotte recebeu do então presidente Paulo Nobre uma caneta excêntrica. Fabricada no ano do centenário palmeirense, 2014, ela era toda feita de ouro e carregava uma esmeralda, um brilhante e um rubi, pedras preciosas cujas cores lembram a bandeira da Itália, a ascendente palmeirense. Foi com ela que Nobre assinou os grandes contratos de sua gestão, e foi com o gesto da troca que o dirigente quis simbolizar a responsabilidade que passava para as mãos do novo mandatário. “A caneta é saber dizer não, a caneta é saber não ser populista, a caneta é a personalidade do presidente”. Passou-se mais de um ano. E, embora sua personalidade seja mais minimalista do que a do antecessor, Galiotte fechou o primeiro ano de sua administração entre a responsabilidade e a excentricidade.







Percebe-se que o Palmeiras mantém a excentricidade da caneta de ouro de seu presidente quando se comparam os investimentos no futebol. No Brasil, o clube é o que mais gasta na remuneração de seus jogadores. Foram R$ 222 milhões despendidos em 2017, soma de salários e direitos de imagem que só o Flamengo ousa chegar perto. O Palmeiras é, também, o brasileiro que mais investiu na aquisição de novos atletas. Nisso nem o Flamengo se aproxima. É uma espécie de Chelsea brasileiro. E, tal qual o colega britânico que passou a vencer depois de ter injetados os bilhões do russo Roman Abrahamovic, a performance esportiva alviverde melhorou drasticamente. Em 2014, ano da fabricação da tal caneta, os paulistas escaparam do rebaixamento no Brasileiro só na última rodada – e com um empate. Em 2017, a equipe terminou a competição nacional em segundo lugar e sobreviveu até as oitavas de final da Libertadores. A questão, aí, é se Galiotte tem mantido também a responsabilidade.



A resposta, no curto prazo, é sim. Há responsabilidade. O Palmeiras teve na temporada passada mais uma vez um faturamento acima do meio bilhão de reais. Foi o suficiente para que o clube pagasse todos os investimentos que fez, na folha salarial e nos direitos econômicos de novos jogadores, e ainda sobrasse um superávit de R$ 57 milhões. Na prática, esse dinheiro que sobrou foi usado para pagar dívidas e viabilizar novos investimentos no ano seguinte. Ele não ficou parado na conta bancária alviverde. Quando se avalia a origem do dinheiro, também se vê uma distribuição saudável das receitas. A televisão correspondeu por um terço do faturamento. A Crefisa e seu patrocínio, o maior do país, também por apenas um terço do total. A torcida, uma linha que agrega as bilheterias do Allianz Parque e o programa de associação, outro terço. Premiações e transferências de jogadores, inconstantes, ajudam, mas representam pouco.



O dinheiro excedente na operação contribuiu para que mais uma vez o endividamento alviverde fosse reduzido, em 31 de dezembro de 2017, para R$ 284 milhões. A parte “bancária” é um ponto em que o Palmeiras se destaca em relação aos adversários. Os R$ 44 milhões – que já foram quitados no primeiro semestre de 2018 – eram devidos não a bancos, mas ao ex-presidente Paulo Nobre. O Palmeiras não deve nada a instituições financeiras tradicionais com suas altas taxas de juros. A parte fiscal está equacionada e diminui pouco a pouco. O clube está tão confortável em relação ao que deve ao governo, por impostos não pagos em administrações anteriores, que decidiu nem entrar no Profut em 2015, a renegociação mais recente de débitos fiscais de clubes de futebol. Ambas equacionadas pelos próximos anos, as dívidas bancárias e fiscais não são problemas, tanto na análise individual quanto na comparação com outros times.



Outros indicadores econômicos palmeirenses, no entanto, mostram como a responsabilidade de Galiotte e sua caneta de ouro serão testadas nos anos por vir. A estratégia agressiva no mercado do futebol impõe riscos às finanças. Isso fica evidente na análise da dívida do Palmeiras com clubes e empresários de jogadores, decorrente das negociações de atletas profissionais. Esta linha aqui chamada de “outros”, que era de R$ 89 milhões em 2016, subiu para R$ 117 milhões em 2017. Por um motivo lógico. A aquisição de um atleta não é paga à vista. Assim como um cidadão que financia um carro, o valor combinado é amortizado em várias temporadas. Logo, quanto mais o Palmeiras contrata, mais deve a clubes com os quais negociou e a empresários que intermediaram. Aí vira uma questão de planejamento. Ou o clube chega a um ponto de equilíbrio em que reduz o ritmo de contratações e se contenta com seus atletas profissionais e os que puxa das categorias de base, ou periga assumir compromissos arriscados demais para o futuro.







Mais um sinal desse risco de médio prazo está no endividamento trabalhista. Dentro dos R$ 284 milhões devidos no total, R$ 56 milhões correspondem a débitos com jogadores que não receberam e entraram na Justiça para receber o que lhes foi prometido. Só que esse número não esgota esta linha da dívida. A regra contábil manda que o clube insira em seu balanço todas as dívidas de processos cuja perda na Justiça é dada como “provável”. Mas há também processos nos quais o Palmeiras diz que a perda é apenas “possível” – ou seja, ele crê que conseguirá revertê-la. Em 2016, o time tinha deixado R$ 314 milhões fora do seu endividamento trabalhista com a interpretação de dívida “possível”, mas não “provável”. Em 2017, houve um absurdo aumento desta quantia para R$ 503 milhões. Pode ser que o Palmeiras tenha de pagar todo esse dinheiro, pode ser que tenha de pagar apenas parte dele. De qualquer modo, acende-se um sinal de alerta para a administração de Galiotte.



Há alguns agravantes para os riscos assumidos pela administração palmeirense. Não há mais a figura de Paulo Nobre para emprestar dinheiro e cobrir buracos no orçamento. Mesmo em 2016, quando a situação financeira alviverde já estava mais tranquila, o ex-presidente teve que pegar grana do bolso para pagar salários do elenco no momento em que se encrencou com Leila Pereira, dona da patrocinadora Crefisa, que suspendera pagamentos do acordo por divergências com o marketing. Esse é o tipo de problema no fluxo de caixa que fica menos aparente quando se tratam números redondos, obtidos em balanços, mas que existe no cotidiano da administração de um time de futebol. O Palmeiras tinha a segurança de ter um cartola endinheirado e disposto a resolver pendências quando havia imprevistos em seu fluxo de caixa. Sem Paulo Nobre, que só deixou a caneta de ouro, essa segurança sumiu.



Ainda houve uma mudança na relação com a própria Crefisa. Até 2017, Leila punha dinheiro em contratações para o time sem a expectativa de recuperá-lo. Se tal jogador adquirido com grana dela fosse vendido, ela recuperava o investimento. Se não fosse, o azar era só dela. Não havia dívida para o lado do Palmeiras. No fim da temporada, contudo, a banqueira foi acuada pela Receita Federal e foi forçada a rever seu modus operandi. A partir de 2018, com efeito retroativo, o dinheiro emprestado pela Crefisa para contratações precisa ser devolvido com juros. Há dois efeitos decorrentes disso. Aquela dívida bancária, que tinha zerado no momento em que o Palmeiras pagou Paulo Nobre, crescerá no balanço de 2018. O valor vai depender das transferências no decorrer desta temporada e de eventuais pagamentos que o clube possa adiantar. Além disso, outro alicerce alviverde para sanar seu fluxo de caixa diante de tantas contratações foi fragilizado. O clube ainda tem uma patrocinadora fortíssima ao lado, mas o despejo de verba ficou regrado.



Todo esse planejamento financeiro fica ainda mais complicado por se tratar de futebol. Num setor tradicional, a empresa prevê os próximos dez anos com base em expectativas sobre o consumo de seus produtos e sobre a macroeconomia. Num clube, além desses fatores mercadológicos, existe o desempenho esportivo. Enquanto o Palmeiras se mantiver competitivo em todas as competições que participa, algo que conseguiu com as equipes formadas pelo dinheiro de Paulo Nobre e Leila Pereira, a tendência é que a máquina alviverde de fazer dinheiro continue a funcionar. Time bom faz com que a torcida tenha perspectiva de bons jogos e talvez títulos. Isso eleva as receitas com bilheterias, sócio torcedor e televisão – a partir de 2019, audiência e colocação na tabela definirão 60% da verba paga pela TV Globo à primeira divisão. Até o patrocinador se empolga a continuar.



O Palmeiras ainda tem o elenco como via para conseguir dinheiro. Desde que chegou, o diretor de futebol Alexandre Mattos usou sua habilidade para conseguir os melhores atletas – respaldado pelo dinheiro e pelos presidentes, claro. Ao mesmo tempo em que o custo aumentou, cresceu o valor deste time no mercado. O clube era dono de 58% dos direitos econômicos do elenco profissional em 2016, em média, e passou a deter 60% desses direitos em 2017. Se a administração ficar apertada com os gastos que assumiu, como alguns indicadores financeiros sugerem que pode acontecer, existe sempre a possibilidade de vender algum jogador para levantar dinheiro. Nessa hora, Galiotte lembrará das palavras do antecessor no momento em que recebeu dele a caneta de ouro que usa para assinar seus contratos. “A caneta é saber dizer não, a caneta é saber não ser populista, a caneta é a personalidade do presidente”.



*Com infografia de Giovana Tarakdjian.



VEJA TAMBÉM
- ORGULHO MUITO GRANDE! Abel exalta as crias do Verdão após vitória na Libertadores
- Palmeiras é forte candidato ao título do Super Mundial, afirma Neto.
- Veiga reconhece fase ruim e elogia Luís Guilherme pelo gol marcado.





4170 visitas - Fonte: Época.globo.com

Mais notícias do Palmeiras

Notícias de contratações do Palmeiras
Notícias mais lidas

Nenhum comentário. Seja o primeiro a comentar!

Enviar Comentário

Para enviar comentários, você precisa estar cadastrado e logado no nosso site. Para se cadastrar, clique Aqui. Para fazer login, clique Aqui ou .

Últimas notícias

publicidade
publicidade

Brasileiro

Qua - 20:00 - Arena Barueri -
X
Palmeiras
Internacional

Brasileiro

Dom - 18:30 - Manoel Barradas
0 X 1
Vitoria
Palmeiras