Não faltam elogios ao método Scolari de gerir o elenco. Dos mais experientes, como Edu Dracena, até jovens como Artur e Mayke, vários jogadores já aprovaram o jeito de ser do técnico – brincalhão no dia a dia, chegado a dar conselhos e duro na hora da cobrança. Em oito jogos, ele rodou bastante o time titular e conquistou a confiança do elenco. Os resultados positivos só aumentam o clima de "lua de mel". Mas nada disso seria possível se o treinador não encontrasse no Palmeiras um ambiente ideal para que esse estilo funcionasse, tanto por sua identificação histórica com o clube quanto pelo perfil dos jogadores.
"No caso do Felipão, o perfil paternalista encontrou no Palmeiras uma demanda muito receptiva para esse tipo de liderança, para esse tipo de administração de time que o Felipão exerce", disse ao UOL Esporte o doutor João Ricardo Cozac, presidente da Associação Paulista da Psicologia do Esporte. "Existe uma identificação com a instituição Palmeiras por um passado que o time tem com o Felipão. Já é a terceira passagem. Essa identidade é importante, tende a facilitar o elo entre treinador e clube. Somado a isso, claro, um conjunto de características de perfil psicológico da equipe que tendem a ser receptivas a esse tipo de liderança".
A visão do especialista condiz com a sensação passada por quem convive diariamente com o treinador. Jogadores como Diogo Barbosa afirmaram que o clima já era positivo com o antecessor Roger Machado, mas que Felipão, por já ter uma história no Palmeiras, conseguiu implantar suas ideias com mais facilidade e rapidez.
"Possivelmente, o Felipão em alguma outra equipe que não tivesse esse panorama, das necessidades dos atletas, talvez não tivesse o mesmo sucesso. Bem como um outro treinador poderia não exercer uma influência positiva como se espera e se constata com Felipão", avaliou Cozac. "Muito possivelmente, o perfil da seleção dos 7 a 1 não era um perfil cujo formato de liderança paternalista era o mais indicado para aquele momento. Poderia ser uma seleção que exigisse uma liderança mais ativa, mais contundente, talvez, e menos paternal. Isso vai diante da somatória dos perfis de cada atleta".
Um efeito direto do modo de gerir o grupo tem sido a recuperação de jogadores que não vinham bem, um dos pontos positivos desse início de trabalho de Felipão. Os casos mais emblemáticos são os de Dudu, que voltou a ter atuações decisivas e ser aclamado pela torcida, e Deyverson, que chegou a ter sua saída no intervalo de um jogo comemorada como um gol no Allianz Parque, mas hoje é aplaudido pelos palmeirenses.
"A confiança é a maior joia que um jogador pode ter para desempenhar o seu futebol. Há atletas que às vezes não estão bem técnica ou fisicamente, mas estão autoconfiantes e seguros de si, e conseguem superar a ausência de preparação ideal. O caso do Deyverson pode até ser assim, ele começou a sentir uma força de grupo, de equipe, mais efetiva. Em relação ao Dudu, o Felipão sabe conversar com os jogadores. Ele tem muitos recursos nesse contato. Com toda a experiência no futebol e contato com psicólogos do esporte, o Felipão se tornou mais sensível a alguns aspectos individuais dos atletas", disse o psicólogo.
A diretoria do Palmeiras tomou a decisão de trocar o comando técnico por julgar que o time precisava de outra postura para deixar de oscilar tanto na temporada e mesmo durante os jogos. Pelo menos neste início, o impacto de Felipão tem sido imediato. A missão agora, com a equipe viva em três competições, é continuar fazendo o bom ambiente andar lado a lado com os bons resultados.