Com histórico – inclusive de títulos – pelo arquirrival Corinthians, o treinador contratado para substituir o demitido Luiz Felipe Scolari disse compreender a reação dos torcedores, mas prometeu trabalhar para convencê-los do contrário. Pouco depois da apresentação, um grupo protestou na porta da Academia contra o diretor Alexandre Mattos.



– Eu sempre penso que o trabalho é o mais importante do que tudo. Você não tem garantia nenhuma no futebol. A gente criou a ideia de que quem faz mais investimento, vai ser campeão. Se olhar no mundo todo, não temos. Manchester United, Real Madrid, grandes clubes de vez em quando não conseguem ser campeões. Mas penso que o Palmeiras deve estar entre os primeiros. (...) Com pressão ou sem pressão, sendo unanimidade ou tendo algumas constatações. Também não temos garantia quando um técnico chega com unanimidade – disse Mano.



– Se as coisas andarem bem, o torcedor é o primeiro a reconhecer. Da mesma forma que quando não anda tão bem, é o primeiro a nos criticar – completou.



Logo que noticiado o início da negociação da diretoria com Mano Menezes, após a demissão de Felipão, na noite de segunda-feira, a hashtag #ManoNao foi um dos assuntos mais comentados nas redes sociais.



No dia seguinte, ao ser anunciado pelo Palmeiras, o treinador já começou a se aproximar da torcida com declarações ao site do clube e também no Twitter. Valeu-se de trechos de canções palmeirenses e até mesmo da hashtag #DariaMinhaVidaInteiraPraSerCampeão.



– À medida em que as coisas se tornam mais próximas, acontecem com muito mais naturalidade. Muitos profissionais já fizeram esse caminho, é só olhar a história dos clubes (Palmeiras e Corinthians). Quero seguir a história dos profissionais que fizeram essa vinda com sucesso – analisou Mano Menezes.



Nesta quinta-feira, durante sua apresentação oficial, Mano também explicou sua escolha por dirigir o clube mesmo com tanta pressão – e apenas um mês depois de ter deixado o Cruzeiro. Para Mano, o "casamento" com o Palmeiras já era iminente há algum tempo.



– Quando saí do Cruzeiro, minha ideia era não dirigir nenhum clube até o final do ano. Mas existem situações, pelo menos eu encaro dessa maneira, que são especiais. E essa situação minha com o Palmeiras é uma situação especial, porque nós já havíamos conversado e manifestado intenção desse trabalho se realizar dois anos atrás. Por questões de escolha, de entendimento, de carreira, de continuidade no Cruzeiro, entendi que deveria dar continuidade lá – revelou.



– Já existia convicção de que uma dia iríamos trabalhar juntos. Entendi que o momento é esse. Entendo que aqui, com a estrutura que temos, com a capacidade que temos, se abre a possibilidade de um novo ciclo para continuar vencendo. Porque o Palmeiras é o maior vencedor do Brasil de todos os tempos – completou.



Veja outras respostas de Mano Menezes:



Pressão em meio à crise



– Quando recebi o convite, na segunda-feira à noite, certamente levei em consideração todos os aspectos. Você não vive numa bolha, o futebol não vive numa bolha, mas nós não podemos fazer aquilo que não é da nossa alçada fazer. Só podemos modificar essa situação de dentro para fora, dentro do campo. Não precisamos fazer milagre nenhum, porque as condições todas a que me referi anteriormente são propícias para entregar aquilo que o torcedor quer. O objetivo do torcedor é o mesmo que o nosso. Vamos trabalhar para isso, vamos fazer nossa parte. O Palmeiras é muito maior do que todas essas questões segmentadas. Da mesma maneira que não é unanimidade num segmento, você encontra pessoas nas ruas, e eu encontrei muitas, que sentem confiança no trabalho que vai se iniciar, na retomada. Enxergam num profissional como eu essa possibilidade.



Vai repetir filosofia do Corinthians?



– Eu gostaria de lembrar as pessoas que estamos em 2019. Certas discussões, questões, fazem parte de um tempo um pouquinho mais para trás. O mundo está mais globalizado, todos nós notamos. (...) Já vi muita gente se referindo a isso de forma positiva. Você constrói uma filosofia. Eu respeito, é o mais adequado respeitar a filosofia de cada clube. Procuro fazer, nem sempre consigo. Mas o mesmo técnico, durante sua trajetória, muda de estilo várias vezes. Na minha trajetória, tem muitas maneiras de montar a equipe.



Estilo de jogo



– Eu dirigi a seleção brasileira com Ramires e Paulinho. Vamos construir um trabalho juntos. Não tenho hábito de chegar e dizer qual maneira vai se jogar. Vamos fazer de maneira mais próxima, internamente. O Palmeiras tem um elenco com características de jogadores bem definidas para armar uma maneira muito legal de jogar. Tenho certeza de que precisa, pela ordem, produzir resultados, e a partir do resultado, que gera confiança, oferecer algo que seja mais bonito de se ver, que o torcedor gosta, que ao longo da história tem grandes referências. As próprias Academias tiveram características um pouco diferentes. A primeira pelo Filpo (Nuñez), a segunda pelo (Oswaldo) Brandão. Esse é objetivo de cada treinador, de cada trabalho.



Novo Felipão?



– Seria bem fácil para mim dizer que jogo totalmente diferente do Felipão, mas acho que seria desrespeito meu com o Felipão, e eu não faria isso. Ele escolheu uma maneira de jogar, vinha dando certo até a parada da Copa América, mas o futebol meio que inexplicavelmente não permite a sequência. Vamos olhar para frente, e vocês logo vão ver como vão escolher a maneira de a equipe jogar. Depois dessa escolha, e espero que tenha a felicidade de fazê-la rápido, você apresenta evoluções.



Utilização da base



– Conheço o Wesley Carvalho desde 2000, quando eu fui técnico do sub-17 do Internacional, e ele do sub-17 do Vitória. Nós nos enfrentamos em dois torneios, depois ficamos amigos, nos encontramos outras vezes. É um grande profissional. A proximidade que temos certamente vai melhorar essa relação, que precisa haver, cada vez mais, entre o trabalho do profissional e o que se constrói na base.



– O que eu penso sobre aproveitamento de jogadores da base, podem olhar no passado, desde o Grêmio: você precisa abrir o espaço para o aproveitamento de jogadores da base. Subir jogadores e colocar aí é relativamente fácil, mas à medida em que tem jogadores qualificados, com trajetória segura, você não vai ter aproveitamento de jogador mais jovem, porque jogador mais jovem traz oscilação maior, que ninguém quer. Tem que ter um pouco mais de paciência.



Sequência no Brasileirão



– No Campeonato Brasileiro, todo mundo pode ganhar de todo mundo, vocês sabem disso. Sempre cito um exemplo relativamente recente. O América-MG estava rebaixado, e os quatro líderes foram jogar em Minas Gerais, e ele ganhou dos quatro. Você não tem facilidade nunca, vai jogar, tem que respeitar, se impor. Se você tem mais qualidade, tem que ganhar, isso faz a diferença na tabela de classificação, mas não porque serão mais fáceis ou não, mas porque temos que voltar a ganhar jogos como esse, porque esse aproveitamento é que faz a diferença.







Desafio ou oportunidade?



– Uma oportunidade, uma grande oportunidade. Elas aparecem, e você tem que decidir se as quer. Quando as quer, tem que se preparar. Rezar, a maioria reza, mas não basta. Depois que decidi vir aqui, tenho que saber o que isso significa. Isso exige trabalho integral, durante todas as horas do dia. Não basta só aceitar. Todos querem que isso funcione. Penso isso em relação aos jogadores, à maneira de jogar, todos são boas para mim.



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