Dorival dispara: 'Projeto no futebol brasileiro é a maior utopia do mundo'

11/10/2014 08:03

Dorival dispara: 'Projeto no futebol brasileiro é a maior utopia do mundo'

Responsável pela dura missão de reerguer o Palmeiras no Brasileirão, treinador estende discussão sobre as falhas no futebol brasileiro e cobra mudanças

Dorival dispara: 'Projeto no futebol brasileiro é a maior utopia do mundo'

Dorival Júnior tem contrato válido com o Palmeiras até junho de 2015 (Foto: Reginaldo Castro/ LANCE!Press)



Elenco inchado, cobranças da torcida, permanência de Wesley, rendimento de Valdivia, zona de rebaixamento, confronto deste sábado com o Grêmio, às 21h, no Pacaembu... As preocupações de Dorival Júnior no Palmeiras são diversas. Mas o treinador pensa muito além do próprio clube.



A pouco mais de um mês no comando do Verdão, o comandante alviverde segue buscando o equilíbrio ideal do time. Um equilíbrio que, para ele, só costuma ser encontrado com trabalho, estrutura, compreensão profissional e, acima de tudo, tempo.



Vice-presidente da Federação Brasileira dos Treinadores, Dorival, que enfrenta um sério problema de saúde na família e tem contrato até junho de 2015, afirma que o futebol é envolto por críticas sem fundamento e está na mesmice há anos. Revoltado, ele clama, em entrevista exclusiva ao L!Net, por mudanças imediatas.



Como você avalia o primeiro mês no comando do Palmeiras?

Acredito que ainda seja um momento de conhecimento da equipe. É natural que você leve um tempo para detectar os problemas, isso toma um tempo grande.

O maior problema de um treinador é a chegada no meio de uma competição e, em seguida, tentar detectar o que está acontecendo. Isso daí toma tempo. Posterior a isso, você precisa pegar o conhecimento rápido das características do elenco. Só aí você consegue fazer uma montagem ideal. Ainda estamos buscando o equilíbrio.



Você ficou oito meses parado antes de fechar com o Palmeiras. Por quê?

Tive um problema muito sério familiar, mas ainda assim eu fiquei atualizado, observei jogos, fiz cursos e conversei com muita gente. Foram oito meses complicados. Esse problema familiar foi muito difícil para mim, não tinha como aceitar convites. Minha esposa teve uma primeira operação, depois uma segunda operação... Ela está fazendo uma quarta operação agora na segunda-feira. A situação foi e continua bastante delicada. Mas a situação estava mais calma quando assumi o Palmeiras, foi um momento oportuno para voltar a trabalhar.



Sua esposa já está melhor?

Ainda não. Ela está tendo alguns problemas pós-parto, foram duas operações, que, na verdade, foram dez operações. Dez operações dentro dessas duas primeiras. Ela fez a 11 operação na última segunda e, infelizmente, precisará fazer outra agora. Preciso aprender a lidar e tentar seguir da melhor forma.



Você ouviu muitas críticas. Como lidou com isso?

Às vezes eu ouço e leio muitas coisas, e pondero muitas coisas também. Sou muito frio. Tive dez campeonatos em nove anos como profissional e dois vice-campeonatos que soaram para mim como conquistas de títulos, pela forma como foram alcançados. O trabalho no modo geral não é analisado. É muito complicado você pegar um time no meio do caminho, você não consegue montar um elenco, você treina pouco... Fale-se muito de qualidade, mas abre-se mão da qualidade. O treinador é responsabilizado por tudo que acontece dentro do clube. E nem sempre a sua responsabilidade em momentos oportunos é respeitada. Contratações, por exemplo. Hoje, quem contrata, é um grupo de pessoas que está naquele momento próximo ao presidente, e nem sempre é o jogador que você, treinador, quer. Mas como você tem necessidade, aceita. Você não sabe a causa real, o motivo real da contratação. De repente você dá três nomes, eles vão atrás de três nomes e não acontece a negociação. Aí, dois anos depois que você saiu, você constata que o jogador nem foi procurado naquela ocasião pelo responsável pelo futebol. Esse é o retrato do futebol brasileiro.



O treinador é sempre o culpado?

Isso vem acontecendo há muitos anos no Brasil, por isso que nós vivemos esse momento tão ruim. Mas ninguém se dá conta, ninguém bate o pé, ninguém põe um ponto final e essa situação vai continuar. E, enquanto isso, todos os treinadores seguirão sendo contestados. Virou uma situação muito cômoda culpar o treinador. A culpa já está direcionada, já estamos ali para sermos malhados. Nós estamos revelando menos, estamos antecipando a carreira de uma garotada pela ganância de clubes e de empresários, e estamos criando um vácuo muito grande.



Hoje, no Palmeiras, você tem apostado em jovens da base. João Pedro, Nathan...

Isso sempre foi preferencial para mim. O garoto da base precisa ter oportunidade sempre. Fizemos isso no Atlético-MG, no Vasco, no Flamengo, no Coritiba, no Santos, no Inter e no Flamengo. Essa é uma obrigação do treinador. Você precisa dar chances para os jovens, o clube vive disso, de atletas da base. Não é certo você ter que a todo ano contratar um elenco e manter uma equipe de aluguel, digo “equipe de aluguel” porque são jogadores emprestados e que depois vão embora. Eu tento deixar sempre uma estrutura de equipe montada com jogadores da base, mesmo que eu venha a sair logo depois.



Esse é um grande problema também? Montar um time e depois não colher os frutos...

A figura do treinador é muito instável. O treinador precisa de um resultado imediato para que ele possa dar sequência ao trabalho. Você não é julgado pelo que faz, mas, sim, pelos resultados. No Brasil, um treinador estrutura, o segundo treinador corrige e um terceiro chega para usufruir de tudo isso. Por isso, quando ouço falar de projeto, peço para parar, isso aí não existe. Projeto no futebol brasileiro é a maior utopia do mundo. Tudo precisa conspirar a seu favor para que você possa se estabelecer e ter o contrato respeitado. Do contrário, você vai fazer parte dessa ciranda do futebol brasileiro. Essa é a falta de cultura do nosso futebol. Os treinadores que vão na contramão disso fazem grandes trabalhos e têm belos resultados.



O que você, como treinador, tem feito para mudar isso?

Ano passado implantamos a Federação Brasileira dos Treinadores de Futebol. Temos apoio de algumas pessoas ligadas ao futebol e interessadas em mudanças. Começamos a ter mais treinadores, que viram que o projeto não é só uma ilusão. É uma situação concreta. Hoje, a Federação se mantém com vida própria e estamos finalizando uma série de situações a serem apresentadas ao congresso nacional para mudar as leis que estão matando o futebol brasileiro. Muito se fala dos treinadores das Séries A e B, mas a grande maioria dos treinadores que está dirigindo um clube do interior do país não tem contrato e não vivem uma situação de respeito profissional. Vocês (jornalistas), na área de vocês, poderiam chegar com uma mentalidade nova também, com um leque de opções (de mudanças). As análises às vezes são muito fúteis.



Acredita que a imprensa tem culpa na desorganização do futebol brasileiro?

Ninguém suporta mais a cultura da crítica pela crítica, como a imprensa de um modo geral se comporta com o futebol. A imprensa não se prepara, não conhece e quer falar com toda a propriedade do mundo a respeito de um fato que tem conceitos próprios, e que às vezes nem nós, no meio há 50 anos, conseguimos definir o que é, porque os problemas são diferentes de um clube para o outro, embora sejam colocados na mesma caixa. Todos temos por obrigação nos prepararmos um pouco mais, para que possamos mudar o futebol, com cada um assumindo a sua parcela de responsabilidade. Assim como nós, treinadores, temos uma grande parcela de culpa, todos os segmentos tem de dar a mão a palmatória.



Mas não tem muito cacique para pouco índio no futebol do Brasil?

É só a gente pensar depois da Copa do Mundo, ouvimos muitas críticas, entendemos, e temos que absorver, analisar, ver o que é bom e o que não é. Mas e as soluções? Quem apresentou? Quem mostrou? Estamos acostumados a apontar o dedo, apontar para quem esteja na nossa frente, mas jamais trazer o dedo em nossa direção. As pessoas pensam: “A culpa é do outro, minha não. Sou parte do segmento, mas não sou culpado”. Que situação é essa? Que profissional é você? É isto que eu questiono. Temos esta obrigação, e poucos fazem. No futebol muitos apagam as luzes, e poucos acendem.



Como você, Dorival Júnior, se enxerga como treinador?

Somos aprendizes sempre. Não abro mão da parte tática, jamais, porque acho que isto é mais do que necessário. Mas hoje em dia você tem que ter um lado psicológico-emocional equilibrado e conhecimento para empregar algumas coisas em alguns momentos. Tem que ter uma convivência pacífica e ao mesmo tempo de cobranças com os atletas, para que o rendimento sempre seja alcançado. O treinador é um gerenciador de problemas e de pessoas. Aprendi que o problema não pode ter mais de 24 horas.



Está conseguindo gerenciar esses problemas no Palmeiras?

Trabalho com 45 jogadores, você acha que não tenho 35 descontentes? Tenho dez que estão satisfeitos, porque no momento são titulares. Mas tenho que manter 35 motivados e preparados. Vou conseguir isto? Não sei. Às vezes vou conseguir com dez, com 15, com 20, com 30. Com 35? Jamais. Então este é o maior desafio do profissional brasileiro, e que você nem sempre tem tempo de fazer. Por quê? Porque você tem um grande resultado hoje, mas, no dia seguinte, você tem ali dez jogadores contentes, mas tem 30 que estão querendo uma oportunidade, querendo ter o trabalho reconhecido. Imagina como vai estar a cabeça deste profissional, vendo a equipe vivendo um momento de sucesso e não podendo ser útil. Isto é um complicador para nós. O ideal é que no futebol você tivesse 22 jogadores, e os 22 pudessem entrar como no vôlei, basquete, que pode tirar em cinco minutos, e daqui a pouco em 20 ou 30, voltar.







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