[OFF] A bolha especulativa e a ciranda financeira auto-destrutiva dos clubes brasileiros

4/11/2014 14:19

[OFF] A bolha especulativa e a ciranda financeira auto-destrutiva dos clubes brasileiros

[OFF] A bolha especulativa e a ciranda financeira auto-destrutiva dos clubes brasileiros

Futebol brasileiro, inserido numa bolha irreal, começa apresentar os primeiros sinais de colapso



Por Ricardo Flaitt (Alemão)



Para o torcedor comum, o futebol é um mundo à parte da sociedade. A grande massa, que labuta diariamente, que move essa grande engrenagem chamada Brasil, absorve-o como uma pílula, ingerida em média duas vezes na semana, para fazer suportar os descaminhos deste país com tantas desigualdades.



Aos mais esclarecidos, resume-se praticamente ao sarro com os amigos do trabalho, parentes e à diversão nos estádios como momentos de lazer e entretenimento.



Mas a realidade é que o futebol faz parte da máquina do mundo. É parte do sistema, tendo como reflexo as regulações do mercado, a conjuntura econômica do país, dentre outras conexões do Capital.



O que se vê, atualmente, são os clubes brasileiros, em sua imensa maioria, afundando-se em dívidas, fazendo empréstimos em bancos, antecipando cotas de televisão para cobrir rombos no orçamento, a ponto de estarmos começando a presenciar casos até mais graves, como o do Botafogo, que um dia ostentou um Garrincha para o mundo e agora encontra-se em verdadeira bancarrota.



Também a Portuguesa, que disputou a segundona do Paulistão, foi recém lançada para a 3ª divisão do Campeonato Brasileiro e vive situações insustentáveis a ponto dos funcionários do clube promoverem greve por falta do pagamento de salários.



Ressalvo que estou me alicerçando em alguns clubes de primeira divisão do futebol brasileiro. Os times do interior, então, sofrem ainda mais com esse novo futebol inflacionado e surreal. Mas nos atentemos aos “grandes”.



O mundo financeiro entrou em colapso em 2008 com a crise nos Estados Unidos, quando o sistema de crédito voltado para o mercado imobiliário entrou num espiral, criando uma verdadeira bolha, em que os bancos chegaram a dever 13 vezes o seu patrimônio líquido e rombo de 15 trilhões, que precisou do aporte financeiro de todo o mundo. O futebol brasileiro, ainda que se diferencie nas cifras, quanto ao modus operandi, caminha na mesma direção, com ares da quebra da Bolsa de Nova Iorque, em 1929, a quebra recente refletiu nos mercados, agora globalizados, em grande parte do mundo.



A crise, de certa forma, foi absorvida no Brasil. Se não absorvida, sua reverberação vem chegando tardia e gradativamente. Porém, ainda que os países desdobravam-se para manter a estabilidade de suas economias, no Brasil vivia-se sob a ilusão de ser o país em franco desenvolvimento.



Trazendo para o campo do futebol, os clubes de futebol também embarcaram nesta ideia de que o Brasil, país-sede da Copa do Mundo, das Olimpíadas, do desenvolvimento, da melhoria tinha galgado alguns patamares. Afinal, estamos dentre as principais economias do mundo, ainda que milhões enfrentem as dificuldades mais perversas do sistema (mas isso é assunto para outro texto).



Surfando a onda do “desenvolvimento”, mesmo após a quebra do sistema hipotecário americano, os clubes passaram a cometer verdadeiras loucuras em seus cofres. Dentre tantas – que considero alucinações – destaco duas marcantes:



As contratações de Alexandre Pato, em 2013, pelo Corinthians, por 40,5 milhões de reais, tirando-o do gigante europeu Milan; e a de Leandro Damião, que saiu do Internacional com destino ao Santos por 42 milhões de reais, conforme índice do euro à época, quebraram os paradigmas do mercado da bola no Brasil.



Além dos valores pagos pelos direitos do atleta, há que considerar os investimentos em salários, que passaram a ter como parâmetros os euros dos clubes na Europa. Impensáveis para a realidade da economia do futebol, inserido na estrutura macroeconômica brasileira.



Umas das diferenças é que os clubes brasileiros não contam com os bilhões de euros dos mecenas mundiais, que compram clubes, dentre outras coisas, como se uma criança comprando sua primeira bicicleta.



Também não desfrutam de patrocinadores milionários em suas camisas; não possuem um forte sistema de associados, que geram fortes receitas aos cofres, nem de torcedores com potencial para que se explore em sua plenitude o marketing esportivo, como no caso dos europeus, que pagam seus jogadores praticamente com a venda de camisas de um novo craque contratado.



O Corinthians, a exemplo, possui uma folha de pagamento de 10 milhões de reais mensais e até este momento já acumulou um déficit de 40 milhões na temporada. A previsão orçamentária para 2015 está em colapso, pois ainda há que se considerar que o clube terá de começar a pagar prestações que beiram R$ 100 milhões de reais do estádio adquirido/construído.



Fatos que nos levam a crer que o contestado Mano Menezes também pode estar sendo vítima de uma “fritura amiga” nesta nova ordem de readequação financeira, onde não se cabe mais pagar um salário de R$ 630 mil por mês.



O São Paulo, assim como muitos outros – para não parecer que estou tentando colocar crise em outros clubes que não sejam do meu coração -, também possui uma folha de pagamento muito alta e não consegue fechar um patrocínio máster para a sua camisa. Renda que, em geral, cobria os gastos com salários do time.



As dificuldades em fechar patrocínios são reflexos da crise que assola, de forma velada, o país. Há dificuldade para firmar patrocínios com valores abaixo das cifras de anos atrás.



Falando ainda do São Paulo, mas como parte de um todo, indo do micro para a situação macro, a empresa distribuidora de uniformes e o patrocinador máster negociaram a rescisão do contrato por não estarem suportando tamanha pressão dos valores em relação à situação do mercado.



Temerosos (alguns até mesmo assustados diante dos déficits), muitos clubes estão parando gradativamente de ficar olhando para o céu e estão começando a colocar novamente os pés nos chão. Não há outro caminho a ser feito.



Palmeiras e Vasco, dentre tantos outros, já estão sendo vitimados, em estágio avançado, por esta bolha especulativa no mercado da bola.



Desta forma, ou se começa agora se reorganizarem, considerando o contexto da situação econômica do país, ou muitos terminarão como o glorioso Botafogo do Rio de Janeiro, que depende de uma intervenção governamental, até mesmo divina, para não ver fechar as portas de um dos clubes mais tradicionais e com um das histórias mais ricas do futebol mundial. A Portuguesa, com 94 anos de história, já se encontra sendo velada no Canindé.



Ficam, dentre tantas outras, as seguintes perguntas:



Como ficarão os clubes, tão dependentes de cotas televisivas, num tempo em que os ibopes das transmissões de futebol caem vertiginosamente e os grupos estão chamando os clubes para reverem os valores?



Até quando o mercado da bola – inserido no mercado do Brasil pós-período eleitoral – vai suportar essa falsa realidade que criamos para nós mesmos?



Em tempos de 7 a 1, muito mais do que se promoverem discussões acerca da formação de craques, construção de centros de treinamentos, ainda que não se fale abertamente sobre isso, é preciso também pautar os modelos de gestões dos clubes, que se afundam a cada ano na areia movediça de um mercado capitalista, que engole tudo o que nele cai.







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