Durante menos de dois anos de gestão, Paulo Nobre engoliu xingamentos da torcida, mas sempre se manteve convicto de que sua política foi a ideal para fazer o Palmeiras perenemente competitivo.
Neste sábado, o presidente disputa a reeleição na primeira chance dos sócios do clube de votar e, embora o time esteja à beira da zona de rebaixamento do Campeonato Brasileiro, conta com a chance de ficar no cargo para colher os primeiros frutos do que plantou.
O mandatário conversou com a Gazeta Esportiva e respondeu as mesmas 19 perguntas feitas a Wlademir Pescarmona, candidato da oposição que terá sua entrevista exclusiva publicada nesta sexta-feira.
Nobre admitiu equívocos, mas fez questão de não dar mais detalhes sobre nenhuma avaliação, mostrando apenas ter a certeza de que adotou o melhor caminho para o clube.
O presidente encerra o mandato com mais participação no futebol do que imaginava, já que não encontrou o manager que desejava para o departamento, e abrindo mão da promessa que fez de não colocar dinheiro seu no Verdão.
Caso reeleito, pretende se dedicar mais ao clube social, na esperança, também, de que os lucros de sua gestão apareçam na forma de parceiros que ajudem o Palmeiras a sobreviver sem as necessidades que lhe fizeram repassar cerca de R$ 150 milhões desde que assumiu o cargo, em janeiro de 2013.
Gazeta Esportiva: Por que o sócio deve votar no senhor para presidir o Palmeiras?
Paulo Nobre: O sócio não deve votar necessariamente em um amigo, mas em alguém que pensa como ele para ser bem representado. Precisa avaliar bem a vida política dos candidatos, a conduta que esses dois grupos tiveram quando estiveram à frente do clube e ver quem melhor pode representar o Palmeiras nos próximos dois anos. Estou muito confiante, porque vejo compreensão do sócio com muita coisa que aconteceu ou deixou de acontecer e o desagradou. É muito gratificante chegar ao clube e ter o carinho que demonstram, sempre com muita cobrança, e a confiança em mais dois anos da nossa gestão.
Gazeta Esportiva: Como o senhor avalia os principais aliados e as propostas do seu oponente?
Paulo Nobre: Cada grupo tem que ser respeitado dentro de sua filosofia de trabalho. Não concordo com as propostas e a com a maneira que a oposição enxerga a administração do clube, mas respeito. É muito claro para os meus aliados como penso e a conduta que tivemos à frente do clube nos últimos quase dois anos. Os padrões éticos e as maneiras de conduzir o clube, se comportar e enxergar uma administração serão os mesmos. Precisamos entender o que eventualmente não deu certo e ter a humildade de corrigir para buscar uma administração ainda melhor.
Gazeta Esportiva: Qual é a sua avaliação sobre a temporada do centenário?
Paulo Nobre: Como palmeirenses fanáticos, gostaríamos de ter uma festa de centenário maravilhosa, talvez muito mais pomposa do que conseguimos. Mas tudo foi feito com muito carinho, visando mostrar a grandeza do Palmeiras, que todos os times fazem parte da história e que o Palmeiras se confunde com essa história. O Palmeiras é grande não por causa de um ano, mas por causa de toda uma história escrita em 100 anos. Com certeza o torcedor sabe entender que, sem dinheiro, não adianta fazer milagres. Na medida do possível, fizemos o melhor que pudemos. Devemos lembrar que sempre vai ter um amanhã. Pode ser que não com nossa gestão, mas o Palmeiras continua e você tem que pensar no clube como um todo, e não só no período da sua gestão.
Gazeta Esportiva: Qual é a principal diferença das eleições diretas?
Paulo Nobre: Qualquer um que tiver certeza de como será a primeira eleição direta está praticando um belo exercício de chute. Pouco mais de 10 mil pessoas têm direito a voto, mas, para conselheiro, costumam votar pouco menos de 5 mil pessoas. Será que agora, por ser a primeira eleição direta para presidente, vai ter mais aceitação do eleitor e esse número vai aumentar? E o conselheiro, que costuma pegar o seu eleitor em casa pelo pescoço e levá-lo até a boca da urna, terá o mesmo empenho na eleição presidencial? É muito difícil fazer qualquer previsão.
Gazeta Esportiva: Como melhorar o programa de sócio-torcedor?
Paulo Nobre: O Avanti representa praticamente 5% das nossas receitas. Acredito piamente que, na hora em que o palmeirense realmente abraçar o programa, teremos condições de alcançar um dos programas com maior número de adeptos do Brasil, se não o maior, e pode se tornar a principal fonte de receita, até maior que a de televisão. Precisamos quebrar certas barreiras e o torcedor entender que ser sócio-torcedor não é só ter descontos e facilidades na compra de ingressos. Precisam entrar no futebolmelhor.com.br e ver os descontos que a família inteira pode ter. Você acaba ajudando o seu bolso e o seu clube de coração. Quando o palmeirense entender isso, o número de sócios vai triplicar.
Presidente se sente querido pelos sócios e confia que terá a chance de mais dois anos de mandato
Gazeta Esportiva: Aprova dar voto ao sócio-torcedor nas eleições?
Paulo Nobre: Sempre defendi e super mantenho essa ideia, mas é necessário ser justo com o sócio do clube, porque há um número muito maior de sócios-torcedores com o futebol como único objetivo. Nos últimos anos, o clube foi um grande canteiro de obras, com algumas ilhas de convivência social. O que almejamos é que o clube social do Palmeiras volte a ser como sempre foi. No sócio-torcedor, você precisa ver que categorias teriam direito a votar para presidente e fazer uma equiparação com o sócio do clube social, que paga uma mensalidade mais elevada. Isso precisa ser amplamente debatido. Mas vejo com muito bons olhos que os sócios do clube social e os sócios-torcedores possam, de maneira ordenada, eleger o presidente.
Gazeta Esportiva: O que o senhor pensa sobre as condições financeiras do clube e do acordo para lhe pagar as dívidas?
Paulo Nobre: As dívidas foram feitas no passado. O dinheiro que era da minha gestão foi adiantado e gasto por gestões anteriores. Não estou aqui julgando as gestões anteriores, estou apenas dizendo o que aconteceu. O fato é que assumi em 2013 com 25% da receita para trabalhar e 2014 com 70%. Se você juntar 2013 e 2014, não tive dinheiro para uma gestão. Todo o dinheiro que foi aportado não é uma dívida nova, é para cobrir uma dívida já feita. Ou seja, foi a troca de uma dívida de curtíssimo prazo para uma de longuíssimo prazo, com uma correção que não existe no mercado financeiro, com 100% do CDI e um limitador de 10% das receitas do clube nos próximos anos. Qual é a magia disso? Nenhum gestor futuro vai pegar um problema como o nosso. O máximo que vai ter é 90% das receitas para poder gerir o clube. Esse é o grande segredo de tudo isso.
Gazeta Esportiva: Há alternativa para não deixar a roda parar sem ser com dinheiro de dirigente?
Paulo Nobre: Para não aportar mais dinheiro, é necessário aumentar as receitas. Acredito que o Palmeiras, sem promover nenhum grande investimento – obras no clube social, na Academia de Futebol, fazer investimentos próprios para comprar jogadores –, consegue andar com as próprias pernas. Mas você precisa reforçar o time de futebol. O que faz? Procura investidores, parcerias. Precisa fazer investimentos no clube social? Procura parcerias que possam minimizar o custo para não ficar tudo nas costas do sócio. Precisa ter criatividade e jogo de cintura nesse mercado retraído para aumentar as receitas do clube.
Dirigente admite que queria um centenário mais pomposo, mas diz ter feito o possível sem esquecer o "amanhã"
Gazeta Esportiva: Qual é a sua avaliação sobre o trabalho de Dorival Júnior até o momento?
Paulo Nobre: É uma pessoa séria, um profissional com muito caráter. Acho fantástica a postura dele de deixar o cargo à disposição em dezembro, mas tem contrato até o final do Campeonato Paulista. Será avaliado internamente como todos os profissionais, sem exceção. Todos os jogadores, profissionais contratados e diretores estatuários convidados para trabalhar na minha gestão serão avaliados para montar o quadro para 2015-2016.
Gazeta Esportiva: Quais são as suas alternativas para montar um time competitivo?
Paulo Nobre: Primeiro, ganhar credibilidade no mercado. No começo de 2013, não dependia de quanto se pagava de salário, o jogador simplesmente não queria jogar no Palmeiras. No começo de 2014, conseguimos trazer até sem custo algumas revelações da Série A do ano anterior. Ou seja, ganhamos credibilidade no mercado, e isso vai ajudar muito.
Gazeta Esportiva: Como o senhor avalia o elenco atual?
Paulo Nobre: Avaliamos tudo internamente para ver quem continua e quem não continua. A ideia é trabalhar com um elenco um pouco mais enxuto. Dispensando alguns jogadores, vamos usar a diferença de salário para contratar menos atletas e talvez conseguir qualificar ainda mais esse elenco para poder disputar os títulos do ano que vem.
Gazeta Esportiva: Qual é a sua estratégia para atrair investidores em busca de reforços para o Palmeiras?
Paulo Nobre: Em quase dois anos, essa gestão deu uma nova cara ao Palmeiras no mercado e tenho certeza de que o clube é uma grande vitrine hoje. É só ver os jogadores que passaram pelo Palmeiras e chegaram à Seleção Brasileira e às seleções de seus países. Essa visão que o mercado tem do Palmeiras ajuda muito a trazer novos investidores e jogadores.
Gazeta Esportiva: O que o senhor pensa sobre o Valdivia? É melhor recuperar o dinheiro investido nele ou renovar?
Paulo Nobre: Esse Valdivia, com essas características que demonstrou em 2013 e 2014, poderia até encerrar a carreira no Palmeiras. Gostaria que ele renovasse por mais uma ou duas temporadas. Precisamos entender que um jogador desse quilate, necessariamente, terá propostas do exterior que são muito difíceis de competir, e ele tem todo o direito de buscar, talvez, um último contrato que possa fazer grande diferença. Enquanto ele quiser continuar no Palmeiras, é até um exemplo para os outros jogadores. É um baita jogador em campo e que mudou a postura. Faz uma falta e dá a mão para o adversário, parou de ter atritos com a arbitragem e joga bola como pouquíssimos no Brasil hoje em dia.
Mandatário control6a o seu coração palmeirense fanático para manter política que julga melhor para o clube
Gazeta Esportiva: Quais são as mudanças o senhor propõe para o departamento de futebol?
Paulo Nobre: Algumas. Pretendo colocar um diretor de futebol e um vice de futebol. Sempre a última palavra acaba sendo a minha, porque sou responsável por tudo, mas imagino ter alguém entre eu e o futebol para não estar diretamente e poder olhar para o clube como um todo.
Gazeta Esportiva: O que o senhor pretende fazer para melhorar o desempenho do departamento de marketing? Como atrair patrocinadores?
Paulo Nobre: Não contratei outro profissional para o marketing (o diretor Marcelo Giannubilo foi demitido em agosto) porque achei extremamente deselegante o que aconteceu na minha entrada na presidência, quando tinham contratado um profissional nos últimos dois, três meses (Rodrigo Geammal foi contratado a dois meses do fim da gestão de Arnaldo Tirone). Não o estou elogiando nem criticando, só que é uma contração do próximo presidente e não contratei ninguém por isso. Mas já estamos estudando quem vai tomar conta do marketing. E sempre com esperança de patrocínio. O Palmeiras é uma das grandes vitrines do futebol brasileiro, é sempre consultado. Agora, precisamos chegar a um denominador comum, que seja bom para o clube e para o patrocinador.
Gazeta Esportiva: Qual será sua relação com as torcidas organizadas?
Paulo Nobre: O importante é o torcedor ser respeitado como torcedor, e o dirigente ser respeitado como dirigente. Às vezes, essa relação acaba não sendo muito sadia e pode não acontecer, mas é necessário um respeito mútuo de ambas as partes. O torcedor fica chateado e tem todo o direito de criticar e elogiar. O dirigente deve entender que será criticado em muitos momentos e não adianta se abalar ou chatear por isso. Como também não adianta se emocionar quando for ovacionado. Precisa saber que está entrando para trabalhar pelo clube, e não para ser popular.
Gazeta Esportiva: Qual será sua relação com o torcedor comum?
Paulo Nobre: Se o presidente começar a se relacionar com o torcedor, uniformizado ou não, não vai trabalhar. São 16 milhões de torcedores. Até 20 milhões, incluindo simpatizantes que não são palmeirenses, mas consomem a marca Palmeiras. Imagine atender todos... O presidente tem obrigação de trabalhar pela instituição, mas sem seguir o que o torcedor quer ou deixa de querer. O torcedor não tem compromisso com a administração, só quer vencer, e não importa como, para não ser gozado na segunda de manhã ou que seu filho chore. Mas para o dirigente, infelizmente, importa como. O torcedor, quando fica bravo, fala “não quero saber” e larga mão até o próximo jogo. O presidente não pode fazer isso. No dia seguinte, tem que continuar presidindo e a roda não pode parar de girar. Então, a mentalidade que você administra não é a mesma que você torce.
Nobre espera continuar ocupando sua cadeira para colher os frutos da administração que julgou ser a melhor
Gazeta Esportiva: Como aproveitar a reabertura do estádio? O que acha da disputa jurídica com a WTorre?
Paulo Nobre: O problema entre Palmeiras e WTorre é uma questão institucional, de divergência na interpretação de um contrato e está na arbitragem, com o jurídico de ambas as partes discutindo. A relação fora da arbitragem é profissional. A construtora tem que ganhar dinheiro, porque investiu no estádio. Mas o Palmeiras também tem que ganhar dinheiro, porque também fez um investimento muito grande, já que a superfície do terreno é tão valorizada quanto ou até mais do que o próprio estádio. Existem partes em que a WTorre vai ganhar dinheiro sozinha, outras partes em que o Palmeiras vai ganhar dinheiro sozinho, e algumas em que os dois vão ganhar dinheiro em comum. Financeiramente, é uma coisa positiva, desde que tudo que foi combinado seja respeitado. Tenho certeza de que o fator motivacional, tanto da torcida quanto dos jogadores, vai ser muito grande. O Allianz Parque será um grande aliado do Palmeiras nos próximos anos, dos pontos de vista financeiro e técnico.
Gazeta Esportiva: Por quantos votos o senhor acha que vai ganhar?
Paulo Nobre: É muito difícil, ninguém sabe. Entre os conselheiros, você ainda conseguia mapear, mas agora não se sabe nem quantas pessoas vão ou não no dia. E o que está pensando esse pessoal? Fico feliz por estar na frente tanto nas pesquisas feitas pelo nosso lado quanto nas dos adversários, e me impressiona o carinho que o sócio tem comigo, é muito gratificante. Mas não dá para deitar em berço esplêndido, não vou relaxar de jeito nenhum. Tenho que trabalhar incessantemente, a campanha vai até a abertura das urnas.
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