Na certidão de nascimento ele é José Carlos. Na várzea, Weah 09, em referência ao lendário melhor do mundo de 1995. Para outros, é o pai do Kevin, jovem revelação do Palmeiras . Todas as versões se referem ao mesmo homem que já trabalhou como pintor, motorista de caminhão, paisagista, cordeiro, jardineiro, jogador de várzea e agora é empresário do filho e de outras doze promessas do futebol.
Kevin no Seleção sportv: Atacante do palmeiras Sub-20 foi eleito o craque da Copinha
Há alguns anos, Kevin era agenciado por outra empresa, mas isso mudou após o pai se juntar a dois sócios e entrar em um novo negócio. Weah é responsável pelas negociações do filho, além de buscar patrocínios e parcerias com fornecedores de materiais esportivos.
Se Kevin desfila seu talento na imponente grama sintética do Allianz Parque, o pai também continua em atividade no alto dos seus 41 anos de idade. Porém, os gramados são um pouco mais simples, mais precisamente na várzea de Sorocaba, no interior paulista.
Assim como o filho, Weah mora em São Paulo, porém em casas separadas. Kevin passou a morar sozinho há dois anos, mas com frequência está na companhia do pai e empresário.
Weah ao lado do filho Kevin com o troféu da Copinha 2023 e de craque da competição — Foto: Arquivo pessoal
O ge conheceu a história de Weah que, em uma entrevista exclusiva, fez um raio-x da carreira e trajetória de Kevin. Falou sobre o Palmeiras e outros grandes que cruzaram o caminho do jovem atacante. Também sobrou tempo para contar sobre ele próprio e suas versões: o José Carlos e o Weah 09.
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O batismo de Weah 09
Assim que a entrevista começou, foi preciso tirar uma dúvida: como devemos chamar o entrevistado? José Carlos ou Weah? Ele próprio respondeu.
– Quase todo mundo me chama de Weah. De José Carlos só minha mãe e minha esposa quando está brava. Normalmente, minha esposa me chama de marido e vida, mas quando ela fala 'José Carlos' eu saio correndo, porque o bicho vai pegar – brincou.
O apelido Weah não está na certidão, mas, na prática, já virou o nome de José Carlos. Tudo começou em 1998, quando o então José se mudou para um conjunto habitacional com a mãe.
No primeiro racha disputado na rua da vizinhança, a habilidade com a bola e a semelhança física com o lendário George Weah logo garantiram o apelido para a vida inteira.
O "Weah original" é o único jogador africano a ter sido eleito melhor do mundo da FIFA. O liberiano virou político e é, inclusive, o atual presidente de seu país.
George Weah Milan 1995 Bola de Ouro — Foto: Claudio Villa/ Grazia Neri/Getty Images
Com 41 anos, o "Weah brasileiro" continua na ativa dentro das quatro linhas. José Carlos começou a carreira como zagueiro, mas não conseguiu virar jogador profissional. Depois, virou centroavante e até hoje atormenta as defesas adversárias na várzea de Sorocaba. Ele joga no Vila Carvalho, mesmo time de ex-jogadores conhecidos como Marcelo Cordeiro, Nunes, Celsinho e Maciel, ex-Porto .
A equipe participa do campeonato varzeano de Sorocaba, um dos principais do país, e foi eliminada na semifinal. Weah já jogou na várzea de outras cidades do estado e diz ter sido artilheiro de três dos últimos quatro torneios que conquistou a taça.
Weah em ação pelo Vila Carvalho, na várzea de Sorocaba no interior de São Paulo — Foto: Willy Augusto - PhotoSport
Ele revelou ao ge que no ano que vem pretende atuar na categoria de veteranos da várzea.
Sobre seu instinto artilheiro, Weah diz que não conta os gols marcado, pois "atrai má sorte". Brinca que pode até ter superado os números de Pelé, apenas considerando os gols de cabeça. Ele compara também seu estilo de jogo com o filho Kevin e conta como mudou de posição nos gramados.
– Sou jogador de área e definição, enquanto o Kevin é beirada e rápido. Eu comecei como zagueiro quando era menor e passei para primeiro-volante. Quando fui jogar um campeonato em Suzano, estávamos perdendo a semifinal por 1 a 0 e o treinador mandou todo mundo para frente. O cara lançou a bola, dei um chapéu no zagueiro, bati de canhota e fiz um golaço no ângulo. 'Weah, a partir de agora você nunca mais joga de volante'. Aí comecei a ser centroavante, a fazer gol e peguei gosto. Já tinha o nome de Weah e para diferenciar um pouco ficou "Weah 09". Batizou e ficou até hoje.
Weah 09 comemora gol pelo Vila Carvalho na várzea de Sorocaba — Foto: Willy Augusto - PhotoSport
Atlético-MG e os primeiros chutes de Kevin
Quem vê os últimos passos de Kevin, eleito craque da Copa SP de Futebol Júnior em 2023 e atleta profissional do time mais vitorioso da atualidade do país, mal imagina os perrengues do passado. A relação de Kevin com a bola começou nos gramados da várzea, quando acompanhava o pai Weah.
– Desde um ano de idade, colocava o Kevin na várzea para rolar no campo e no barro até começar dar os primeiros chutes na bola. Todo mundo comentava: 'esse moleque é diferente, bate diferente na bola. Ele é muito rápido e fazia uns dribles que já dava para ver que era diferente. Aí coloquei ele na escolinha. Jogou um tempo de 12 para 13 anos e levei ele para o Relâmpago Araguay – relembrou Weah.
O primeiro time que Kevin jogou foi o Tossan, na várzea da zona leste de São Paulo — Foto: Arquivo pessoal
Weah com o filho Kevin durante jogo de um campeonato de várzea — Foto: Arquivo pessoal
Foi aí que apareceu o primeiro grande clube na vida do pequeno Kevin: o Atlético-MG.
– Conseguimos um teste no Atlético-MG com 13 anos de idade. Com dois dias de teste ele passou, mas aí veio o primeiro obstáculo: o Atlético não podia alojar e não dava ajuda de custo. Aí eu teria que arcar com tudo: a pensão dele e a minha. Até então, quando ele passou na avaliação, eu deixei minha esposa, meu filho menor e minha sogra em São Paulo, pedi as contas no serviço (trabalhava em Guarulhos) e fui me aventurar com ele. Trabalhava de motorista de caminhão em uma empresa de plástico filme e perecíveis.
Kevin passou no teste do Atlético-MG em 2013 — Foto: Arquivo pessoal
– Foi quando que perguntei para ele se era o que ele queria e ele me afirmou com 13 anos de idade: 'pai, eu vou ser jogador'. Não tive dúvida e falei: vou correr com ele até o fim. Passou um mês, despertou o interesse do Desportivo Brasil. O diretor nem tinha visto ele jogar e falou de imediato: 'pode trazer o menino de mala e cuia, que aqui vou dar um jeito para ele ficar com a gente'. Não pensei duas vezes e fomos a Porto Feliz. Foi aí que deu uma aliviada para a família, mas mesmo assim, todo sábado eu ia buscar ele de manhã e voltava no domingo à noite. Tinha que voltar para a apresentação e assim foi indo – concluiu Weah.
Novo patamar e interesse do Brasil todo
Kevin foi destaque da Copa São Paulo de Futebol Júnior em 2020 pelo Desportivo Brasil e logo chamou a atenção de três gigantes brasileiros: Flamengo , Santos e Palmeiras. Coube ao pai Weah ajudar o filho a tentar escolher o melhor destino.
– O Kevin jogou a Copinha pelo Desportivo e em um lance muito bonito contra o Internacional, despertou o interesse de vários clubes. Comecei a visitar Flamengo, Santos, Palmeiras e estava analisando as propostas para o que seria melhor para ele. E conversando com o diretor-presidente geral da base do Palmeiras, o João Paulo, ele colocou os papéis na mesa e vi que ali tinha futuro para o meu filho. Ele propôs muitas coisas que agradaram nossos olhos. Não financeiramente, mas de projeto para o futuro. Depois de muita luta e um ano de negociação, conseguimos fechar com o Palmeiras – contou Weah.
Em um primeiro momento, o Desportivo emprestou Kevin para o Palmeiras, que comprou o atacante em definitivo, tempos depois.
Endrick e Kevin em treino do Palmeiras na Academia de Futebol — Foto: Cesar Greco/Palmeiras
Pelo Verdão, o menino foi bicampeão da Copinha em 2022 e 2023 . Neste ano, teve protagonismo e foi eleito o craque do campeonato , com cinco gols marcos e cinco assistências. O desempenho no torneio, inclusive, colocou o atacante no radar de clubes da Europa, como o Shakhtar Donetsk, da Ucrânia.
Conversa com Abel e subida ao profissional
Além de despertar o interesse de clubes europeus, Kevin também fez os olhos do técnico Abel Ferreira brilharem. O português logo chamou o menino e o pai para uma conversa.
– Fizemos reuniões com o Abel antes do Kevin subir para o profissional. Quando ele estava na base, quando foi o craque da Copinha, já estava sendo cogitado isso. Quando fui conversar com o Abel, ele me mostrou o planejamento dele e que o nome do Kevin já estava na lousa para o futuro. Me mostrou tudo e falou: 'agora é só paciência, que eu já tenho ele no meu planejamento'. Foi uma conversa boa, juntamente com o Anderson Barros (diretor de futebol do Palmeiras) – revelou o pai de Kevin.
Kevin em ação pelo Palmeiras contra o Boca Juniors — Foto: Cesar Greco/Palmeiras
O atacante de 20 anos disputou nove partidas com o time profissional do Palmeiras, sendo sete no Brasileirão e duas na Copa Conmebol Libertadores. Uma delas foi na semifinal contra o Boca Juniors, quando Kevin entrou no segundo tempo e converteu um dos pênaltis na noite da eliminação.
O jovem foi titular em dois jogos no Brasileiro e ainda busca marcar seu primeiro gol no time principal. Perguntado sobre a perspectiva para Kevin, Weah assegura que a permanência no Palmeiras é o melhor caminho para o futuro.
– Perspectiva para o Kevin no Palmeiras é muito boa: permanecer no Palmeiras, onde somos muito gratos pela oportunidade de subir para o profissional. A perspectiva é que em 2024 ele venha atuar mais, ter mais minutagem, mais oportunidades e conseguir desempenhar o futebol dele que é muito bom, e vem treinando muito bem – finalizou Weah, pai de Kevin.
"Weah 09" posa para selfie ao lado do filho Kevin — Foto: Arquivo pessoal
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