DNA futebolístico de Endrick e Estêvão: um olhar profundo no futebol.

Desde 2009, quando o Santos apresentou Paulo Henrique Ganso e Neymar ao futebol, dois jogadores revelados pelo mesmo clube brasileiro não surgiam com tamanha projeção de sucesso internacional. No ambiente das categorias de base, em que os sonhos de profissionalismo com a trajetória clube-seleção-Europa são compartilhados por muitos e concretizados por muito poucos, os dois projetos do Palmeiras são comentados, desde o início da adolescência, como o que há de mais próximo da certeza de um caminho estrelado na elite do jogo. Antes mesmo de poder dirigir, Endrick já completou dois terços da rota, com o último terço – sem trocadilho intencional – aguardando apenas sua estreia pelo Real Madrid. Quanto a Estêvão, o torcedor palmeirense que o vê de perto não pode ignorar a contagem regressiva para o dia em que ele seguirá para o Chelsea, muito provavelmente após debutar com a camisa da seleção brasileira. Ambos dividem a procedência, a evolução e a perspectiva. De um jeito ou de outro, estarão unidos pelas inevitáveis comparações que acompanham as carreiras de jogadores que chamam tanta atenção.

Na grande árvore genealógica dos atacantes nascidos no Brasil, porém, Endrick e Estêvão pertencem a ramos diferentes. Endrick é um jogador de força e explosão dotado de extrema habilidade. Embora pareça um produto finalizado no aspecto físico, sensação provocada por sua capacidade não só de enfrentar, mas superar adversários maduros, ainda é um rapaz às vésperas de alcançar a maioridade. O que leva a crer que se tornará um problema ainda mais sério para defensores espalhados pelo mundo. Considerando características e habilidades natas, não necessariamente como um indício de potencial a ser atingido, Endrick é um indivíduo da mesma “espécie futebolística” de Ronaldo Nazário, Thiery Henry, Romário, Kylian Mbappé. No ecossistema do futebol, um predador voraz que causa temor permanente.

Mais forte, mais rápido, mais inteligente, com um senso de localização em campo que lhe permite aproveitar oportunidades ocasionais, reforçando a impressão de estar sempre no lugar e no momento adequados. Estêvão é um espécime futebolístico muito distinto. Na figura da cadeia alimentar do jogo, ele é uma presa, no sentido de ser perseguido por marcadores adversários; uma presa configurada pela natureza para jamais ser abatida. Seu trunfo para sobreviver é a bola colada ao pé, o talento para criar movimentos que iludem defesas e – algo absolutamente anormal para jogadores de qualquer idade, mais ainda para alguém de 17 anos – a capacidade de leitura da zona do gramado onde está para tomar, com incrível frequência, a decisão mais correta entre as opções disponíveis. Em referência que deve ser lida como máximo elogio, Estêvão é um jogador de rua; aquele que constrói espaços quando parece acuado, inventa dribles e dispõe de um infinito manual de engano.

Um membro da família de futebolistas de Ronaldinho Gaúcho, Robinho (entenda-se: o contexto aqui é o de características de jogadores de futebol), Neymar. O protocolo usado por defensores para – tentar – contê-los é um dos principais exemplos das diferenças entre eles. Enquanto o manual recomenda vigiar Endrick de perto, tentar o desarme logo após a recepção e nunca lhe oferecer campo para acelerar, as regras para Estêvão são opostas: é “melhor” guardar distância, pois o bote seco é um convite a um drible desmoralizante. Não é por outro motivo que soa um alarme a cada vez que Estêvão entra na área com a bola dominada. Cada um possui um jeito de lidar com a intimidação física, um aspecto inerente ao futebol. Endrick pensa rápido e acelera; Estêvão se torna invisível. Eles são a página mais recente do grande livro da revelação de atacantes, categoria que o país do jogador de futebol segue alimentando com formidável fertilidade.