Era pandemia da Covid-19, em dezembro de 2021, quando a cidade de Itabuna, no interior da Bahia, choveu por 17 horas seguidas, alagando bairros e deixando 3.500 famílias desabrigadas na maior enchente de sua história. Entre elas, a de Rafael Coutinho, meia do Palmeiras, agora aos 18 anos de idade.
– Eles perderam tudo. A casa era bem próxima ao rio, humilde, e não tinha colchão, não tinha nada – conta o coordenador da base, João Paulo Sampaio, que viu de perto a história.
Três anos depois, com o suporte do clube, Coutinho atravessou um dos momentos mais difíceis de sua vida para tornar-se campeão brasileiro Sub-20, com dois gols na final, contra o Cruzeiro, dedicados à namorada e à mãe, Anaildes Carvalho Barbosa.
– Ela é muito guerreira, sempre me apoiou em tudo. Quero dar o mundo para ela – conta Coutinho, com a voz tímida e calma, segurando a nova medalha no gramado do Allianz Parque.
A namorada esteve nas arquibancadas. A mãe, vivendo em Itabuna, não pôde estar na final.
Coutinho é de poucas palavras. Usa voz baixa e pouco compartilha da própria jornada. Só que sua história virou parte também da vida nas categorias de base do Verdão. Ele estava no Sub-14 no ano da enchente em Itabuna, recebia apenas uma ajuda de custo e por isso, quando soube da tragédia, o coordenador João Paulo reuniu todas as comissões técnicas da base para uma vídeo chamada.
– Ele disse: A gente precisa ajudar um menino – conta o técnico, campeão com o Sub-20, Lucas Andrade.
– Todo o clube se mobilizou, cada um fez a doação que podia, e hoje a gente tem esse atleta com tanta identificação, né? Me arrepia porque essa história é talvez uma das mais incríveis que a gente tem – confessa o treinador, apontando os pelos arrepiados no braço.
Foi com o auxílio de treinadores, auxiliares e atletas do profissional, portanto, que Coutinho e a família se reergueu. Encontrado durante a pandemia, o meio-campista chegou ao Palmeiras através de um observador do clube, que o viu jogando pelo Grapiuna, na segunda divisão da Bahia, e o levou para uma avaliação. Terminou ficando.
Ao longo dos anos, fez parte da geração do bilhão ao lado de Estêvão, Endrick, Luis Guilherme, Vitor Reis, acumulando títulos no juvenil, ainda que mais discreto que os companheiros - logo cedo alçados ao profissional.
– O Coutinho está comendo pelas beiradas. Aparece sempre nos jogos finais, mas é mais discreto, chama menos atenção, mas também está amadurecendo no tempo certo – avalia João Paulo, com um sorriso no rosto.
Ele mudou de segundo volante para camisa 5 e foi o único do Palmeiras a atuar em todos os jogos do Brasileiro Sub-20 na temporada. É visto como um atleta de talento, mobilidade, versatilidade, ambidestro e com capacidade de fazer gols de cabeça - mesmo que mais baixo do que os normalmente considerados.
– Ele poderia ser o 10 do time, porque entra na área, faz gol. E o principal é que é muito trabalhador, sério, dedicado, profissional, e acho que isso vai fazer com que ele seja sempre visto. O ambiente que o Abel oferece é um onde esses são os valores que ele espera e o Coutinho tem todos eles - diz o treinador, orgulhoso.
E depois de três anos colecionando títulos, com mais dois a vivenciar na base antes de atingir o limite de idade, ser visto é o que faz Coutinho sonhar.
– Meu sonho é chegar aqui no profissional, fazer com que a torcida ame, que eu possa ir para a Europa, mostrar quem eu sou. Mostrar quem é Rafael Coutinho.
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parabéns que Deus ilumine seu caminho