Abel Ferreira comemora nesta quarta-feira quatro anos de seu acerto com o Palmeiras. Durante esse tempo, habituou-se a uma vida discreta, sem alardes, embora sujeito à exposição natural como técnico do Verdão. Uma caixa preta, contudo, montada para presentear 100 amigos no futebol, revela os bastidores de uma paixão antiga - e nunca mostrada - do treinador: os vinhos. – Eu dei um vinho meia-boca, então tenho aqui um especial que fiz, série limitada – disse Abel, sorrindo descontraído, ao entregar uma das caixas a Felipão, seu ex-treinador. – Vou tomar quando? Tem que ser uma data especial – respondeu Scolari, até pensar no aniversário de 51 anos de casado como o momento ideal. A caixa, pensada por Abel e a esposa, Ana Ferreira, carrega uma garrafa do Reserva do Comendador, produzido pela Adega Mayor, do Alentejo, e uma mensagem do treinador. Todas elas, entregues como agradecimento às pessoas que o acolheram, levam uma história marcada por degustações, um encontro inesperado e até time de futebol no país natal.
Tudo começou em novembro de 2020, quando Abel chegou a São Paulo para assumir o comando do Palmeiras. O clube anunciou sua contratação no dia 30 de outubro, há exatos quatro anos. O desembarque em São Paulo aconteceu em 2 de novembro. Parado na alfândega do aeroporto, conheceu o também português Carlos Castro, que representa uma marca de cafés e vinhos no Brasil e identificou o técnico, como bom torcedor, pela passagem no Braga, entre 2013 e 2018. Falei a ele: 'A polícia… São todos torcedores do São Paulo, por isso estás parado, mas não se preocupa. Um dia a gente toma um café'. E depois descobri que ele mora no mesmo condomínio que eu. — conta Carlos, deixando escapar um sorriso, em conversa com o ge. Foi na inesperada interação que nasceu a amizade. Na primeira Libertadores, Carlos presenteou Abel com cápsulas personalizadas de café. Na segunda, fez outra máquina, para jogadores e comissão técnica. No título brasileiro, saiu o primeiro presente com vinho, dado ao time com um cartão, que tinha adjetivos nas letras do nome de cada jogador.
Na intenção de presentear amigos, Abel queria desenvolver um vinho exclusivo dele. Só que não havia tempo hábil para a maturação das uvas, logística e burocracia aduaneira para a importação das garrafas ao Brasil. Decidiram, portanto, encontrar uma safra "a altura de Abel" e desenvolver uma caixa em edição limitada a 100 unidades, que desde o início do ano têm sido presenteadas a nomes como Leila Pereira, Tite, Álvaro Pacheco, Ricardo Sá Pinto e Felipão. – Fizemos algumas provas, um jantar, alguns encontros particulares e escolhemos essa safra, que não existe mais no Brasil. É um vinho amadeirado, encorpado, ao mesmo tempo que não precisa ser um sommelier para apreciar – explicou Carlos. O escolhido: Reserva do Comendador 2018.
Esse vinho marca o surgimento da Adega Mayor, construída no Alto Alentejo, na vila de Campo Maior, em Portugal, e homenageia o seu fundador: o Comendador Rui Nabeiro. Seu sabor foi criado pensando no Comendador, com uvas Touriga Nacional, Alicante Bouschet e Syrah, conservado na barrica de carvalho francês e por mais de um ano na garrafa. Vai bem com carnes e tem notas de café, cacau e frutas vermelhas, como descreve Rita Nabeiro, neta de Rui e CEO da Adega Mayor. É um vinho encorpado, tem presença, como alguém que quando entra na sala não ficamos indiferentes. Meu avô era comprometido com sua terra. Quero acreditar que a ligação do Reserva e o Abel pode ter a ver com dois homens que são líderes a sua maneira, empresarial e no esporte.
Nabeiro cresceu em uma família humilde, filho de mãe analfabeta e com quatro irmãos. Virou político, empresário, produtor de café, e colocou a pequena vila de Campo Maior no mapa, construindo um patrimônio de 400 milhões de euros com o Grupo Nabeiro - hoje uma multinacional. Nasci pobre, fiz contrabando, tratei bem as pessoas e dormi nas fazendas de café com a rapaziada. — disse Rui ao jornal português Expresso, aos 84 anos, sete antes de morrer, em março do ano passado. A conexão dos dois, para além do gosto por vinhos e o lado social, se entrelaçou também à característica mais famosa de Abel: o futebol.
Desde 2002, fora da elite, o clube passou a trabalhar somente com a formação de jovens - no futebol, judô, natação e ginástica. Abel e Rui nunca se encontraram pessoalmente. Trocaram presentes, contudo, ao longo dos anos, com garrafas de vinho vindo ao Brasil e o livro “Cabeça Fria, Coração Quente” autografado e entregue em Portugal. Dividiram paixões, conexões na história, agora compartilhada em 100 caixas distribuídas pelo técnico a quem o acolheu. – É para tomar com a Dona Olga – disse Abel a Felipão, arrancando um riso do treinador, na referência à esposa, enquanto lê a frase no rótulo da garrafa. "Deste vinho bebemos o passado, celebramos o presente e brindamos o futuro."
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