Fernando Diniz berra à beira do campo: 'criatura' de Oswaldo vai reencontrar o 'criador'
Em 21 de janeiro do ano passado, o Santos recebeu o modesto Grêmio Osasco Audax no Pacaembu e sua torcida esperava uma goleada. No entanto, o time da Baixada foi surpreendido por uma equipe bem treinada, que não só abriu 1 a 0 como fez os atletas alvinegros correrem de um lado para o outro atrás da bola, como em um "bobinho".
"A gente sabia que eles saiam jogando, tinham boa saída de bola. O time deles tem qualidade e a gente acabou ficando na roda", admitiu o atacante Thiago Ribeiro, no intervalo daquele jogo. O Santos acabaria empatando aos 43 do segundo tempo, com um gol do zagueiro Jubal, mas Oswaldo deixou o campo muito irritado com as vaias da torcida, e chegou até a mandar uma "banana" em direção às arquibancadas.
O fato é que a equipe praiana foi uma das vítimas do "carrossel" montado pelo técnico Fernando Diniz, ex-meio-campista com passagens por vários times grandes. Com seu esquema 3-4-3, jogadores sem posições fixa, marcação sob pressão durante 90 minutos e muito toque de bola (só vale dar chutão como último recurso), ele colocou o "Peixe" e o veterano treinador Oswaldo de Oliveira na roda.
Ironias do destino, já que Oswaldo pode ser considerado o "criador" de Fernando Diniz.
Afinal de contas, a dupla trabalhou junta, como técnico e jogador, em nada menos do que quatro clubes: Corinthians, Fluminense, Flamengo e Santos. Nunca foi segredo que Oliveira sempre teve apreço especial pela "criatura", a quem considerava tanto um atleta exemplar quanto um técnico em potencial após a aposentadoria.
A previsão estava correta.
A estreia de Fernando como técnico foi em 2009, apenas um ano depois da aposentadoria como jogador. Pelo extinto Votoraty, conquistou uma Copa Paulista e uma Série A-3 do Paulistão, já começando a implantar seu estilo inovador, baseado em um esquema que mistura algumas táticas de futsal com outras de futebol de campo.
Depois, foi para o Paulista de Jundiaí, clube pelo qual conquistou mais uma Copa Paulista. Passou ainda por Botafogo-SP e Atlético Sorocaba antes de chegar ao Audax, equipe na qual continuou implantando seu estilo "maluco" de futebol.
"Trabalhei em quatro oportunidades com o Oswaldo, mas é bom que se diga que, nos três primeiros, eu já estava, e ele chegou depois. O único time para o qual ele me levou foi o Santos, quando eu já estava com 30 anos. Ele confiava em mim, e acho que foi uma experiência muito válida pra nós dois", lembrou Diniz, em entrevista à Rádio ESPN.
O reencontro entre "criador" e "criatura" depois do "baile" do ano passado será neste sábado, às 17h (horário de Brasília), quando Grêmio Osasco Audax e Palmeiras se enfrentam pela abertura do Campeonato Paulista, no Allianz Parque.
Mestre e aprendiz
Em um início promissor como técnico Fernando Diniz admite: quase tudo o que sabe, aprendeu com Oswaldo durante o tempo em que foi comandado pelo técnico mais zen do futebol brasileiro. Ou será que ele não é tão "da paz" assim?
"A maior influência que tenho dele é no trato com os jogadores, na meneira como ele se doa por eles, compra briga. Ele aparenta sempre estar calmo, num estado de total equilíbrio, mas, internamente, é um cara quente, que protege o grupo da maneira que precisar. Se precisar explodir, ele explode. E isso acaba cativando e conquistando todos", contra Diniz, ilustrando com um episódio dos tempos de Fluminense.
Oswaldo é protetor dos atletas, conta Diniz
"Teve uma vez que a torcida do Flu estava vaiando muito o Sidney [Moraes, hoje técnico] durante um jogo. O Oswaldo saiu do banco, foi até o alambrado e mandou eles pararem, de uma maneira agressiva até. Mandou pararem de vaiar e começarem a bater palma. E o pessoal respeitou, viu? Esse jeito dele proteger os jogadores repercute bem no grupo", revelou.
Fernando também aponta outra qualidade que gosta no estilo de Oswaldo: a habilidade para trabalhar tanto com jovens revelações da base quanto com atletas consagrados, uma característica que sempre marcou a carreira do treinador de 64 anos.
"No futebol brasileiro, ele é o treinador que mais consegue lançar jovens e também lidar com grandes estrelas. Foi assim quando assumiu o Corinthians, depois no Botafogo do Seedorf, no Santos... Agora, no Palmeiras, não tem nome melhor pra essa nova fase. A impressão que tenho é que ele, junto com o Paulo Nobre e o Alexandre Mattos, vão montar um time que vai dar muito certo em 2015", opinou o comandante do Audax, que também jogou no clube do Palestra Itália.
Diniz afirma, porém, que, à beira do gramado, é totalmente diferente do "mestre". Enquanto Oswaldo opta por gritar pouco durante as partidas, Fernando é conhecido por berrar constantemente e raramente sentar no banco de reservas.
"No campo a gente é bem diferente, mesmo (risos). Mas ser mais enérgico é uma característica minha, é meu jeito. Cada um tem o seu, né? Não tem certo e errado. Mas concordo que, dentro dos jogos, eu me transformo", brincou.
Agora, é espera para ver se o aprendiz vence o mestre.
Fernando Diniz ainda nos tempos de jogador, no Santos: pedido de Oswaldo de Oliveira
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