Retirada de Clubes Brasileiros da Conmebol: Uma Possibilidade a Considerar

19/3/2025 13:44

Retirada de Clubes Brasileiros da Conmebol: Uma Possibilidade a Considerar

Retirada de Clubes Brasileiros da Conmebol: Uma Possibilidade a Considerar

O racismo não vai acabar se os clubes brasileiros, conjuntamente, fizerem um boicote aos torneios da Conmebol, mas a entidade que rege o futebol sul-americano sofreria um poderoso e histórico golpe que a obrigaria a ser muito mais enérgica no trato desse assunto. Após o comovente e corajoso desabafo do jovem palmeirense Luighi na Libertadores sub-20 , cobrando inclusive o repórter que o entrevistou oficialmente por não tratar dos casos de racismo no jogo contra o Cerro Porteño , a Conmebol foi colocada contra a parede para tomar uma posição mais dura sobre o tema. A punição dada ao time paraguaio, no entanto, foi branda e gerou enorme revolta no Brasil, tanto que o presidente da CBF , Ednaldo Rodrigues , e a presidente do Palmeiras , Leila Pereira , não foram ao sorteio da Libertadores e da Copa Sul-Americana em Luque, na Grande Assunção.

A fala (em português para tentar agradar aos brasileiros) do presidente da Conmebol, Alejandro Domínguez, foi quase protocolar, lavando as mãos praticamente nos casos de racismo, pois esses seriam um problema da sociedade que o futebol não teria como combater mais seriamente. Para fechar (com chave de algo que certamente não é ouro), o máximo dirigente da Conmebol, com sorriso de orelha a orelha, solta uma frase (que ele diz ser popular) que a Libertadores sem brasileiros seria como o “Tarzan sem a Chita” , a macaca que acompanha o herói raiz de tantos filmes e série. Absurdo!

Brigar na Fifa para tentar destituir Alejandro Domínguez de seu posto é um caminho possível diante dessas barbaridades recentes em nosso continente, mas isso é um processo que passa muito por política de federação e dificilmente teria sucesso a curto e médio prazo. A ideia que partiu da valente Leila Pereira (ela tem seu defeitos, como todos, mas é firme em seus posicionamentos e não tem medo de comprar brigas pesadas) de que os clubes brasileiros saiam dos torneios da Conmebol merece sim ser discutida seriamente. Se não for possível para este ano por conta de contratos, multas e torneio em andamento, é algo que pode ser colocado como debate para os próximos anos.

Ou a Conmebol passa a punir racismo com muito mais do que US$ 50 mil e portões fechados em alguns jogos do torneio em questão ou então a maior economia da América do Sul abandona a Libertadores, a Sul-Americana e, consequentemente, a Recopa . Seria o fim da hegemonia recente dos brasileiros no continente, o que poderia ser um alento para os nossos vizinhos em seca de títulos, mas os cofres da Conmebol sentiriam forte abalo. Os valores pagos pela entidade têm aumentado bastante com a ajuda de clubes, patrocinadores e a imprensa do Brasil.

Se esse “grupo brazuca” vira as costas para a Conmebol, ela será a maior derrotada. O que ela pode fazer em retaliação? Atacar a seleção brasileira ? Talvez, mas não creio que ela impediria o país pentacampeão mundial de ir à Copa. Clubes brasileiros ficariam sim de fora do Mundial de Clubes e da Copa Intercontinental, mas simplesmente porque não venceriam mais a Libertadores nem ficariam em boa posição no ranking da Conmebol.

Os clubes ingleses ficaram cinco anos sem disputar as competições da Uefa, receberam uma punição dura, de forma coletiva, por conta do hooliganismo , a ação feroz de torcedores extremistas. Aqui na América do Sul, nós poderemos ver o contrário: times ficando fora de torneios por serem vítimas de violência, com seus jogadores e outros profissionais sendo provocados com gestos de macaco e outras ofensas racistas.

A Conmebol disse que uma espécie de comissão será montada para trabalhar em conjunto com os governos dos países filiados à entidade para tratar do combate ao racismo. Cada nação tem suas leis. Nós estamos no Brasil bem na frente na legislação contra o racismo e ainda assim vemos aqui seguidos casos, inclusive em nosso futebol (segurança do Palmeiras sentiu na pele isso no interior paulista há poucas semanas sendo ofendido por uma “autoridade”). No Paraguai, também tem lei para punir racismo, mesmo que branda (desde 2022 a legislação paraguaia prevê uma multa de ate R$ 7,8 mil para quem praticar “atos discriminatórios e racistas”).

O presidente do Cerro Porteño, Raúl Zapag, mostrou estar pouco preocupado com a causa ao dialogar sorridente com o vice-presidente do Palmeiras, Paulo Buosi, em meio ao sorteio da Libertadores. Enquanto o dirigente brasileiro falava da importância de todos se unirem na luta contra essa chaga da sociedade, o cartola paraguaio pedia para mudar de assunto e dizia com orgulho que a presidente Leila Pereira seria recebida em Assunção como uma “rainha” (mais uma vez, o Verdão terá o Cerro Porteño pela frente no nobre torneio).

De forma inegável, o tema do racismo é muito mais forte e dói no Brasil mais do que nos outros países do continente. E é bom lembrar que a América do Sul carrega uma série de preconceitos que são refletidos no futebol. Há ainda muita provocação contra pessoas de origem indígena, há discriminação por questões econômicas, com torcedores nos estádios inclusive rasgando notas de dinheiro para mostrar aos vizinhos que estão em situação mais favorável financeiramente, há rivalidades antigas que vêm de disputas fronteiriças e mesmo bélicas que levam à xenofobia, tem homofobia e misoginia de sobra ainda por aqui etc.

Quantas vezes não ouvimos aqui que os nossos vizinhos são todos “chicanos” (o México nem disputa mais os torneios da Conmebol faz tempo), que nada presta no Paraguai, que bolivianos, chilenos ou peruanos são “índios”? Eu descobri o ódio que existe, por exemplo, entre chilenos, peruanos e bolivianos viajando pelo continente como turista e também como jornalista. Um sentimento ruim que não vem do esporte, mas que chega ao futebol com força por esse ser uma manifestação popular de nosso continente, uma paixão que traz também muito de patriotismo e de provocação aos vizinhos.

Claro que tudo isso não vai deixar de existir se um país boicotar as competições da Conmebol, até porque no passado já houve abandonos e desistências de países pelos mais diferentes motivos. Só que neste momento eu acho que seria uma bela e forte mensagem do Brasil como país na luta contra o racismo. Causaria um impacto positivo dentro e fora do país, pois alguém enfim tomaria uma medida extrema que alerta para a gravidade desse problema abominável. Assim como a Inglaterra mudou do avesso no futebol após ser banida das competições da Uefa pela violência de seus torcedores, creio que a América do Sul seria um pouco diferente se surgir mesmo esse movimento nacional contra o racismo nos torneios da Conmebol. O calendário brasileiro, sabemos, é muito puxado e, de forma prática, até haveria mais respiro para os times do país. Sobre jogar na Concacaf, como até sugeriu a Leila Pereira, não acho legal nem muito viável. Se for para abandonar provisoriamente a Conmebol, que seja um período sabático, um momento de reflexão para os racistas e para aquelas autoridades que não entenderam ainda que essa praga da sociedade precisa ter punições severas, exemplares.

As opiniões contidas neste texto não refletem, necessariamente, a opinião da ESPN Brasil.







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