Alexandre Mattos contratou 19 reforços para o Palmeiras no ano (Djalma Vassão/Gazeta Press)
Ele não marca gols, não dá assistências, não faz defesas impossíveis e nem sequer senta no banco de reservas. Ainda assim, aos 37 anos, distribui autógrafos e foi um dos profissionais mais disputados do mercado do futebol no fim de 2014. Esse é Alexandre Mattos, mineiro de 37 anos e diretor-executivo de futebol do Palmeiras desde janeiro. Nesta entrevista exclusiva, o dirigente revela que seu novo clube virou o preferido dos grandes jogadores. Ele ainda conta um pouco de si, fala dos planos no Palestra, faz um balanço de seus primeiros 74 dias em São Paulo, enche a bola do presidente Paulo Nobre, elogia Zé Roberto e Robinho, fala em tom de despedida sobre Valdivia, desmente a fama de gastão, admite ter pisado na bola com a bandeirinha Fernanda Colombo…
BLOG_ Quem é o Alexandre Mattos?
ALEXANDRE MATTOS_ Sou um apaixonado por futebol, mineiro, pai da Giovanna… E corro atrás dos meus sonhos, lutando para evoluir com muita determinação, convicção e fé.
Como foi parar no futebol?
Cheguei a jogar como meia dos 15 aos 17 anos no América-MG. Aí, decidi que queria me manter perto do futebol. Cursei educação física e administração com gestão em esporte.
Você falou de sonhos. Pensa em trabalhar no exterior?
Hoje, meu sonho é fazer um trabalho de excelência no Palmeiras. Quero marcar meu nome na história desse clube.
E seleção brasileira?
Todo profissional que trabalha com futebol tem o objetivo de chegar à seleção. É o ápice representar o país.
Qual a sensação de ter virado celebridade como dirigente, a ponto de dar autógrafo?
Isso me dá orgulho. Muita gente aqui em São Paulo mesmo já pediu autógrafo, veio conversar… Essa empatia se dá porque o palmeirense sabe que vamos trabalhar para montar um time que honre essa camisa.
Você foi bicampeão brasileiro, escutou 60 mil pessoas cruzeirenses pedindo para não sair. Por que deixou o clube?
Entendo que a vida é feita de ciclos e o projeto extremamente vitorioso no Cruzeiro havia se encerrado. Ao lado do presidente, dos diretores, jogadores e comissão, ganhei títulos, vi o Cruzeiro se reestruturar… Era hora de buscar novos desafios.
Qual a mágica de montar um time inteiro por R$ 42 milhões e lucrar, dois anos depois, R$ 85 milhões com a venda de só cinco atletas (Everton Ribeiro, Ricardo Goulart, Lucas Silva, Nilton e Egídio)?
O engraçado é que vários dos jogadores que contratamos eram considerados refugos. O Diego Souza, por exemplo, chegou de graça e saiu sete meses depois rendendo R$ 10 milhões.
Palmeiras, Flamengo… quantas propostas teve em 2014?
É chato falar em nomes, mas fui procurado pelo Palmeiras e por mais dois times brasileiros. E só saí do Cruzeiro no dia 31 de dezembro. A ida do Damião foi fechada no finalzinho do ano.
Por que o Palmeiras?
A escolha teve muito a ver com o Paulo Nobre, uma pessoa maluca pelo Palmeiras. Ele não tem filho, então costumo dizer que o Palmeiras é seu filho. Ele deu credibilidade ao clube. Sem contar que estamos falando do maior campeão nacional, com 16 milhões de torcedores.
É verdade que você e o Paulo já se desentenderam feio?
Mentira. Não teve nada disso e nos damos muito bem desde o início. Foi até engraçado, porque, quando cheguei, disse que precisávamos de um dois ou três reforços de impacto. Ele me olhou, olhou… e concordou.
O Palmeiras paga em dia, tem mais de 100 mil sócios-torcedores, vai faturar R$ 50 milhões em patrocínio… Qual o futuro do clube?
O Palmeiras está se organizando para estar entre os três melhores do Brasil por um longo período. E não me refiro só a resultados, mas também à parte estrutural, organizacional e financeira.
Isso significa uma era tão vitoriosa quanto a da parceria Palmeiras/Parmalat?
Falar em títulos é sempre difícil, porque, às vezes, você monta um time que encaixa, às vezes, não. Mas a tendência é de que o Palmeiras seja a referência por muitos anos.
O mercado já descobriu a grandeza do novo Palmeiras?
Com certeza. Hoje, o Palmeiras virou a primeira opção de todo grande jogador do Brasil ou do exterior. Houve uma mudança radical no pensamento do mercado. Os empresários e os clubes nos procuram, porque sabem que o Palmeiras vai pagar em dia.
O palmeirense andava meio descrente. A contratação do Dudu foi a grande sacada dos seus primeiros dias no clube?
A vinda do Dudu é reflexo de tudo o que o Paulo plantou nos últimos anos. E, de fato, ter superado Corinthians e São Paulo nesta briga foi ótimo para a autoestima do torcedor. Mas trouxemos o Dudu também por causa do retorno técnico e financeiro.
Como lida com a crítica de que você gastou demais?
Dos 19 jogadores que contratamos, só quatro custaram: o Dudu veio por R$ 10 milhões por 50%; o Leandro por R$ 4 milhões; o Robinho, R$ 2,5 milhões; e o Arouca, R$ 1,4 milhão. Os demais chegaram livres ou por empréstimo, com opção de compra.
Qual reforço o empolga mais?
É difícil dizer, porque cada um tem uma qualidade. O Zé Roberto vai ajudar demais com sua liderança. Ele dá o exemplo trabalhando, e não falando. Já o Robinho, que foi uma contratação complexa, por causa dos concorrentes, vem jogando muito bem. O Gabriel e o Lucas têm bastante futuro…
Além do Thiago Mendes, que preferiu jogar no São Paulo, você perdeu mais alguma dividida com o mercado neste ano?
Foram mais vitórias. Consegui basicamente tudo aquilo que o Palmeiras necessitava.
O Cruzeiro o procurou pelo Valdivia?
Não. Ninguém falou comigo.
Ele está nos planos?
Ele é um atleta excepcional, bem acima da média, mas precisa haver um acerto financeiro. De qualquer forma, já fica um agradecimento, caso ele saia, por tudo o que fez.
Tobio, Allione, Cristaldo e Mouche são um problema ou uma solução?
Eu me surpreendi muito com o Tobio. É excelente zagueiro. Também acredito demais no Allione, que tem uma técnica incrível. O Cristaldo é artilheiro com experiência internacional.
Deu tempo de fazer alguma avaliação sobre a base?
Toda a atenção foi dada ao profissional, pois tivemos que montar um novo time. Agora, com a chegada do João Paulo Sampaio (na vaga de Erasmo Damiani, que foi para a seleção), começaremos a moldar a base.
Uma das suas marcas é escolher bem os jogadores. Como arquiva os alvos?
Tenho um banco de dados no meu computador que conta com jogadores do Brasil, de fora, das Séries A, B e C. Vejo tudo o que é jogo. E também cruzo informações com pessoas que trabalham com os atletas.
O Gabriel, filho do Oswaldo de Oliveira, o ajuda nisso?
Ele faz parte do departamento de análise de desempenho do Palmeiras, que já tinha o Rafael e agora trouxe também o Gustavo.
Quais atletas você se orgulha de ter descoberto?
Pergunta difícil, porque nunca se descobre alguém sozinho. Mas fomos buscar o Bruno Rodrigo na reserva do Santos e ele é um baita zagueiro. O Egídio saiu mal do Flamengo e rendeu R$ 10 milhões ao Cruzeiro. No Palmeiras, o Victor Hugo tem um potencial enorme.
Já conheceu a Turma do Amendoim?
Sempre ouvi falar que a pressão política no Palmeiras era grande, mas fui espetacularmente bem recebido. Encontrei um cenário tranquilo e calmo.
Quem oferece mais perigo: São Paulo ou Corinthians?
Os dois. Ambos têm projetos a longo prazo, sólidos, que só precisam de ajustes constantes. Mas o Palmeiras se preocupa com ele. Estamos montando um time competitivo para ganhar de qualquer um deles.
Em 2014, após perder do Atlético, você disse que a bandeirinha Fernanda Colombo deveria trocar o futebol pela Playboy. Ela ficou o restante do ano na geladeira. Arrepende-se?
Claro. Foi um momento de aprendizado, porque é preciso respeitar o outro profissional. Fiz questão de ligar para os pais dela e para a Fernanda. Nos entendemos e eles viram que sou um cara do bem.
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