Esquecido no Palmeiras após briga, Maurício curte rápido sucesso no Lazio

22/3/2015 08:03

Esquecido no Palmeiras após briga, Maurício curte rápido sucesso no Lazio

Zagueiro comemora titularidade "surpresa" na Itália depois de sofrer com trocas de clube logo após a confusão com o amigo Obina, em 2009: "Aprendi a ser homem"

Esquecido no Palmeiras após briga, Maurício curte rápido sucesso no Lazio

Maurício em ação pelo Lazio: titularidade rápida (Foto: Getty)



Terceiro colocado no Campeonato Italiano, o Lazio conta com suor brasileiro não apenas em seu setor ofensivo, onde a revelação Felipe Anderson se destaca.



Na zaga, o recém-chegado Maurício já conquistou seu lugar, mesmo com dois meses de casa, vindo do Sporting, de Portugal. Um sucesso que o surpreendeu, ele admite, mas que tem o ótimo gosto da volta por cima, anos depois de sentir sua promissora carreira escorrer pelas mãos após um "erro feio": uma briga em campo com o companheiro Obina, que o levou a ser esquecido no Palmeiras.



A confusão do dia 18 de novembro de 2009, diante do Grêmio, na reta final do Brasileirão, deixou para trás a trajetória que Maurício havia percorrido desde as categorias de base do clube, onde chegou ainda criança, até o time principal, onde se firmou logo aos 20 anos.



Foram empréstimos em sequência, meses treinando em separado e o arrependimento pelo ato impensado logo contra um atleta com fama de "amigo de todos" - inclusive do próprio zagueiro, que mantém contato com Obina até hoje, através de redes sociais. Mas tanta rodagem valeu a pena, acredita o defensor, que finalmente encontrou a regularidade ao viver seu sonho europeu, com muitas lições.



- Depois de correr muito por aí, rodar um pouquinho, sim. Foi bom ter acontecido isso, amadureci bastante. Aprendi a valorizar o meu trabalho, aprendi a ser homem. Cuidei bastante de mim. A partir do momento que você começa a ter foco, objetivo, começa a pensar em voos mais altos.



Depois que coloquei na minha cabeça que tinha qualidade, que só dependia de mim, as coisas passaram a dar certo - resume.



O jogador foi emprestado ao Lazio até o fim da temporada, com compra já acertada para o meio do ano por € 2,65 milhões (R$ 9,26 milhões). Os seis jogos seguidos como titular, com cinco vitórias e apenas um empate, já plantam na cabeça de Maurício sonhos como o de vestir a camisa da seleção brasileira - ele diz ter "certeza" que um dia a chance vai aparecer.



Nos cenários que imagina, também gostaria de vestir a camisa de algum gigante europeu que esteja na Champions todo ano e até projeta um retorno ao Palmeiras para "ser exemplo" e evitar que os mais jovens repitam seu erro.



Enquanto isso, curte o rápido reconhecimento nas ruas de Roma - ao lado da cobrança dos fãs do Lazio para que o time ultrapasse o grande rival, que está apenas um ponto à frente no Campeonato Italiano. E aproveita cada peculiaridade na rotina de jogador de um clube tradicional, como ter como companheiro de elenco o experiente atacante Klose.



- O Klose é referência para mim e todos os companheiros. Mesmo artilheiro de todas as Copas, é um dos primeiros a chegar, um dos últimos a sair. É um cara humilde que também vem tentando me ajudar, me orientado muito. Eu estou realizando um sonho também, é um prazer jogar ao lado de um ícone como o Klose.

Conta muito para a carreira. Um dia poderei falar para meus netos que joguei com o maior artilheiro das Copas.



Confira a entrevista com Maurício na íntegra:



GloboEsporte.com: Você está vivendo um bom momento no Lazio, já tem uma sequência de seis jogos como titular sem nenhuma derrota. Acha é o melhor momento da sua carreira?



Maurício: Tem dois meses que eu estou aqui, e as coisas vêm acontecendo muito bem, Deus tem me abençoado bastante. O time está bem, focado, concentrado. Temos nossos objetivos traçados. É manter esse foco para que os resultados possam vir. Claro que vivo um dos melhores momentos da minha carreira, sempre tive o objetivo de estar atuando em um grande clube da Europa. Defender o Lazio é importante. Espero crescer aqui.



Já está totalmente adaptado ao futebol italiano, em que a exigência sobre os zagueiro é bem maior?



- É bem diferente. Eu estive um ano e meio no Sporting, e é bem diferente daqui. Em Portugal é um futebol rápido, dinâmico, mas tem um pouco mais de espaço. Aqui nosso treinador gosta de marcar pressão, pede para a gente diminuir espaços. Estou em momento de adaptação ainda, aprendo a cada treino, a cada jogo. O Ederson e o Felipe Anderson têm me ajudado bastante. O mister Pioli tem me ajudado, estou vendo muitos vídeos.



E vem sentindo grande diferença?



- Eu brinco que o futebol no Brasil é meio peladeiro: o zagueiro vai lá na frente, o atacante às vezes está lá atrás. Brasil é Brasil, sempre está ali entre os melhores do mundo, mas, taticamente, aqui na Europa os treinadores são melhores. Essa é a diferença. Aqui tem um futebol posicionado, cada um tem que fazer o seu papel. É muito bom tecnicamente, mas é mais duro, tem que estar ligado o jogo inteiro. O zagueiro tem que estar ligado.



O Lazio vem fazendo boa campanha, em terceiro no Italiano. Você vê algum setor do time mais forte? Ataque ou defesa?



- O ponto forte é o grupo, que está bem unido, com o mesmo objetivo. A gente sempre fala que a melhor defesa é o ataque. Na frente, Felipe, Klose, Candreva têm ajudado, e ajudam a gente lá atrás. Eu e o De Vrij temos conversando bastante para não sofrermos gols, pois nosso ataque é muito forte.



A expectativa para disputar a Liga dos Campeões já está grande? A torcida já vem falando?



- Pode ser minha segunda Champions, mas o objetivo ainda não foi conquistado. O Lazio é um grande time, que não pode ficar fora dos campeonatos europeus. A torcida aqui na Itália é incrível. O torcedor tem me abraçado de maneira muito legal, muito carinhosa. E a rivalidade em Roma é impressionante. Eu não joguei ainda, mas o pessoal diz que um mês antes do clássico fica aquele clima de disputa entre os torcedores. Isso nos motiva bastante.



E eles estão pressionando para que vocês terminem à frente do Roma?



- Eles querem que sejamos campeões, mas o Juventus tem feito um campeonato espetacular, deu uma disparada no começo. Agora temos esse objetivo jogo a jogo, mas qualquer jogador sempre quer estar na frente. Ninguém gosta de ficar atrás do rival. Quando eu saio para jantar, o pessoal comenta "é só um ponto". Isso é legal, sabemos o quanto é importante para o torcedor e para nós.



Você já está curtindo o reconhecimento pela cidade?



- Tem sido legal. Lá em Lisboa o pessoal me tratava muito bem, me chamava de xerife e até hoje comenta nas minhas fotos nas redes sociais. Espero que aqui no Lazio não possa ser diferente, espero que meu nome possa ficar aqui como ficou no Sporting.



Você ficou um ano e meio no Sporting e já veio para a Itália. Como foi a chegada à Europa?



- Eu estava no Sport, após acabar o vínculo com o Palmeiras e fiquei seis meses lá. Joguei o Pernambucano, fui vice-campeão e eleito o melhor zagueiro do campeonato. O Sporting tinha feito um amistoso contra o Náutico, foi ver um jogo do Sport e gostou de mim. Meu empresário falou comigo, aí eu pensei que era a hora de dar o meu máximo. Quando o pessoal do Sporting me procurou e concretizou a contratação, foi um dos melhores momentos da carreira. O que sempre sonhei, desejei. É uma oportunidade única, matar um leão por dia.



Maurício ficou um ano e meio no Sporting, de Portugal (Foto: Getty)



E você se adaptou bem, já que de cara foi titular e disputou a Champions, não é?



- Foi um bom começo de tudo, no meu primeiro ano a equipe voltar para a Champions. O zagueiro que jogava comigo hoje está no Manchester, o Marcos Rojo, um cara que me ajudou muito. Até hoje a gente tem uma amizade bem legal. Ele falou para mim que em Portugal se eu mostrasse raça e dedicação, seria ídolo. O Leonardo Jardim, hoje no Monaco, me apoiou muito, confiou no meu trabalho. Fui conquistando o respeito do torcedor. Antes de eu vir para cá, o presidente falou que eu tenho as portas abertas no Sporting, e valeu a pena tudo que eu fiz lá. E abriram-se as portas no Lazio. O segredo foi sempre manter o foco, dedicação, humildade.



Aí no Lazio foi ainda mais rápido, em poucos meses já é titular. Como se deu esse processo?



- Nós temos seis ou sete defensores, né. Eu cheguei em uma sexta-feira e no domingo era o jogo contra o Milan. Eu tinha feito duas viagens para Lisboa para resolver papéis da contratação, estava cansado e fui direto para a concentração. E já entrei no meio da partida e falei: "tenho que aproveitar a oportunidade". Tinha dois zagueiros machucados, e o mister já me deu oportunidade. A torcida já me apoiou bastante. No futebol a gente vive de momento. Se não aproveitar, fica para trás. Foi um pouco surpreendente, sim. Estou surpreso, mas muito feliz.



Como é a relação com os outros brasileiros, Felipe Anderson e Ederson?



- Relação muito boa. Felipe e Ederson são excelente jogadores e excelente pessoas. Outro que tem me ajudado é o César, ex-São Caetano, que me ajudou a resolver casa, carro. É um cara que não vou esquecer para o resto da vida e tem me ajudado muito na adaptação. O italiano ainda não falo muito bem, mas entendo um pouquinho. Agora que já tenho minha casinha, vou tirar um tempo para estudar.



E como é o Klose no vestiário? Mais fechado?



- O Klose é referência para mim e todos os companheiros. Mesmo artilheiro de todas as Copas, é um dos primeiros a chegar, um dos últimos a sair. É um cara humilde que também vem tentando me ajudar, me orientado muito. Eu estou realizando um sonho também, é um prazer jogar ao lado de um ícone como o Klose. Conta muito para a carreira. Um dia poderei falar para meus netos que joguei com o maior artilheiro das Copas.



Hoje você faz sucesso, mas chegou a ficar encostado no Palmeiras por um tempo, depois daquela briga com o Obina em 2009. Já apagou tudo isso da mente?



- Isso é passado. Já tem seis anos, na época eu era um menino, era muito imaturo, fiz aquilo inconscientemente. Erramos os dois, e no mesmo dia a gente se entendeu. É passado. Sou muito grato ao Palmeiras por tudo o que fez por mim, desde os 10 anos de idade. O Palmeiras vou guardar pro resto da vida no coração, me projetou, me deu chance na base, no profissional. Não tenho mágoa nenhuma. Quero pedir desculpa pelo erro naquele momento, naquele dia e dizer que isso nunca mais vai acontecer.





Maurício foi revelado nas categorias de base do Palmeiras (Foto: Globoesporte.com)



Você lembra exatamente o que aconteceu?



- Foi coisa besta. Foi no lance do gol, que o Maxi López fez. O Obina veio reclamar comigo porque eu não tinha marcado bem, e ele também não marcou, e eu reclamei, aí discutimos. Aquilo estava prestes a acontecer com qualquer outro, porque estávamos em primeiro e o time foi caindo de produção. Mas a gente se fala até hoje. Converso com o Obina às vezes. Isso poderia acontecer com qualquer um, menos com a gente. Porque eu era jovem, todos gostavam de mim, e o Obina era super tranquilo, amigo de todo mundo. Não dá nem para acreditar que a gente brigou. A gente tinha uma amizade muito legal. Hoje gente comenta um na foto do outro, no Instagram. Ele está muito bem no Japão.



E como você lidou com as consequências depois? Perdeu espaço no time, foi emprestado...



- Eu sofri bastante naquela época, estava no clube desde os 10 anos. Do nada eles mandaram o Obina embora e me emprestaram para o Grêmio. Quando cheguei lá, o treinador contratou outros jogadores e me deixou no banco. Na época não gostei muito, pedi pra ser emprestado. Fui bem na Portuguesa, voltei para o Palmeiras e continuei treinando separado. Fui para o Vitória, joguei a Série B, e o time não subiu na última rodada. O Palmeiras pediu para eu voltar, e o Felipão me botou treinando separado. O César Sampaio me chamou e disse para confiar nele, para fazer uma boa Série B no Joinville que apareceria algo bom para mim. Eu confiei, fui, fiz uma Série B espetacular. Muitos clubes me procuraram, e fui para Sport. E daí tudo aconteceu até aqui.



Depois de tantas trocas, aos 25 anos, você acredita que finalmente encontrou a regularidade?



- Depois de correr muito por aí, rodar um pouquinho, sim. Foi bom ter acontecido isso, amadureci bastante. Aprendi a valorizar o meu trabalho, aprendi a ser homem. Cuidei bastante de mim. A partir do momento que você começa a ter foco, objetivo, começa a pensar em voos mais altos. Depois que coloquei na minha cabeça que tinha qualidade, que só dependia de mim, as coisas passaram a dar certo.



Você pensa em algum clube específico para seus "voos mais altos"?



- Meu sonho é o sonho de qualquer jogador, chegar em clube que está sempre disputando os melhores campeonatos do mundo. Meu sonho de jogar na Europa eu já realizei. Estar no Lazio, que tem estrutura muito boa. Acho que daqui para frente o que vier é consequência do meu trabalho. Se Deus achar que devo ir para um lugar melhor... Não que aqui não seja bom, aqui está ótimo. Não tenho nomes de clube, não. E se o Lazio seguir nas competições europeias, para mim será ainda melhor.



E já sonha com a seleção brasileira?



- Eu vou dar um exemplo claro para mim: o Hernanes. Ele fez ótimos campeonatos no Lazio e acabou indo para a Copa do Mundo. E eu tenho o exemplo dele, esse mesmo objetivo. Com foco, humildade, para realizar esse sonho. Vai depender muito de mim.



Mas a zaga na Seleção é concorrida, não é?



- Thiago Silva e David Luiz são grandes jogadores. Eles já têm experiência, estão em grandes clubes, e isso faz diferença. Não tem o que falar deles. Eu tenho que esperar, respeitar, esperar o meu momento. Tenho certeza que um dia vai aparecer a chance, sim, e vou poder defender a Seleção.



Por fim, voltaria ao Palmeiras?



- Nunca a gente pode dizer nem sim nem não, mas eu ia amar se um dia o Palmeiras abrisse as portas para eu poder mostrar o Mauricio que eu sou hoje, a volta por cima que eu dei. Poder dar exemplo para jogadores mais jovens, que não têm cabeça. E acho que um exemplo meu seria legal, um cara que errou feio, deixou o time na mão, acabou prejudicando. Poder mostrar que só depende de nós poder dar a volta por cima.







12474 visitas - Fonte: Ge

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