Torcida surgiu em 2011, quando Palmeiras mandava alguns de seus jogos no Canindé durante a reforma do Palestra Itália
O Palmeiras é visto como o grande exemplo de sucesso no programa de sócio-torcedor. O projeto da equipe paulista já superou a marca de 100 mil adeptos e proporciona uma importante injeção financeira à administração do presidente Paulo Nobre. No entanto, há adeptos do time de Palestra Itália que lutam contra a modernização e elitização.
Embora com número reduzido, se comparada a uma grande torcida organizada, a Camorra 1914, barra-brava palmeirense, é um lugar de resistência à elitização cada vez mais latente nos jogos e nas políticas do Verdão. Com cânticos e faixas típicas de hinchadas latinas, marca presença sempre nos setores atrás do gol: seja no Pacaembu, no Allianz Parque ou em qualquer outro lugar onde o time jogue.
A ideia de criar uma torcida barra-brava palmeirense surgiu em junho de 2011, durante uma partida do Verdão contra o Atlético-PR, no Canindé, pelo Campeonato Brasileiro. “Éramos um grupo de amigos que se reuniam sempre atrás do gol, curtíamos a forma das barras de torcer e sempre fazíamos músicas. Aí, decidimos oficializar”, disse Marcel Nemer, um dos fundadores da torcida.
Organização e ideais
As lideranças da Camorra têm, em sua maioria, ideologias anti-fascistas. “Em sua maioria”, pois a barra-brava é aberta a qualquer torcedor palmeirense que, segundo Marcel, “cante durante os 90 minutos e viva o Palmeiras”.
“Não temos associações e burocracias, justamente por esse nosso lado político. Não queremos nos instaurar como uma empresa, nós queremos receber todos palmeirenses que tenham o mesmo sentimento que o nosso: de apoiar o time em todos os momentos”, explicou.
Por conta dessa falta de burocracia e organização formal, a Camorra não tem uma estimativa de número de membros, já que é uma quantidade rotativa. “Não temos uma estimativa, porque não temos cadastro e o público é rotativo. Depende muito do jogo e de quem consegue ingresso”, falou Marcel.
A principal inspiração da Camorra é a Çarsi, torcida do Besiktas da Turquia famosa por seu engajamento político. Nas manifestações que tomaram conta de Istambul, em 2013, 35 membros da torcida foram presos com a acusação de "ajudarem a promover um Golpe de Estado”.
A torcida turca é engajada em causas sociais e tem como principal ideologias o anarquismo, o anti-racismo e anti-machismo. No caso da barra palestrina, alguns membros participam ativamente dos protestos do Movimento Passe Livre e de manifestações em geral.
“Não somos ligados a nenhum partido político, mas muitos integrantes se definem como anarquistas. Porém, repito: não são todos. A barra é aberta a todos os palmeirenses”, finalizou.
"Não temos associações ou burocracias", disse um dos fundadores da torcida, Marcel Nemer
Elitização do Palmeiras e do futebol brasileiro
Uma das maiores lutas da Camorra é contra o preço abusivo dos ingressos e a burocratização do futebol, principalmente nos estádios pós-Copa, o que acaba causando a elitização.
“Antes da Copa, esse processo de elitização já estava em andamento. Com os estádios novos, isso se concretizou.
Estamos vivendo, hoje, o que os ingleses viveram nos anos 90: o povo em volta do estádio, nos bares, e a elite dentro. Se você passar pela Turiassu (rua do Allianz Parque) no horário em que o Palmeiras está jogando, veja quantas pessoas estão lá fora, torcendo, cantando e pulando, vendo a partida pela televisão dos bares.
Hoje, ir ao Rio de Janeiro e ver o Palmeiras, contando caravana, ingresso e comida, sai mais barato que assistir a um jogo na arena”, pontuou Marcel.
O ingresso mais barato do Allianz Parque custa R$ 80. Além da barreira do preço, existem somente 7 mil lugares “populares” no estádio. Como o Verdão dá prioridade aos sócios-torcedores com maior número de pontos no programa, as entradas acabam em poucas horas. Nem mesmo a Camorra consegue estar completa em todas partidas.
“A torcida sempre está lá. Mas nem sempre as mesmas pessoas, porque muitos não conseguem ingressos no setor dito popular e acabam indo para outro lugar ou então ficando do lado de fora”.
Camorra 1914 segue a maneira latina de torcer: atrás dos gols e cantando todo o tempo
Avanti
A junção desses fatores, para Marcel e a maioria dos membros da Camorra, faz com que o Avanti, programa de sócios-torcedores alviverde, torne-se mais um fator elitizador dos estádios.
“Em tese, o Avanti seria muito bom: por R$ 70, o torcedor que tem dinheiro pode ir a todos os jogos gratuitamente e, por R$ 20, o torcedor que não é tão presente tem direito à meia-entrada. Porém, na prática é diferente. No Pacaembu, havia 10 mil lugares de arquibancada mais 12 mil de tobogã, totalizando 22 mil lugares populares. Já no novo Palestra, há apenas 7 mil lugares ‘populares’. Além disso, o dito ingresso popular, no Pacaembu, custava de R$ 30 a R$ 40. Hoje, custa R$ 80”.
Allianz Parque trouxe modernização, mas preços altos deixam acesso restrito(Foto: Fábio Soares/Futeboldecampo.net)
Enquanto isso, nos rivais...
A Camorra não é a única que vem militando contra a elitização do futebol na cidade de São Paulo. Dias antes do Choque-Rei no Allianz Parque, que terminou com a vitória do Palmeiras por 3 a 0, adeptos da Mancha Alviverde, maior organizada do Verdão, e da Tricolor Independente, do São Paulo, juntaram-se para protestar contra os preços abusivos cobrados pela diretoria palmeirense por um ingresso no setor de visitantes - o são-paulino que quisesse ir à casa palmeirense acompanhar a partida teria de desembolsar a quantia de R$ 200.
Ainda no clube do Morumbi, também existe o descontentamento com os valores para assistir a um jogo do time na Copa Libertadores deste ano. Antes do jogo contra o San Lorenzo-ARG, no dia 18 de março, houve protesto dos tricolores em frente ao estádio, contra os R$120 cobrados por um ingresso de arquibancada.
Preço das entradas para os jogos da Libertadores em 2015 vem irritando torcedores são-paulinos
No Corinthians, a nova arena de Itaquera já é, mais do que nunca, considerada a casa do Timão, já que, jogando por lá, o time perdeu somente uma vez - na estreia diante do Figueirense, em 18 de maio do ano passado. Porém, principalmente nos primeiros meses atuando no novo estádio, os altos preços cobrados pelo ingresso foram muito questionados pela principal organizada do Timão, a Gaviões da Fiel.
Criticado, o ex-presidente Andrés Sanchez, principal responsável pela administração da Arena, chegou a negar que os ingressos estivessem caros, e explicou os valores como uma forma de ajudar a abater as dívidas que o clube fez com a construção.
Em agosto de 2014, torcedores corinthianos protestaram contra preço dos ingressos no Parque São Jorge
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