Chileno precisa escolher entre ser mais uma peça do grupo do Palmeiras ou ser a prima-dona em outras bandas
A fase final do Paulistão começa no próximo final de semana. A temporada começa, de fato, com esse mini-torneio de tiro curto: em quatro rodadas define-se aqui, assim como em quase todos os outros estados, os primeiros campeões da temporada.
Nesses jogos preliminares, a serem completados na rodada de meio de semana quando enfrentaremos o Ituano, Oswaldo de Oliveira tem testado várias formações. No princípio, Robinho não rendeu tanto como meia; mas quando foi recuado para jogar como volante, encaixou-se perfeitamente. A entrada de Arouca complicou sua posição entre os titulares, e Robinho voltou a atuar mais avançado, perdendo rendimento.
Diante da impossibilidade de escalar Cleiton Xavier e Valdivia, no entanto, seguiu sendo o preferido do treinador para fechar o setor, que conta com Dudu como titular absoluto pela esquerda, enquanto Allione e Rafael Marques disputavam o lado direito.
Robinho parece ter encontrado uma forma de jogar nessa função e fez partidas brilhantes contra o SPFC e contra o Mogi Mirim – entre esses jogos, em Campinas, uma jornada para ser esquecida de todo o time, um ponto fora da curva. Mas nas duas últimas partidas disputadas no Allianz Parque, Oswaldo encontrou uma formação realmente promissora, com Rafael Marques, Robinho, Dudu e Cristaldo.
Ocorre que Valdivia e Cleiton Xavier colocam-se à disposição e novamente Oswaldo vai precisar quebrar a cabeça. Para encaixar Cleiton Xavier, a dúvida parece ser simples: basta escolher entre ele e Rafael Marques o pilar do lado direito, enquanto Allione se recupera de uma cirurgia. Se quiser complicar um pouco, Oswaldo pode pensar em mover Robinho para compor a cabeça-de-área, mas aí precisaria sacar Gabriel ou Arouca, que à esta altura formam a melhor dupla de volantes do país.
Rafael Marques, apesar de vir de duas partidas discretas, foi fundamental no clássico: marcou dois gols e mostrou que é importante ao se posicionar como fializador quando a jogada é armada em função do camisa 7, fechando no segundo pau tanto pela direita como pela esquerda, já que eles trocam de lado constantemente. Se colocar Cleiton Xavier no lugar de Rafael Marques, Oswaldo vai mudar um pouco a forma do time jogar e vai perder poder de finalização na área. Mas pode ganhar em agilidade e finalização de fora da área.
Com relação a Valdivia, só há uma escolha a ser feita: o chileno concorre com Robinho, e decidir por sacá-lo do time significa simplesmente sacrificar o jogador que mais fez gols e que mais deu assistências durante o ano. Significa dar uma carteirada para privilegiar um jogador que tem seu prosseguimento no clube indefinido, em detrimento a prestigiar quem mostra todos os dias que está 100% comprometido com o projeto. Significa interromper todo o desenvolvimento da pré-temporada para arriscar tudo em um jogador que desfalca o time de forma consistente em quase 60% dos jogos.
Valdivia ainda pode ser bastante útil se entrar como no último sábado, frente ao Mogi: joga meia hora por partida, não força a coxa de vidro, pega um adversário já cansado e possivelmente já carregado de cartões, e assim terá muito mais liberdade para fazer aquilo que faz de melhor: jogadas decisivas, com metidas de bola precisas e que enlouquecem a zaga adversária. Aliás, perdoem-me pela auto-referência, mas essa bola já foi cantada há quase seis meses neste post.
Mas Valdivia precisa decidir se quer realmente fazer parte deste grupo. O projeto iniciado em dezembro pressupõe um grupo de jogadores equilibrado, com um banco forte, com qualidade suficiente para suprir ausências causadas por suspensões e lesões sem enfraquecer o time, composto por atletas comprometidos sobretudo com o coletivo e não com o individual, com contratos que determinam os ganhos de acordo com o quanto contribui com o grupo.
Os 20 jogadores que chegaram ao Palmeiras neste intervalo parecem estar perfeitamente alinhados com este espírito, assim como os remanescentes das campanhas anteriores. Valdivia precisa decidir se quer se encaixar neste perfil, ou se precisa mesmo ganhar muito acima do que seus companheiros mesmo sem jogar – e ser o titularzão nas poucas vezes que estiver à disposição, comprometendo todo um entrosamento adquirido à custa de muito trabalho coletivo.
Se eu fosse o chileno, me esforçaria para me posicionar no elenco de forma a ser sempre o primeiro escolhido para substituir qualquer um do quarteto titular, no decorrer de todas as partidas. A esta altura da carreira, seria a melhor forma de ganhar bastante dinheiro sem se expor tanto, contribuindo de fato para o grupo e para quem paga seus salários, de forma digna. De preferência, sem dar muitas entrevistas e sem usar as redes sociais.
Mas será que ele consegue ser um atleta de grupo, ou será que precisa desempenhar o mesmo papel dos últimos cinco anos, o de prima-dona intocável, monopolizador da atenção da imprensa que fica mais da metade do tempo no DM ganhando mais que todos os companheiros? Se for assim, é realmente melhor que procure outro clube, porque sem ele o time está evoluindo de forma bastante satisfatória e existe todo um mercado para eventuais reforços.
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