O Palmeiras começou a se reinventar com o Allianz Parque.
O São Paulo Futebol Clube vive dias ruins. Parece estar atrás dos demais times do Estado, oscila contra times pequenos e acumula derrotas e jogos medíocres contra seus maiores rivais. Fora de campo, uma guerra política que não tem data para terminar. Para piorar, o clube segue sem títulos relevantes desde 2012, alimentando a impaciência da torcida.
Fôssemos nós os derrotados no Choque Rei, não precisaria mudar muita coisa no parágrafo acima. Bastaria substituir o time do Morumbi pelo Palmeiras. Nosso último título expressivo também foi em 2012. Também vivemos em guerra política. Não tivéssemos vencido, amargaríamos um imenso jejum em clássicos, com o agravante de um desempenho horroroso dentro de campo desde 2002.
Ocorre que... vencemos! E como há muito tempo não conseguíamos fazer, empurramos as nuvens cinzas e a tempestade para o outro lado do muro. E como há muito não ocorria, o rival do Morumbi não conseguiu manobrar para nos devolver ao nosso caos costumeiro.
Mas será apenas uma breve tempestade a visitar os céus do Jardim Leonor? Serão apenas dias ruins e mau futebol? Ou há algo maior ocorrendo nos bastidores?
Quando o Palmeiras aprovou a reforma do seu estádio, eu me lembro de amigos torcedores do SPFC vivendo um intenso processo de negação. O estádio do Palmeiras não seria tudo isso. O Morumbi seria reformado e receberia a Copa. Os shows jamais migrariam para nossa Arena. As receitas não seriam tão grandes. Todos sabemos o fim dessa história. Parte substancial do bom momento que vivemos hoje em dia deve-se à capacidade que o clube teve, num momento muito específico, de reinventar seu patrimônio e se lançar para o futuro.
Fora de campo, entretanto, existe alguma diferença estrutural entre os clubes e gestões além da imensa diferença entre uma Arena multiuso e um estádio?
Entendo que não. E explico o porquê.
Olhe para o Palmeiras há 3 anos, gerido por Arnaldo Tirone e tendo como homem forte do seu futebol Roberto Frizzo. Para ficar em poucos fatos, Frizzo foi o diretor de futebol que afirmou que "o Palmeiras não é marina para saber de barcos". Foi também o diretor que aceitou a sugestão de um pastor para contratar Carlos Alberto. E que avaliou se a ideia era boa ou ruim perguntando (sim, pasmem!) ao seu filho, conforme ele mesmo relatou.
Existe o Palmeiras de Nobre e o Palmeiras de Tirone? Não. A estrutura que fabricou estes dois presidentes é praticamente a mesma. Um conselho repleto de vitalícios, comandado por alguns homens influentes (Della Monica, Clemente Pereira, Mustafá Contursi). Tirone e Nobre chegaram ao poder, principalmente, graças ao apoio de um desses cardeais palestrinos: Mustafá.
Olhe agora para o São Paulo Futebol Clube. Procure no sítio eletrônico do clube o seu estatuto, para entender sua estrutura política. Você não o encontrará. A mesma estrutura repleta de vitalícios que produziu Juvenal Juvêncio produziu Carlos Miguel Aidar.
Tanto lá como cá, estruturas políticas arcaicas.
Existe, entretanto, uma diferença fundamental entre os dois clubes. O Palmeiras já navegou pelas águas do inferno. Sua torcida comeu o pão que o diabo amassou e, apesar de todos os pesares, fez (e faz) a luta política necessária para tirar o clube das garras do passado. Os sucessivos fracassos desportivos forjaram uma das torcidas mais engajadas do País, que iniciou um processo de renovação conquistando eleições diretas para presidente mediante protestos nas ruas e ações na Justiça.
Do lado são-paulino, ainda existe um mistério. Estará o SPFC às portas de um martírio semelhante ao vivido pelo palmeirense? Ou se recuperará nas próximas rodadas? E se entrar nas águas turbulentas de sucessivas péssimas gestões, terá a capacidade de se reinventar?
As respostas virão apenas nos próximos capítulos. De olho no nosso jardim, o torcedor palmeirense deve ter a consciência de que muito mais precisa mudar em nossa política para consolidarmos nossas recentes evoluções.
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