Nada de mármore, sistemas de entretenimento ou assentos marcados. Disputado ontem à tarde, no Estádio Nicolau Alayon, na Barra Funda, pela Série A3 do Paulistão, o tradicional clássico da capital entre Nacional e Juventus (apelidado de JuveNal) trouxe de volta ao futebol paulistano a essência do... futebol.
Para quem está acostumado aos luxos e burocracias de Arena Corinthians e Allianz Parque, a experiência de assistir a um jogo de Série A3 é única. A revista da Polícia Militar na torcida é bem menos rigorosa, mandantes e visitantes se misturam, jogadores e torcedores conversam pelo alambrado, um único bar é dividido por todos os presentes no estádio, ambulantes trabalham sem necessidade de vínculo a terceirizadas...
– Sou marreteiro, põe aí na sua matéria. Venho em todos os jogos do Nacional para vender cocada e picolé. Lá no estádio do Palmeiras, aqui do lado, é mais difícil porque tem o “rapa”, né? Aí complica. Aqui não tem isso. Aqui deixam a gente trabalhar – disse Raimundo, de 58 anos.
Outra diferença é o preço dos ingressos. Enquanto bilhetes nas novas arenas chegam a custar centenas de reais, o Nacional cobrou R$ 20 (meia R$ 10) para mandantes e visitantes, em qualquer setor.
– Tudo é diferente. Aqui ou na Javari é muito mais aconchegante. De beleza fica complicado, né? As novas arenas têm luxo. Mas o ingresso mais barato no Allianz para sócio-torcedor da minha idade é R$ 40. Aqui eu paguei R$ 10. E eu adoro o Juventus, viu? Isso aqui é minha vida – contou Toninho, de 78 anos.
Juventus comparece em peso no estádio do... por LANCETV
– Eu e meu filho de oito anos somos corintianos. Mas nunca fomos na Arena, é muito caro. Se eu levá-lo lá, o que eu vou pagar vai dar pra ir em quatro jogos do Juventus – comentou Danilo, que, com a esposa Camila, levou o pequeno Murilo num JuveNal pela primeira vez.
Talvez a única semelhança entre o JuveNal e outros clássicos paulistanos seja a rivalidade. Torcedores se xingaram, ameaçaram um ao outro, entoaram cânticos provocativos... Ainda assim, é diferente. Num princípio de briga entre nacionalistas e juventinos, um PM se aproximou e disse “Parou, né? Vocês são amigos. Não precisa disso”. Ao fim do jogo, os “rivais” foram juntos ao bar do estádio.
– Hoje, como é clássico, discutimos mais com os caras. Mas não tem briga. Vai todo mundo pegar trem na Água Branca e ninguém vai tretar – falou um nacionalista.
No charmoso estádio do número 2.477 da Marquês de São Vicente, o Nacional venceu o Juventus por 2 a 0, no clássico de número 69 em sete décadas de história do JuveNal. Fora das quatro linhas, vitória (ou resistência) do futebol, esse mesmo de sete, oito, nove décadas atrás.
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