Na obra-prima de Charles Laughton, “O Mensageiro do Diabo”, traz Robert Mitchum na figura de um padre vigarista que tem as palavras “ódio” e “amor” tatuadas nas mãos. Para simular o confronto que permeia a humanidade, ele as entrelaça: uma briga de amor e ódio.
É esse o sentimento que o palmeirense tem por Valdivia. Amá-lo ou odiá-lo? O jogo mostra bem o antagonismo das sensações. O time começou com Robinho centralizado entre os meias do 4-2-3-1 e modelo de jogo mantido: ataque procurando os lados, saída de 3 na transição ofensiva e time procurando posse contra um Botafogo num 4-5-1, com Diogo retornando junto a Zé e formando uma linha de 5 no meio-campo.
Pois bem, bola rolando e as dificuldades apareceram: muita posse e poucas conclusões, mesmo com Dudu cortando pra dentro. “Ah, mas o Palmeiras no sabe jogar contra pequenos!”. Ledo engano. Este é o tal do futebol moderno, amado e odiado tal como as mãos de Mitchum: com a diminuição de espaços e coletivismo, hoje é mais difícil jogar contra pequenos: eles nunca dão espaço e são rápidos no contragolpe.
É o que o Corinthians faz, ou melhor, o que a Ponte Preta fez ontem. O futebol, hoje, é um jogo de quem tem abre mais espaço. E para abrir espaços, Oswaldo treina a inversão de posições, para ludibriar o marcador adversário. Dudu vinha por dentro, Robinho na direita, Rafael no centro…a partir dos 15 minutos, uma gama de movimentações foi acionada, sem efeito pelo estreitamento do Bota. Partida boa do time de Sócrates.
Zé Roberto sentiu o músculo, Victor Luis entrou e o Palmeiras procurou acelerar as transições para pegar a defesa voltando - olha o espaço aí de novo! Com o camisa 16, a jogada pelo lado esquerdo ganhou força: ele tabelava com Dudu, que cortava e saía por dentro ou passava para o centro. Mas quem estava lá para receber? Ninguém! Só ver o frame.
Com o veterano Zé Roberto em campo (pro lado do Bota, bom registrar), o oponente do Verdão formou um 4-5-1 mais definido. Oswaldo chamou então Valdivia, para delírio ou desprezo da torcida, e manteve o 4-2-3-1 com Robinho perto de Arouca para melhorar a transição e acelerar as jogadas. O tempo já corria contra.
O juizão não ajudava (e o patrocínio da Crefisa, hein? Nada a ver a “polêmica” criada), o tempo passava…e surgiu o momento que o camisa 10, armador que é, ocupou o círculo central, recebeu a bola de Dudu após uma jogada pelo lado e fez o que sempre faz: armou o time, vendo um espaço vazio que Rafael Marques projetou - veja o frame - e fez o cruzamento para Leandro: 1x0.
A cada ano que passa o futebol se torna mais complexo. É um movimento natural, não é demérito. Por isso é importante ter algumas cartas na manga para furar um bloqueio defensivo - poderia ser um chute de fora de Gabriel contra o XV, pode ser alguém com extrema visão de jogo, pode ser o jogo reativo contra o São Paulo. Há quem goste, há quem odeio - tal como Valdívia.
5055 visitas - Fonte: GE