Roberto Carlos em 1992, no União São João: ala tinha tudo certo com o PSG, mas...
O Paris Saint-Germain é hoje um dos times mais ricos do mundo, com "dinheiro infinito" vindo do Catar e habitué da Uefa Champions League. No final dos anos 90, porém, a equipe era apenas "só mais uma" no futebol francês, e mal possuia títulos e dinheiro. Tentando mudar esse status, o clube passou a investir em contratações de impacto nos anos 90, como o meia Raí, e fechou aquele que poderia ter sido o maior negócio de sua vida em 1995. No entanto, por um pequeno erro de cálculo, acabou ficando sem o atleta que seria um dos laterais da história do futebol mundial.
O protagonista dessa história é Franck Henouda, agente Fifa franco-argelino radicado no Brasil e homem que já viu de tudo quando o assunto é mercado da bola. Em 1992, quando ainda tentava fechar seus primeiros negócios, ele apresentou ninguém menos que Roberto Carlos, então no União São João de Araras, ao PSG, que se apaixonou pelo ala.
"À época, o técnico do PSG era o Luis Fernández [ex-jogador da seleção francesa]. A referência de lateral na Europa era o Lizarazu, que ia e voltava, e o PSG queria alguém como ele. Falei para o Fernández: 'Se você está procurando um lateral, eu vi um jogando no interior de São Paulo por um time pequeno chamado União São João, o cara joga muito!'. Em seguida, levei as fitas dos jogos para ele ver", lembrou Henouda, em entrevista à Rádio ESPN.
O treinador do Paris Saint-Germain imediatamente se apaixonou por Roberto Carlos, e pediu sua contratação. No entanto, como o Paulistão acabou antes do Campeonato Francês, a Parmalat foi mais rápida e fechou com o lateral para o Palmeiras. Na França, o clima era de decepção, mas Henouda não se abalou.
Em 1995, o hoje agente Fifa recomendou à diretoria do PSG que entrasse em contato com José Carlos Brunoro, gestor da parceria entre Palmeiras e Parmalat, para comprar o ala, que já estava jogando até pela seleção brasileira. Animados, os franceses foram à carga novamente.
"Fechamos tudo! O Brunoro conversou com o Fernández e tudo mais, ele disse assim: 'Nós temos dois jogadores excepcionais pra defesa, que são o Antônio Carlos e Roberto Carlos'. O PSG gostou dos dois, mas, naquela época, tinha limite de estrangeiros. Por isso, fechamos só com o Roberto", contou.
O acerto foi comemorado com um grande jantar na churrascaria "Fogo de Chão", próxima ao aeroporto de Congonhas. Henouda voltou à França com um sorriso de orelha à orelha, já que havia concluído seu primeiro grande negócio no mundo da bola. A venda do lateral sairia por US$ 3 milhões (R$ 9,2 milhões na cotação de hoje), e a diretoria da equipe parisiense estava soltando fogos.
"Fui até Londres, porque a Umbro, que era a fornecedora da seleção brasileira, organizou um torneio de verão com Brasil, Inglaterra e outros times que ela patrocinava. Aí encontrei um diretor do PSG e perguntei: 'E aí, gostou do seu novo lateral?'. Ele disse: 'Pô, o cara tem dois Lizarazu em cada perna!' (risos)", narrou.
Mas Henouda não podia imaginar o que estava por vir...
Em um movimento inesperado no mercado, a diretoria do Paris Saint-Germain anunciou em julho de 1995 a contratação do atacante Julio Dely Valdés, conhecido como "Pelé do Panamá". À época uma sensação do Cagliari, da Itália, Valdés chegaria para a vaga de George Weah, que havia sido negociado com o Milan.
Dely Valdés, o 'Pelé do Panamá'
Longe de ser uma contratação ruim, já que o panamenho fez certo sucesso em Paris e foi um dos grandes nomes da conquista da Copa da Uefa de 1995/96 pelo time francês. O problema é que, com a chegada do "Pelé", o número de vagas de estrangeiros ficou cheio, e o negócio por Roberto Carlos acabou melando.
"Três dias depois de fechar negíocio no Brasil, para a minha surpresa eles contrataram o Dely Valdés, aquele que tinha um dente de ouro! O cara tinha feito vários gols no Italiano, precisavam de alguém pro lugar do Weah e desistiram do negócio pelo Roberto Carlos...", recorda Henouda.
Dois meses depois, a Inter de Milão aproveitou a "sopa" e contratou o ala da seleção por US$ 6 milhões. O jogador ficou apenas um ano na Itália, já que, na temporada seguinte, acertou com o Real Madrid, clube no qual jogaria por 11 anos e conquistaria uma infinidade de títulos, tornando-se um dos maiores de todos os tempos.
Já Dely Valdés deixou o PSG em 1997, sem nunca ter provado de fato que era um "novo Pelé", para jogar no Real Oviedo, da Espanha. Ele encerrou a carreira em 2006, e hoje trabalha como técnico de futebol, assim como Roberto Carlos.
Roberto Carlos acabou deixando o Palmeiras para jogar na Inter de Milão
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