O gol, a rotina semanal de partidas, a movimentação na grande praça que leva o nome de Charles Miller e a presença do torcedor, seja na arquibancada do portão principal ou no famigerado tobogã. Tudo isso deixou de ser frequente no estádio cuja trajetória se confunde com a história do futebol paulista. O Pacaembu completa 75 anos nesta segunda-feira, mas não tem muito o que comemorar.
Há exato um ano, o Corinthians disputou a última partida como mandante no estádio, em uma vitória por 2 a 0 sobre o Flamengo. Aquele jogo teve um tom todo sentimental, já que o local foi a casa alvinegra durante grande parte de sua existência. Depois dele, todos os jogos como mandantes foram para a moderna Arena de Itaquera.
O Palmeiras, por sua vez, não atua no local desde novembro do ano passado, quando sua nova arena ficou pronta e ele assim deixou de atuar na casa provisória que o recebeu por mais de quatro anos. Dessa forma, o Pacaembu recebeu apenas cinco jogos profissionais em 2015 (Santos e São Paulo mandaram alguns jogos lá).
O atual cenário do estádio contrasta com a realidade vivida no ano passado, quando foi palco de 22 confrontos nos primeiros quatro meses de 2014. Com isso, a queda da receita ligada ao aluguel do campo chegou a 80%. A diferença chega a R$ 965,8 mil -- no ano passado, a prefeitura de São Paulo arrecadou R$ 1,197 milhão, contra R$ 240 mil em 2015.
Segundo a prefeitura, o custo mensal de manutenção do complexo do Pacaembu é de R$ 475 mil. Não é possível, entretanto, separar as contas do estádio. "Todos os contratos de prestação de serviços para o Pacaembu englobam todo o complexo poliesportivo. Por isso, não é possível especificar o gasto mensal apenas com o estádio", explicou, em nota, a Secretaria Municipal de Esportes, Lazer e Recreação.
No espaço, além do campo de futebol, há uma piscina olímpica aquecida, um ginásio poliesportivo coberto, um ginásio de saibro coberto, quadra externa de tênis, quadra poliesportiva e três pistas de cooper, além de duas salas de ginástica e um posto medico.
Fundo Municipal
A prefeitura explica que o valor arrecadado com o aluguel dos espaços é destinado a um Fundo Municipal de Esportes, que tem a responsabilidade de gerir os recursos. Na receita, estão patrocínios, multas, consórcios e convênios.
De acordo com a prefeitura, além de partidas, o Pacaembu pode receber gravações de comerciais, corridas que terminam no complexo e até desfiles de moda. "O Pacaembu recebe eventos externos pelo menos uma vez por semana", ressaltou.
No caso do futebol, a prefeitura cobra um aluguel mínimo para ceder o campo ao time mandante. Nos jogos diurnos, o valor é de R$ 28,6 mil. Nos noturnos, R$ 29,7 mil. Mas, segundo um decreto de dezembro do ano passado, os clubes, no primeiro caso, têm de repassar 12% sobre a receita bruta ou valor máximo de R$ 65,1 mil. Na partidas disputadas à noite, 15% ou máximo R$ 81,5 mil.
Alternativa
No começo deste ano, a prefeitura admitiu que há dificuldade do modelo atual. "O Pacaembu encontra-se atualmente subutilizado e sem condições técnicas de servir à população da forma como originalmente foi desenhado", ressaltou em um trecho do comunicado oficial destinado às empresas interessadas no espaço.
Essa é uma das saídas da prefeitura: a concessão do complexo à iniciativa privada. A ideia é modernizar todo o complexo, nos padrões das "novas arenas multiusos", com direito à cobertura parcial ou total. O processo, inclusive, já está em andamento. Seis grupos participam da segunda etapa, que consiste na apresentação do projeto -- isso deve ocorre até o começo de julho.
O grupo vencedor terá de cumprir alguns requisitos, como o respeito ao tombamento do Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico). Já o Museu do Futebol ainda será gerido pelo Governo do Estado, sem fazer parte da concessão.
O Santos já deu início a acordo com uma das empresas concorrentes na licitação para gerenciar o estádio. O clube paulista já prometeu mandar 30% de seus jogos no local. O Corinthians, antes da construção de sua própria arena, também cogitou gerir o local.
Palco de decisões
O Pacaembu recebeu no ano passado as duas finais do Campeonato Paulista e, com isso, encerrou um período de protagonismo no futebol brasileiro. Em 2011 e 2012, o estádio foi palco da decisão da Libertadores. Há quatro anos, o Corinthians comemorou o título do Brasileirão no local, que também abrigou as finais estaduais de 2009, 2010, 2011, 2013 e 2014.
Neste ano, Corinthians e Palmeiras, com suas novas arenas, não atuaram nenhuma vez no local (a equipe Sub-20 do clube alvinegro disputou a final da Copa São Paulo). O Santos utilizou o Pacaembu uma vez, mesmo número da Portuguesa. Já o São Paulo optou por mandar dois jogos no estádio. Em 2013, o estádio recebeu 61 partidas, contra 41 no ano passado.
De acordo com Francisco Dada, coordenador do complexo do Pacaembu, a tendência é que o estádio volte à realidade da década de 1980, quando o Corinthians atuava também no Morumbi. Naquele período, o time corintiano jogou 208 vezes no estádio -- ou seja, quase 21 vezes por ano. A tendência se repetiu nos anos 1990, com 233 jogos em dez anos (média de 23,3 a cada 12 meses).
Confira os números do Pacaembu nos quatro primeiros meses de 2014 e 2015
2015
5 jogos
São Paulo 4 x 2 Capivariano
São Paulo 2 x 0 XV de Piracicaba
Portuguesa 1 x 3 Santos
Santos 4 x 2 Linense
Santos 1 x 0 Audax
Total arrecadado com aluguel: R$ 240.006,30
2014
22 jogos
Palmeiras 0 x 1 Fluminense
Corinthians 2 x 0 Flamengo
Palmeiras 2 x 0 Vilhena
Santos 1 x 0 Ituano
Ituano 1 x 0 Santos
Palmeiras 0 x 1 Ituano
Palmeiras 2 x 0 Bragantino
Corinthians 3 x 0 Atlético Sorocaba
Palmeiras 3 x 2 Ponte Preta
Corinthians 2 x 3 São Paulo
Palmeiras 1 x 0 Portuguesa
Palmeiras 2 x 0 São Bernardo
Corinthians 3 x 0 Comercial
Corinthians 3 x 2 Rio Claro
Palmeiras 1 x 0 Ituano
Corinthians 1 x 1 Palmeiras
Palmeiras 1 x 1 Audax
Corinthians 0 x 2 Bragantino
Palmeiras 2 x 0 São Paulo
Palmeiras 1 x 0 Penapolense
Corinthians 0 x 1 São Bernardo
Palmeiras 2 x 1 Linense
Total arrecadado com aluguel: R$ 1.197.894,99
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