Palmeiras 'supercampeão' paulista de 1959 enfileirado (Foto: Divulgação)
A nomenclatura Clássico da Saudade não é tão conhecida como Dérbi, San-São, Choque-Rei ou Majestoso, mas também designa um dos mais relevantes duelos regionais paulistas, entre Santos e Palmeiras.
A pouca difusão do apelido talvez tenha relação com o fato de que os clubes só haviam se cruzado uma vez na decisão do Estadual antes de 2015, lá em 1959. Desde então, as forças que dominaram os anos dourados do futebol nacional jamais se encontraram em finais.
O Paulistão naquela época era disputado por pontos corridos, e só uma coincidência ou um equilíbrio absurdo fariam dois clubes se igualarem em número de pontos ao término de 38 rodadas. Pois foi exatamente o que houve em 59, quando Santos e Palmeiras terminaram o campeonato com 63 pontos somados.
A solução da jovem Federação Paulista de Futebol foi fazer um melhor de três para definir o campeão. Sem datas, os jogos foram transferidos para o ano seguinte e ocorreram nos dias 5, 7 e 10 de janeiro de 1960.
– A gente jogava demais, não tinha férias. Acabava o Paulista e ia excursionar. E o pessoal de hoje que reclama... – brinca o ex-goleiro Valdir de Morais, um dos mais lendários da história do Palmeiras e único ainda vivo da escalação alviverde.
Valdir de Morais, aliás, era fruto de uma reformulação iniciada no Palmeiras após a venda de Mazzola. O clube havia sido vice-lanterna estadual dois anos antes e decidiu apagar os fracassos de uma vez. Deu certo.
Já o Santos era o supercampeão, tinha Pelé brilhando e era o time a ser batido no país cujo título mundial ainda estava fresco. A badalação era tão forte que o Santos terminou 1959 com cem jogos realizados por causa das viagens ao redor do mundo. Era uma máquina, mas as engrenagens já estavam desgastadas.
– Jogamos com Pagão e Jair no sacrifício, era muito desgaste. Mas quem ganhasse estava em boas mãos, eram forças enormes – relata Pepe, autor de dois gols nas finais.
Um ano antes, Santos e Palmeiras haviam aberto uma hegemonia que durou até 1970. O campeão estadual era um ou outro. E "só" o Santos de Pelé e o Palmeiras da Academia. Em 1959, o título ficou no Palestra Itália, com empates em 1 a 1 e 2 a 2 e uma vitória por 2 a 1 no terceiro jogo – gols de Julinho Botelho e Romeiro, para o Verdão, e Pelé, pelo Peixe.
Mas nem o Rei segurou o Palmeiras há 55 anos, quando perdeu sua primeira final. Tanto tempo depois... Quem leva agora?
AS CURIOSIDADES DO PAULISTÃO DE 59
Na lua de mel - O Santos terminou 59 exausto e deu folga para alguns atletas que estavam mal fisicamente, como Pagão. O atacante aproveitou a folga para se casar e partiu em lua de mel para Poços de Caldas (MG). O problema é que no meio das finais o técnico Lula mandou chamá-lo de volta ao time...
Quem não tem cão... - O Santos fez uma temporada em Ribeirão Pires (SP) para se preparar para as finais. Na hora de ir ao Pacaembu não havia táxis suficientes disponíveis e a delegação foi para a capital na caçamba de um caminhão.
Que fim levou? - O finalista de 1959 que morreu mais cedo foi o zagueiro palmeirense Aldemar, em 1977. Considerado por Pelé um de seus melhores marcadores, morreu no RJ. Segundo um jornal da época, ele estava pobre após sofrer com problemas familiares e foi atropelado aos 42 anos.
Ninguém ganha, pô! - Santos e Palmeiras foram derrotados na última rodada do Paulistão, antes da melhor de três. O Verdão perdeu do São Paulo e os jogadores foram ao vestiário ouvir no radinho de pilha os últimos minutos do Peixe, que também não venceu.
AS COINCIDÊNCIAS ENTRE 2015 E 1959...
HEGEMONIA
O Santos vinha de três títulos e um vice antes de 59. Agora em 2015 são sete finais seguidas.
FILA
O Palmeiras não era campeão desde 1951 e encerrou o jejum. Agora, não vence o Estadual há sete anos.
LESÕES
Nos primeiros jogos da final de 59, o Santos não teve Pagão e Jair Rosa Pinto lesionados. Em 2015, Robinho foi baixa crucial.
RECONSTRUÇÃO
Penúltimo em 57, o Palmeiras contratou Oswaldo Brandão e mudou tudo. Em 2015, repetiu isso com Oswaldo de Oliveira.
COM A PALAVRA
VALDIR DE MORAIS, ex-goleiro do Palmeiras
O que eu posso dizer é que foi um clássico de dois gigantes. O Palmeiras tinha um time de muita expressão e experiência e o Santos vinha na grande fase do Pelé, isso sem depreciar os outros. Era um respeito mútuo.
Mas ali quebramos uma fila que vinha desde 1951 e foi muito bom para o Palmeiras ganhar um título daquela natureza, naquele ambiente. Isso tudo marcou o início de uma geração vencedora e ninguém nunca vai esquecer. O símbolo da força dos clubes é que tínhamos seis jogadores convocados para a Seleção ao mesmo tempo.
Para mim é uma alegria ver que o Palmeiras se recuperou na mão do Oswaldo de Oliveira. Ainda há talento dos dois lados, mas o Palmeiras é mais bem orientado e se tiver um vencedor espero que seja ele. O importante é esse clássico não perder sua essência.
COM A PALAVRA
PEPE, ex-ponta do Santos
Em janeiro e fevereiro fazíamos excursões pela América e em maio e junho pela Europa. Então chegamos à final de 59 cansados para três jogos em uma semana. E foi assim que o Palmeiras conseguiu o título. Mas de fato eram duas grandes forças. Em uma época que o Corinthians estava na fila e o São Paulo tinha mais baixos que altos, Santos e Palmeiras dominaram. Era sempre um ou outro o campeão, não tinha saída.
Claro que hoje em dia o futebol mudou muito, mas fico feliz em ver que eles chegaram novamente à decisão. Não só porque isso traz boas lembranças, mas porque são dois times que priorizam o ataque, não ficam com todo mundo atrás. Eu gosto dos times, mas espero que o Santos consiga fazer a vantagem que precisa, estou na torcida também.
FICHA TÉCNICA
PALMEIRAS 2 x 1 SANTOS (3º jogo)
Local: Estádio do Pacaembu, em São Paulo
Data: 10 de janeiro de 1959
Árbitro: Anacleto Pietrobon
Público/Renda: 37.023 pagantes; Cr$ 3.076.375,00
GOLS: Pelé, aos 14/1ºT (0-1), Julinho Botelho, aos 43/1ºT (1-1) e Romeiro, aos 3/2ºT (2-1)
PALMEIRAS: Valdir, Djalma Santos, Valdemar Carabina, Aldemar e Geraldo Scotto; Zequinha e Chinesinho; Julinho Botelho, Américo Murolo, Romeiro e Nardo.
Técnico: Oswaldo Brandão.
SANTOS: Laércio, Urubatão, Getúlio e Dalmo; Chico Formiga e Zito; Dorval, Jair Rosa Pinto, Pagão, Pelé e Pepe. Técnico: Lula.
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