Desde que Santos e Palmeiras garantiram presença na decisão do título paulista, ficou evidente que ficavam no lucro, independentemente de quem levasse a taça para casa após o jogo de ontem.
Ambos viveram período complicado, na virada da folhinha de 2014 para 2015, e passaram por reconstrução a toque de caixa. Sem retórica de autoajuda, nem com recurso a chavões, pelos percalços superados deveriam sentir-se vitoriosos e aproveitar o momento e embalar pros próximos grandes desafios.
O trabalho de manter o astral em alta começou já nos vestiários, tão logo terminou a cerimônia de premiação. Santistas animados com outra conquista bateram no peito cheios de confiança e prometeram não parar no terreno doméstico.
Palmeirenses abatidos por ver a glória escorrer pelos pés também encontraram pontos positivos para explorar e colher dividendos adiante. Os dois lados estão certos.
Mais certeiro, porém, foi o Santos no clássico de encerramento da competição. Marcelo Fernandes seguiu ao pé da letra o roteiro "como sair do aperto e anular vantagem do adversário".
O treinador campeão estadual colocou pressão no Palmeiras já no apito inicial de Guilherme Ceretta de Lima. Como? De forma simples e óbvia: mandou o time para cima, apostou na eficiência do meio-campo e na capacidade de Robinho, Geuvânio e Ricardo Oliveira de enrolar os zagueiros verdes.
Oswaldo de Oliveira optou também por outro script manjado que nem sempre funciona, o "como segurar-se atrás e levar desespero ao rival". Em português simples, jogar pelo empate. Não obteve sucesso. Ao contrário, a equipe dele entrou em campo nervosa e viu a tensão aumentar com os cartões amarelos para Dudu e Valdivia, distribuídos em poucos minutos.
Pesou ainda em favor do Santos a presença de espírito do craque que resolve - papel assumido por Robinho. O líder da equipe não se limitou à provocação musical da semana e jogou bola, circulou, movimentou-se, participou dos lances decisivos, desnorteou a marcação. Mostrou que extroversão não é sinônimo de irresponsabilidade. Robinho fez os demais crescerem.
O Palmeiras não teve o regente. Em tese, seria Valdivia, outra vez aquém do esperado. A melhor jogada dele foi no lance do gol de Lucas, no segundo tempo, além de esporádicos passes e raros lançamentos e nenhuma finalização. Muito menos foi Dudu, aquele do "chapéu", a contratação surpreendente de início de ano, que deixou São Paulo e Corinthians a ver estrelas.
Noves fora o episódio da expulsão, Dudu passou em branco e não justificou a expectativa criada desde a chegada ao clube. Pior: agora pode complicar-se pelo empurrão no árbitro depois de tomar o cartão vermelho numa disputa intensa com Geuvânio. (A propósito: Ceretta exagerou no rigor. O entrevero entre Dudu e Geuvânio poderia terminar numa simples bronca. Mas, ah o protagonismo do apito...)
O caminho do título santista abriu-se na primeira parte, com os dois gols, nos quais houve méritos e vacilos, como sempre, mas sobretudo pela postura dos finalistas. O Palmeiras levou um baque ao ver a vantagem virar fumaça e o Santos transbordou de confiança.
O quadro mudou com a entrada de Cleiton Xavier (no lugar de Robinho), mas não o suficiente para o empate que Oswaldo e rapazes buscavam. Nos pênaltis, prevaleceram sangue-frio e pontaria dos novos campeões.
O torcedor do Santos festejou, no que fez muito bem; taça jamais é supérflua. A diretoria conseguiu afastar a onda de ceticismo e tomara não desvie da rota do equilíbrio do caixa nem se veja obrigada a abrir mão de alguém. A base foi recomposta, só carece de sequência e aprimoramento, que vêm com o tempo.
Não há por que o Palmeiras abaixar a cabeça. Quando a Parmalat desembarcou no Parque, na década de 90, no primeiro ano houve o vice paulista e, com base lançada, vieram glórias posteriores. O filme pode repetir-se dessa maneira, ora se pode.
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