Acabo de finalizar meu estudo anual sobre as finanças dos clubes brasileiros e os resultados infelizmente são os piores possíveis. Em boa parte dos indicadores batemos recorde negativo histórico. O levantamento analisa os dados financeiros dos 20 maiores clubes em receitas a cada ano desde 2003.
As finanças dos clubes no ano passado mostram uma estagnação das receitas, aumento substancial dos déficits e uma evolução do endividamento. Os únicos clubes que fecharam no azul em 2014 foram o Flamengo, Atlético-PR, Goiás, Vitória e Avaí. Os dois últimos com superávits irrisórios. Os déficits somados dos 20 clubes atingiram R$ 598 milhões.
Nos últimos 2 anos os clubes analisados somaram perdas de mais de R$ 1 bilhão, nos últimos 4 anos os déficits acumulados foram de R$ 2,4 bilhões e desde 2003 o rombo é de R$ 3,1 bilhões.
Isso significa que vivemos o pior momento financeiro da história do futebol brasileiro. Consequência de anos de aumento nos gastos salariais, falta de responsabilidade no recolhimento de impostos e principalmente pela gestão alavancada dos clubes, que há anos é alimentada com empréstimos bancários que contribuem ainda mais para a nossa atual situação.
Se em 2013 foi o ano do estouro da bolha financeira do futebol nacional em 2014 foi a consolidação da profunda crise que essa gestão desequilibrada produziu. Pelos meus cálculos os clubes analisados deveriam cortar em 20% seus custos com futebol imediatamente para terem um mínimo de equilíbrio. Isso significa reduzir despesas em mais de R$ 450 milhões.
O cenário atual do futebol brasileiro é tão preocupante que até clubes que apresentavam certa solidez financeira, encerraram 2014 com grandes perdas. Um exemplo é o São Paulo que fechou o ano com déficits de R$ 100,2 o segundo pior do Brasil e outro foi o Corinthians com perdas de R$ 97 milhões, o terceiro pior. Os dois somente ficaram atrás do Botafogo, que fechou com déficits de R$ 175 milhões.
Outro aspecto preocupante foi o aumento do endividamento em 17%, enquanto que as receitas caíram mais de 1% Atualmente o endividamento dos clubes é de mais de R$ 6,3 bilhões, sendo que 34% de dívidas fiscais, frente aos 38% a 40% dos últimos anos. Isso significa que os clubes estão a cada ano ampliando seu endividamento com atrasos em salários, processos trabalhistas, empréstimos e outras dívidas.
O Flamengo mostrou o caminho para o mercado e foi a única grande exceção do cenário atual. A gestão do clube da Gávea está fundamentada em um tripé: maximização constante das receitas, controle efetivo dos custos e redução do endividamento. É o único clube brasileiro orientado para uma gestão sustentável. Fechou com superávit de R$ 64 milhões e espera encerrar 2015 com R$ 100 milhões de ganhos.
O atual ambiente político e legal, com a possibilidade de aprovação do PROFUT é talvez a única saída para revertemos esse cenário de profunda crise financeira. Caso nada seja feito em pouco tempo nosso futebol estará operando com perdas anuais próximas a R$ 1 bilhão.
Reverter esse quadro é o maior desafio da história do nosso futebol.
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