Corinthians e Palmeiras têm torcida à margem da elitização das novas arenas

15/5/2015 08:21

Corinthians e Palmeiras têm torcida à margem da elitização das novas arenas

Médias de preço em Arena Corinthians e Allianz Parque flutuam entre R$ 61 e R$ 71, o que exclui a torcida mais humilde. O L! viu os últimos jogos decisivos do lado de fora. Com festa!

Corinthians e Palmeiras têm torcida à margem da elitização das novas arenas

Torcida do Corinthians colada na grade da arena de Itaquera (Foto: Gabriel Carneiro)





– Nathan, acho que eu vi a bola! – gritou o garoto de 11 anos enquanto tentava espiar o gramado da Arena Corinthians.

– Viu nada, tio! – respondeu o Nathan, duvidando do amigo.



– Olha lá! O Cássio chutou de novo! – reafirmou o Gui, extasiado.

– Agora eu vi! Eu também vi! – bradou, antes de sair pulando.

Esse diálogo entre dois garotos – o Gui de 11 anos e o Nathan de 12 –, foi presenciado pela reportagem do LANCE! na parte de fora da Arena Corinthians durante a derrota para o Guaraní (PAR), que culminou na eliminação do time dos meninos na Libertadores de 2015. Sim, do lado de fora. E sim, durante a partida.



A inauguração dos modernos Arena Corinthians e Allianz Parque mudou o perfil de público nos jogos do Timão e do Verdão. Atualmente, cada torcida precisa pagar uma média de R$ 61,75 e R$ 71,16, respectivamente, para frequentar os jogos. Esse encarecimento dos preços causou um inevitável processo de elitização e deixou muita gente às margens das arenas. Na terça e na quarta-feira, o L! acompanhou os jogos decisivos da Copa do Brasil e da Libertadores do lado de fora.



Gui e Nathan, por exemplo, nunca entraram na Arena. Mas na quarta-feira foi a quarta vez deles colados nas grades externas.

– Não é jogo. Agora é espetáculo, pobre não pode ver – reclamou o Seu Nélio, pedreiro, pai do Gui e tão corintiano quanto os 39.806 que pagaram a média de R$ 83,60 para entrar.



Cerca de 60 pessoas se juntaram na parte de fora do estádio de Itaquera, a maioria formada por moradores do bairro, para ver o jogo pelo telão. Em um lugar que não dá para ver o gramado. Quando a transmissão mostrava o pessoal de dentro sorrindo e acenando na famosa "câmera do beijo", os excluídos se irritavam – isso significa não ver o jogo! Por fora, latas de cerveja, bandeirão, amendoim e radinhos. Dentro, gritos de “uhhh” ignorados pelo pessoal de fora, crente de que a chance já perdida ainda poderia ser aproveitada.

No Allianz Parque não foi diferente: os excluídos também faziam festa. Viram o jogo contra o Sampaio Corrêa da TV dos bares da Turiassú, vibraram, pularam, beberam. E as latinhas tinham destino certo: a sacola do Seu Donizete, um catador de 56 anos. Palmeirense. Mas excluído.







No bar da Turiassú, festa palmeirense pela vaga na Copa do Brasil (Foto: Gabriel Carneiro)



– Pô, se fosse uns 20 conto eu ia, mas 45 é f... E é muito melhor ver aqui fora, tem tela plana e o caramba! - afirmou, mesmo durante o jogo de ingresso mais baixo do Palmeiras na temporada (ver tabela abaixo).

Tem tela plana e também tem o dinheiro para prover a casa. Cada quilo de latinha é vendido por R$ 3,50 ou R$ 4, dependendo do comprador. E um jogo fora do Allianz rende uma graninha dos excluídos para o Seu Donizete. Ele diz que consegue uns cinco quilos de alumínio em quatro horas de "esquenta" e o jogo em si. Os excluídos também gastam.

– Não dá para deixar palmeirense fora do estádio, meu. Moro perto da "Arena Lixão" e lá tem um monte, todo jogo. Aqui vai ser a mesma coisa e não vai demorar. Até ter mais gente fora do que dentro e eles se tocarem – torce Ricardo Lobo, palmeirense, morador de Itaquera e eletricista.

Minas de ouro para seus clubes, Arena Corinthians e Allianz Parque passam pelo paradoxo da elitização.











Não é errado querer fazer dinheiro com as novas arenas. Pelo contrário, é positivo e o assunto deve ser tratado de forma profissional. Mas é preciso mudar a forma de se ganhar dinheiro. Hoje em dia, os clubes cobram preços populares em 30% dos assentos e preços mais salgados nos outros 70%. Obviamente, não é o ideal. É a tal da elitização do futebol, que parece não ter limite.



O ideal seria que esses percentuais fossem, na verdade, invertidos. Seria mais compatível com a paixão (e com o bolso) dos torcedores se 70% dos assentos dos estádios tivessem preços populares (leia-se R$ 25, R$ 30 ou, no máximo, R$ 40) e outros 30% dos assentos com valores mais caros, com luxo e tudo o que essas pessoas que podem pagar tenham direito. Quanto? R$ 150, R$ 200, R$ 300, não importa. Quem tem grana não se importa de pagar se tiver serviço e conforto compatíveis. Paga, e feliz.



Além disso, essas pessoas que estarão nos 30% dos assentos certamente estão ali pela festa que os outros 70% dos torcedores fazem. Os clubes precisam ter noção de que o cidadão que está disposto a ir a um estádio e pagar caro é para vivenciar o ambiente do estádio, e deixar de acompanhar pela televisão.

A elitização é preocupante. Uma hora esse novo torcedor não será tão participativo. E aí? O que será feito?





Setor Oeste da Arena Corinthians teve espaços vazios contra o Guaraní (Foto: Felipe Bolguese)







Apesar de relativamente recente no futebol brasileiro, já que passou a ser discutida com o surgimento de modernas arenas, a elitização está longe de ser novidade no país. Outras maneiras de entretenimento, como cinema e teatro, também sofrem do mesmo mal. Até manifestações importantes da cultura popular local – recorte em que o futebol está – estão impregnados com a tendência, como o Carnaval. É possível vê-la, também, em espaços de convivência, o que traz o debate shopping center x parque e praça.



Por isso, quanto se ataca os clubes pela elitização no futebol, acho que o foco está equivocado. Os clubes, aproveitando-se de suas arenas, se beneficiam de um sistema de livre concorrência para ganharem mais dinheiro e saírem em vantagem no mercado. Mesmo princípio que move qualquer outra empresa, incluindo outras ligadas ao campo do entretenimento, como por exemplo os cinemas e teatros.



Entendo que o jeito correto de combater a elitização é lutar por um sistema em que todos tenham acesso ao entretenimento – seja ele por meio do futebol ou não. Até porque criar um recorte e decidir quais formas de diversão devem e quais não devem estar ao alcance das camadas mais populares soa como preconceito – TODOS devem estar.



OUTRO 7 A 1? NA ALEMANHA, ESTÁDIOS TÊM SETORES POPULARES



Alguns dos principais estádios da Alemanha, como a Allianz Arena (Bayern de Munique) e o Signal Iduna Park (Borussia Dortmund) possuem áreas exclusivas para venda de ingressos populares, com valores entre € 15 (R$ 51) e € 16 (R$ 54), respectivamente. O sistema que permite a venda se chama "stehplatz", que em português quer dizer "de pé".



Nesses setores, as tradicionais cadeiras não são instaladas direto no concreto, e sim em uma barra de ferro que pode ser retirada a qualquer momento para que o torcedor fique de pé sobre a área concretada do local.



Assim, os torcedores pagam mais barato pelo ingresso (cerca de R$ 20 de diferença) e têm liberdade para pular e cantar nas arquibancadas.



A Bundesliga (Campeonato Alemão) teve a melhor média de público do mundo na última temporada, com mais de 43 mil torcedores presentes a cada jogo. Segundo estudo da Pluri Consultoria, pelo menos seis outras grandes ligas têm o preço médio dos ingressos mais alto: Espanha, Inglaterra, Itália, Japão, Holanda e Estados Unidos. De acordo com esse mesmo estudo, a média dos ingressos no Brasil é de R$ 51,74.








6246 visitas - Fonte: Lancenet!

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