Na noite da última segunda-feira, o maior lateral direito da história ganhou uma obra digna de sua importância. Escrito pelo jornalista esportivo Flavio Prado, pela também jornalista Adriana Mendes e pelo escritor e editor Norian Segatto, o livro Djalma Santos: Do porão ao palácio de Buckingam foi lançado no Museu do Futebol. Segundo um de seus autores, a publicação é também uma homenagem e cada história de superação é baseada nos relatos do próprio craque.
“O Djalma teve uma participação enorme, ele foi cumplice do livro. Não foi nem parceiro, foi cumplice mesmo. Ele nos recebeu na casa dele muitas vezes e fizemos um livro em três mãos”, afirma Flavio Prado. “Ele adorou a ideia de fazer o livro, abriu a casa dele, abriu o acervo de fotos e contou histórias incríveis, inclusive da família e da vida dele. A partir daí, só fui pegar a checagem dos pontos que ele tinha dúvida e ouvi os caras que conviveram com ele”, completa, citando inclusive que conversou com Pelé, Coutinho, Amarildo, entre outros craques, amigos e familiares do ex-lateral. De acordo com o autor, a apuração passou por dezenas de pessoas.
“Ouvi mais de cem pessoas e não encontrei um cara que não gostasse dele. Todos adoravam. Ele era um brincalhão, um gozador. Não tinha contraindicações, é o maior lateral direito da história do Atlético Paranaense, do Palmeiras e da Portuguesa, dos três. E a maioria o considera o maior de todos”, afirma Flavio Prado.
Publicada pela editora Bellini Cultural, a obra tem como principal episódio a participação de Djalma Santos na primeira Seleção do Mundo organizada pela Fifa. Em outubro de 1963, a entidade convocou os maiores nomes do futebol daquele ano para enfrentar a Inglaterra e, apesar de o Brasil ser o então bicampeão mundial, apenas o lateral direito foi lembrado para a partida. Ele foi titular, atuando ao lado de mitos como Lev Yashin, Denis Law, Di Stéfano e Eusébio.
“Conto a história de todos os caras que jogaram com ele, e como cada um ficou”, revela Flavio Prado. “Todos eles viraram estátuas e um deles virou dinheiro: o Yashin, goleiro daquele jogo, virou dois rublos, moeda na antiga Rússia. E o Djalma morava na periferia de Uberaba. Não passou fome, mas batalhou muito para conseguir uma aposentadoria”, conta.
A capacidade de vencer obstáculos faz do livro uma obra de histórias de superação do lateral bicampeão do mundo. Essa postura inclusive refletia dentro de campo. Prado relembra que, ao ser pressionado pela torcida adversária durante uma partida inteira, Djalma perdoou as críticas de forma exemplar. ”Quando ele foi xingado por um torcedor do Corinthians por quase 90 minutos. E de repente cai a aliança do cara, de tanto bater no alambrado. O Djalma pega a aliança e entrega de volta”, conta o jornalista.
Djalma Vassão/Gazeta Press
Infelizmente, Djalma Santos faleceu em julho do último ano e acabou não lendo sua própria história. Para o autor do livro, perder um craque deste nível já seria motivo de muito lamento, mas é ainda mais doído por se tratar de uma pessoa especial.
“Quando fui chamado para escrever, eu faria o livro de um jogador importante da história. Mas aí descobri um ser humano fantástico, sensacional. Um cara adorado e que teve uma história trágica. Ao mesmo tempo que era o homem mais feliz do mundo, teve também a história mais incrível. Ele chegou a morar em um porão e foi recebido pela Rainha da Inglaterra. E sem deixar de sorrir”, lembra, lamentando o lançamento do livro sem o ex-jogador.
"Esse livro ser lançado sem ele é um pecado, uma tristeza, porque era uma grande curtição dele. Infelizmente, por uma série de situações, o lançamento atrasou e ele não está presente. É uma lástima porque na verdade ele é o livro, eu só conto a história”, finaliza Flavio Prado.
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