Após a derrota para o Ituano que eliminou o Palmeiras do Campeonato Paulista, as críticas a Gilson Kleina aumentaram. Em entrevista exclusiva, o comandante alviverde ainda mostra frustração por ter falhado no primeiro objetivo na temporada em que o clube completa 100 anos, mas não perdeu convicção no seu trabalho.
Apesar da queda precoce, o desempenho no Estadual convenceu Kleina a manter até a estrutura ofensiva, com praticamente só um volante, e traça planos de lutar pelo título da mesma forma que ganhou a Série B do ano passado sem sustos: surpreendendo adversários fora de casa.
Qual é a sua expectativa para a Série A?
Gilson Kleina: Espero que sejamos igualmente competentes. Na Série A, não tem refresco, o nível de qualidade é outro, mas nos preparamos para a nossa qualidade aumentar. Precisamos entrar muito inseridos e temos nove partidas que são um campeonato à parte. Que possamos fazer o maior número de pontos possível e brigar pelos objetivos que estamos delineando.
Na Série B, o Palmeiras respeitava até lanterna...
Gilson Kleina: E é esse o espírito que precisaremos ter. O respeito com o adversário é uma prática e vai ser normal com qualquer um. Porém, dentro de campo, cabe ao Palmeiras se impor, mostrar competência e qualidade. No Brasileiro, os jogos fora de casa têm uma exigência muito grande e teremos que ser, mais uma vez, uma equipe muito equilibrada, como na Série B. Essa consistência nos levou à elite, deu confiança a todos e tivemos o campeonato que fizemos no Paulista.
Por conta do centenário, o Palmeiras começa o Brasileiro pensando só em título, não apenas em vaga na Libertadores?
Gilson Kleina: Pensamos em título para colocar o Palmeiras na Libertadores de novo, faz parte do DNA do clube disputar essa competição. Mas todas as equipes têm esse objetivo. Da mesma forma que fomos muito consistentes no Paulista e, infelizmente, em um jogo o Ituano teve seus méritos para nos desclassificar, devemos entender que cada jogo é uma decisão. Temos que ir colocando um tijolinho de cada vez para que, realmente, façamos não só um campeonato consistente e regular, mas satisfatório nas metas que vamos estabelecer.
O Palmeiras não teve sucesso sob o seu comando no mata-mata. O fato de o Brasileiro ser em pontos corridos facilita de alguma forma?
Gilson Kleina: Em pontos corridos, você tem a chance de recuperar pontos no segundo turno, porque disputa seis pontos contra todos os adversários. Se mantivermos regularidade, consistência e comprometimento no Brasileiro, será um grupo que, com certeza, vai nos dar orgulho mais uma vez e será muito feliz. Se em um X número de jogos tivermos um revés só, a pontuação ficará lá em cima e já poderemos recuperar no próximo jogo. Na semana da estreia, temos que desmembrar bem o Criciúma e o que é uma Série A.
Como você desmembra a Série A?
Gilson Kleina: É entender, primeiro, que a qualidade vai imperar. Os erros que tivemos na Série B e no Paulista têm que diminuir porque, com uma sucessão de erros, pode-se perder o jogo. As equipes que foram campeãs e à Libertadores em anos anteriores fizeram um campeonato à parte fora de casa. Vamos estrear a estrutura da Copa do Mundo, usufruir de arenas e gramados espetaculares, então a técnica, o talento, os recursos dos atletas têm que aparecer e a equipe precisa estar bem distribuída taticamente para fazer a diferença. A Série A demonstra o nível técnico da sua equipe. Jogadores de qualidade, cabeças pensantes, com talento e mais recursos, fazem a diferença, desde que entendam que o futebol, hoje, ficou competitivo. Mesmo que coloquemos mais jogadores de qualidade, temos que marcar forte também.
O Palmeiras chegou e parou na semifinal do Paulista jogando com praticamente só um volante e os jogadores trocando posição na frente...
Gilson Kleina: Falam que os treinadores brasileiros precisam se aperfeiçoar, mas, sem sombra de dúvida, o Palmeiras faz o futebol moderno. Joga com um volante, dá rotatividade na frente para meias, laterais e atacantes e fomos uma das equipes que mais chutou a gol, mais driblou e mais criou no Paulista. O Palmeiras, cada vez mais, agregou valores técnicos, foi abrindo mão de jogadores de contenção e colocando jogadores de criação, dinâmica e velocidade, mas com domínio total de bola.
Dá para manter esse estilo ofensivo na Série A?
Gilson Kleina: É o que queremos, e tivemos uma conversa em cima disso. Infelizmente, tivemos um resultado que não poderíamos ter, mas não quer dizer que o trabalho estava errado. Criamos situações mesmo naquele jogo, com todas aquelas dificuldades. Precisamos entender de uma vez por todas que, quando tivermos esse tipo de situação ruim, temos que nos superar de outra forma. O grupo entendeu e assimilou, por mais que tenhamos sofrido com a desclassificação. Todos colocaram isso como um crescimento, e deve ser assim para termos uma grande conquista no Palmeiras.
O Palmeiras ainda parece sentir aquela eliminação...
Gilson Kleina: Fomos muito competentes contra o Bragantino nas quartas de final, com o nível de competitividade lá em cima, mas, não tirando o mérito do Ituano, que veio com uma marcação diferente, não conseguimos manter esse nível na semifinal. Nós nos preparamos muito para ser campeões, trabalhamos com muita seriedade. Fugiu, né? O grupo todo sentiu muito.
Que lição é possível tirar de uma derrota com seis titulares machucados, como aconteceu naquela eliminação?
Gilson Kleina: Vamos colocar essa fatalidade em uma somatória, é uma das parcelas. Sempre demos moral para o elenco, que aquele que entrasse corresponderia. Mas perdemos jogadores de referência e o Ituano soube aproveitar por não termos repetido o nível. A leitura que fiz para eles é que foi circunstancial. Nos dez minutos finais, temos que entender que batemos 85 minutos tentando fazer o gol. Não deu, vamos fechar a casinha. Na pior das hipóteses, iríamos para os pênaltis. Temos que entender esse caráter do mata-mata.
A lição, então, é ser mais frio?
Gilson Kleina: Ser um pouquinho mais frio e analisar que, quando o Palmeiras joga contra uma equipe menor, se as coisas não acontecerem, não é só do grande a responsabilidade de arriscar e ter ousadia. Também é necessário o comprometimento de entender que, aquele jogo, tem que ser definido de outra forma. Só faltou isso, porque a equipe sempre lutou pela vitória. Querendo ou não, sabíamos da ansiedade da nossa torcida, do centenário. Dentro do Pacaembu, somos sempre fortes e a torcida nos deixa mais agressivos, acelerando, mas precisamos ter o equilíbrio em todos os aspectos. É a lição que temos. Infelizmente, em um jogo só, tudo pode acontecer. Sabíamos que era assim e não vamos justificar com isso, mas lamentar porque nos preparamos muito para ser campeão paulista e dar essa alegria para o torcedor.
A ansiedade da torcida por um título no centenário atrapalha?
Gilson Kleina: O jogador quer resolver. Vê casa cheia com todos apoiando e quer dar uma resposta positiva. Isso gera ansiedade. Somos seres humanos, há situações que fogem, o impulso é maior, a vibração, a energia. Nos jogos da Champions, vi a mesma situação, não tem como. Todos vêm com foco, sentimento de resultado, as coisas não acontecem do jeito preparado, você quer resolver de outra maneira e, às vezes, vira o lado individual, já passa a não jogar coletivamente, a mentalidade passa a ser mais desorganizada. Contra uma equipe que tem a primeira proposta de marcar e, se tiver um gol, é tudo o que queria, bate o nervosismo.
Mudou a abordagem dos torcedores na rua depois da eliminação?
Gilson Kleina: O futebol é passional. Não adianta querer explicar o que aconteceu para todos os torcedores que me param, é só justificar e assumir. Muitas vezes, eles veem no meu semblante que também não fiquei contente. Falo sempre para eles: "Se há uma coisa que eu queria muito para a minha vida neste ano, era o título". Sei o que trabalhei e abdiquei para levar o Palmeiras a isso. O torcedor viu o que aconteceu. Mesmo aquele torcedor ferrenho, aquele verde doente, viu que no futebol, quando acontecem algumas fatalidades, é difícil. Quem diria que Barcelona, Marchester United e Paris Saint-Germain cairiam? Que quase o Real Madrid caiu? Se me pedirem uma explicação para a eliminação do Palmeiras, vou enrolar e não vou dizer. Perder no mesmo jogo Prass, Alan Kardec, Wendel, Valdivia, Wesley, Juninho e Bruno César não é normal, qualquer equipe teria dificuldade. Fico com a cabeça erguida porque, por mais que ainda exista o sentimento de perda, vou focar mais forte para não errar no Brasileiro e, quem sabe, no final do ano não teremos uma grande comemoração. É o que quero. A motivação e a força de lutar vão existir sempre.
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