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Marcelo Oliveira não costuma se estressar, mas vai precisar, aconselha mentor
Nesta quinta-feira, Marcelo Oliveira deve ser confirmado como novo treinador do Palmeiras. De cara, o ex-técnico do Cruzeiro já recebe um aviso de seu mentor: para aguentar a enorme pressão no Allianz Parque, terá que deixar de lado o jeito pacato e virar um cara mais "estressado", mais "nervoso", mais "acelerado".
É o que ensina Jair Picerni, ex-comandante do próprio "Verdão" e amigo de longa data de Marcelo Oliveira, que foi seu auxiliar no Atlético-MG, em 2004.
"Enquanto eu falava um monte de palavrão e apelava com os caras, ele nunca levantou a voz pra ninguém, nem falou nenhuma besteira. É um cara fantástico, muito calmo e bom demais", conta Picerni, em entrevista ao ESPN.com.br.
"Torço muito por ele, mas vou dar um conselho: para aguentar o Palmeiras, ele precisa ser mais estressado, mais estourado, ter o coração mais nervoso (risos). Lá no Palestra tem que ser assim, falo por experiência própria. Precisa acelerar um pouquinho mais", ressalta.
Oliveira, que anteriormente havia sido comentarista de TV na Rede Minas, era o homem responsável por preparar relatórios sobre os adversários, sempre baseados em estatísticas, para Picerni. Eles trabalharam juntos até o comandante ser mandado embora, em outubro daquele ano.
Marcelo ficou nas categorias de base do "Galo" até 2007, quando saiu para se aventurar pela primeira vez como técnico, no CRB. Retornou ao Atlético-MG em 2008, como interino, e depois passou por Ipatinga, Paraná e Coritiba, clube que o tornou nacionalmente famoso após chegar duas vezes seguidas à final da Copa do Brasil.
Na sequência, teve passagem ruim pelo Vasco antes de chegar ao Cruzeiro, onde se consagrou como um dos técnicos top do futebol nacional, após conquistar o bicampeonato do Brasileirão, além de um Mineiro, com o clube celeste.
Oliveira acabou demitido em 2 de junho, após resultados ruins no Brasileiro e na Libertadores, sendo substituído por Vanderlei Luxemburgo. Com a demissão de Oswaldo de Oliveira no Palmeiras, acabou contatado para assumir a equipe alviverde, refazendo a parceria de sucesso com o diretor de futebol Alexandre Mattos, também bicampeão no Cruzeiro.
"É um cara fantástico. Sempre trabalhou sério e soube esperar a vez dele. Torço para que tenha muito sucesso no Palmeiras", finaliza Picerni, hoje desempregado.
Técnico é 'rei do rachão' e já ganhou do Arsenal
Quem conhece Oliveira de longa data é só elogios ao mineiro de 60 anos, nascido na cidade de Pedro Leopoldo, no interior do Estado. Hoje atuando no futebol da Malásia, o zagueiro Thiago Junio foi capitão do Atlético-MG por quatro anos na base, sempre comandado por Marcelo, a quem considera seu segundo pai.
Segundo o defensor, o técnico se inspira no estilo de trabalho de uma grande lenda do futebol: Telê Santana, bicampeão do mundo com o São Paulo.
"Era um cara que a gente sabia que ia dar certo. Ele é amigo dos jogadores, um paizão. Sempre falava pra gente que se inspirava muito no Telê e fazia coisas iguais. A gente tinha que treinar fundamentos à exaustão até aprendermos e dar certo. Ele sempre também aconselhava os jogadores a se preocuparem com o futuro, não gastar dinheiro, não comprar carro importado, essas coisas", relata Junio, em papo com o ESPN.com.br.
MARCELLO ZAMBRANA/LIGHT PRESS/CRUZEIRO
Marcelo Oliveira tem 60 anos
O zagueiro também lembra que o treinador gosta de participar dos "rachões" ao lado dos jogadores. E, mesmo mais velho, ainda entende do riscado.
"Mesmo com o joelho machucado, ele jogava nos rachões com a gente, e era muito bom de bola, dava aula (risos). Além disso, não gostava de perder de jeito nenhum, a gente gostava quando ele entrava em campo e jogava no nosso time", recorda.
Uma das grandes vitórias de Marcelo Oliveira na base do Atlético-MG foi em cima do Arsenal, da Inglaterra, em um torneio disputado na Europa. Segundo Thiago Junio, a calma do treinador à beira do campo foi essencial para o triunfo sobre os londrinos.
"Em 2003, fomos jogar um torneio de base na Holanda contra o Arsenal, que tinha o Walcott. O Marcelo é um cara muito convicto, mas nós, como éramos jovens, estávamos muito ansiosos. O jogo estava empatado e eles fazendo cera, a gente naquele desespero de resolver logo. O Marcelo falou pra gente não se preocupar que nos pênaltis o (goleiro) Bruno segurava a onda. Não deu outra, ele foi lá pegou três cobranças. Isso ficou muito marcado, como ele tem convicção das coisas", relata.
O Bruno citado pelo zagueiro é o ex-goleiro do "Galo", Corinthians e Flamengo, que hoje está preso pelo assassinato de sua namorada, a modelo Eliza Samúdio. Oliveira tentou domar a fera durante os tempos de base atleticana, pois via muito futuro no futebol do atleta. No entanto, o destempero do arqueiro acabou em tragédia.
"O Bruno era tratado como um fenômeno na base. Eu muitas e muitas vezes o Marcelo tentou falar com ele, dava uma atenção especial por causa dos problemas dele fora de campo. Ele falava para o Bruno que ele seria o futuro goleiro da seleção, mas precisava se entregar à carreira e resolver esses problemas. O Marcelo sabe como é a cabeça do jogador, ele sabe trabalhar com os jovens e promover ao time de cima. Só olhar o Judivan, Mayke, Lucas Silva, Alisson e outros no Cruzeiro", finaliza.
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