Marcelo Aro foi um dos que protestou contra o relatório (Foto: Luis Macedo / Câmara)
Deputados ligados ao futebol não aceitaram bem a polêmica aprovação da íntegra do relatório da MP do Futebol em comissão mista na manhã desta quinta-feira. O texto trata do refinanciamento das dívidas dos clubes com a União - cerca de R$ 4 bilhões - em troca de contrapartidas que atingiriam os próprios times, federações e a CBF. Inconformados com a maneira como o texto foi apreciado - de forma rápida e com apenas quatro integrantes presentes na reunião -, eles usaram as tribunas do Plenário da Câmara dos Deputados para protestar e ameaçaram prejudicar a votação do tema na Casa.
- Eu quero avisar que, apesar de novo, bobo eu não sou, bobo eu não sou. E, a partir de agora, o que eu puder fazer para obstruir as nossas sessões eu farei, até que esse problema seja resolvido. Sou vice-líder do maior bloco desta Casa, sou líder do PHS e não deixarei essa situação ficar como está. Golpe. Golpe do senhor Otavio Leite (relator) e do senhor Petecão (presidente da comissão mista). Agora podem ter certeza: nós, a partir de agora, entramos em obstrução. Quando eu vir que o quórum está baixo nesta Casa, eu vou pedir verificação, eu vou pedir novo painel. Usarei todas as armas do Regimento. Tolerância zero - discursou Marcelo Aro (PHS-MG), atual diretor de ética e transparência da CBF e ligado ao Atlético-MG.
Outro parlamentar que subiu à tribuna para reclamar da votação foi Jovair Arantes (PTB-GO), presidente do conselho deliberativo do Atlético-GO. Ele chegou a sugerir ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), um recurso pedindo o cancelamento da votação na comissão mista.
- Fizemos acordos para manter a presença dos deputados no plenário da Comissão, e, por quatro sessões, ele manteve isso. Hoje nós ficamos de votar a partir das 9h. Para nossa surpresa, às 9h18, o senador Sérgio Petecão chegou à Comissão e fez a votação de forma muito rápida, sem a presença de nenhum deputado, pois ainda estávamos chegando. Nós vamos apresentar recurso para cancelar, se possível, a votação feita no Senado (comissão mista), porque ela agride sobremaneira o acordo feito pelas bancadas, o acordo feito com a própria comissão. Nós precisamos de uma solução. E mais do que isso, senhor presidente, não dá para fazer uma votação assim, no meu entendimento - protestou Jovair.
Jovair Arantes, ligado ao Atlético-GO, foi outro que usou a tribuna para reclamar do relatório (Foto: Gustavo Lima / Câmara)
Eduardo Cunha demonstrou solidariedade à demanda do deputado, porém explicou que um requerimento pedindo o cancelamento da votação só poderia ser feito ao presidente do Congresso Nacional - senador Renan Calheiros -, ou no momento em que o texto chegasse ao Plenário da Câmara, o que deve ocorrer nos próximos dias.
- Vossa excelência pode e deve fazer o recurso em dois momentos. Ou na sessão do Congresso próxima que existir, na terça feira, ou na hora em que a medida provisória aqui chegar, se chegar, porque não chegou. Na hora que eu ler na sessão o ofício de encaminhamento do Congresso Nacional, para que nós possamos tomar uma decisão de até, se for o caso, devolvê-la, para que a Comissão se manifeste antes de efetuar o trancamento de pauta - explicou Cunha.
O deputado Vicente Cândido (PT-SP), atual diretor de relações internacionais da CBF, e Deley (PTB-RJ), ex-jogador de futebol, foram outros que usaram as tribunas para questionar a votação do relatório na comissão mista.
A revolta dos parlamentares ocorreu por conta da maneira como o texto foi aprovado. O presidente da comissão mista, senador Sérgio Petecão, abriu a reunião da manhã desta quinta com apenas outros três parlamentares presentes. Quando chegaram os deputados ligados à CBF, que pretendiam apresentar destaques (mecanismo usado para retirar trechos do texto por votação), a sessão já estava encerrada, e o relatório, aprovado na íntegra.
Caso não seja acatado nenhum pedido de impugnação da votação na comissão mista, o relatório deverá entrar em votação na próxima semana no Plenário da Câmara dos Deputados, onde estará sujeito a modificações e retirada de trechos por meio de votações em destaque. Se aprovado, terá que passar ainda pelo Plenário do Senado. Caso o trâmite não seja concluído até o dia 17 de julho, a MP perde a validade.
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