Valdivia: o maior destaque da U de Conce entre 2003 e 2004 (Foto: Cleber Mendes)
Valdivia nasceu em Maracay, na Venezuela, e começou a dar os primeiros passos como jogador em Santiago, no Chile, palco do duelo desta segunda-feira entre as seleções chilena e peruana, pela semifinal da Copa América. Mas foi em Concepción que o craque estreou profissionalmente e surgiu de fato para o futebol. Emprestado pelo Colo-Colo à Universidad de Concepción, o meia virou "Mago", encantou o país que tem como pátria desde 2001 e virou "viciado" em celulares.
Com status de atleta que precisava amadurecer aos 20 anos, Jorge, como é chamado fora do Brasil, foi negociado com a U de Conce no início de 2003. Chegou e, em pouquíssimo tempo, mudou a história do modesto clube, fundado em 1994, e principalmente da própria carreira.
- Falaram para nós que o Colo-Colo queria emprestar um garoto muito talentoso, mas que ainda estava na base e naquele momento não cabia no time profissional. A gente tinha acabado de subir à primeira divisão, não tinha muito dinheiro. Negociamos com o pai dele (Luis), que gostou da ideia de ver o filho crescer profissionalmente. Depois de sete jogos na reserva, ele virou titular, não saiu mais e ajudou a levar o time à Libertadores de 2004 - contou Mario Lucero, diretor de futebol da
Universidad de Concepción.
- O apelido de Mago surgiu na imprensa local, porque ele era famoso por dar passes que ninguém imaginava, era muito inteligente. Dava um passe, mas olhava para outro lado. Ele provou desde o início que era um jogador que previa as jogadas e tinha um passe preciso - completou.
Mais do que assistências e lances geniais, Valdivia se destacou na fria cidade da região central pela irreverência fora de campo. Por duas vezes ele boicotou a ordem interna de não usar celular nas
concentrações. Na primeira, entregou um aparelho de brinquedo para os membros da comissão técnica, que só descobriram o golpe no dia seguinte. Na outra, recuperou o celular sem levantar suspeitas, mas acabou flagrado dentro do banheiro pelo treinador.
Para a imprensa, Valdivia era o Mago. Para os companheiros de Universidad de Concepción, ele era um "jogador de outro planeta". Ricardo Viveros, ex-atacante e companheiro de quarto entre 2003 e 2004 do atual camisa 10 da seleção chilena, lembra com carinho da época em que mais anotou gols na carreira.
- Para Jorge (Valdivia), fazer um gol era dar uma assistência. Ele podia estar sozinho na frente do gol, mas preferia tocar para um companheiro. Jogar com Jorge me fazia ficar atento durante toda a partida, porque ele surpreendia e me colocava na cara do gol com muita facilidade. Qual atacante do mundo não gostaria de ter um meia assim no time? Fiz muitos gols naquela época. Sempre agradeci dizendo: "Você é um jogador de outro planeta". Ele é como um drone, porque vê a jogada de cima. Tem uma visão de jogo espetacular, é inteligente e pensa a jogada com antecedência - revelou.
Ricardo Viveros, que agora se prepara para ser treinador, já usou e abusou da criatividade de Valdivia. A torcida do Chile espera que Alexis Sánchez, Vargas, Vidal e companhia façam o mesmo diante do Peru. Aproveitar uma assistência do Mago pode ser a chave para o time da casa garantir presença na tão sonhada final da Copa América.
Sede da Universidad de Concepción é uma sem muito luxo (Foto: Cleber Mendes)
Valdivia é o líder de assistências na Copa América
Apesar de ter chegado ao Chile longe da forma física ideal para disputar a Copa América, Valdivia surpreendeu a todos. O camisa 10 assumiu o papel de líder da seleção – ao lado de Vidal – e tem sido um dos principais destaques do torneio. O meia, aliás, é o jogador com mais assistências: três passes para gol.
– Estou muito surpreso com o futebol demonstrado pelo Jorge (Valdivia). Ele está sendo solidário, está correndo bastante, batalhando. Tomara também que ele dure mais tempo em campo. Ele já sofreu muitas críticas por não aguentar jogar 90 minutos – declarou Ricardo Viveros
Ricardo Viveros: o atacante que Valdivia ajudou a consagra em Concepción (Foto: Cleber Mendes)
BATE-BOLA - RICARDO VIVEROS
LANCE!: Você se recorda da chegada do Valdivia a Concepción?
Ricardo Viveros: Jorge veio para cá ainda garoto, mas não começou jogando. Ele só entrou no time depois que o Nelson Zelaya (meia) se lesionou. Jorge entrou e não saiu mais. Ele foi espetacular e marcou a diferença no futebol chileno entre 2003 e 2004.
LANCE!: Ele era tão bom assim?
Ricardo Viveros: A gente sempre dizia nos treinamentos: "O Jorge a qualquer momento vai dar um passe magnífico". E foi assim do início ao fim. Ele também sempre foi um jogador extrovertido, que gostava de expressar opiniões. Não gostava quando não jogava. Até treinava, mas treinava com ódio. Ele sentia ódio porque sabia que era diferente e tinha qualidade. Ele, aos 20 anos, fazia a diferença.
LANCE!: Então era fácil jogar com ele...
Ricardo Viveros: Para Jorge, fazer um gol era dar uma assistência. Era o máximo para ele. Ele podia estar sozinho na frente do gol, mas preferia tocar para algum companheiro. Essa era uma característica marcante.
LANCE!: É verdade que o Valdivia ficou famoso no início da carreira por irritar os adversários?
Ricardo Viveros: Ele era muito perseguido pelos adversários dentro de campo. Batiam nele, mas ele levantava e seguia jogando. Isso irritava muito os adversários. Era um jogador brilhante.
LANCE!: O Valdivia foi o melhor jogador que atuou ao seu lado?
Ricardo Viveros: Jorge foi o melhor jogador que atuou comigo. E foi um dos melhores que vi jogar. Me estranha muito que ele não tenha brilhado na Europa. Não sei qual o pensamento dele, mas me estranha muito. Ele tinha totais condições de jogar em um grande clube da Europa.
LANCE!: Acha que a personalidade forte dele atrapalhou?
Ricardo Viveros: Acredito que o Jorge é o típico jogador extrovertido e inquieto. Isso marcou muito a carreira dele. Ele precisava ter sido um pouco mais tolerante. Mas acho ele está um pouco mais tranquilo agora, aprendeu com os erros.
LANCE!: Ele chegou a ter problemas de indisciplina na Universidad de Concepción?
Ricardo Viveros: Ele nunca teve problema com o grupo. Ele tinha problema com a imprensa, porque ele não escondia o que sentia. Jorge sempre fez questão de mostrar que tinha uma personalidade forte. Mas ele também era muito explosivo. Se não gostava de algo, ele não pensava duas vezes em reclamar.
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