Atual campeão paulista, o Santos realiza uma fraca campanha neste início de Brasileiro. Com 10 pontos, está na zona do rebaixamento, na 17ª posição. Isso não impede Ricardo Oliveira de se isolar na artilharia do Brasileirão, com sete gols, dois a mais que Renato Cajá, da Ponte Preta, e Fred, do Fluminense. O fato soa curioso, mas não é inédito. O histórico do campeonato mostra goleadores que atuavam por times que não disputavam as primeiras posições.
Isso tornou-se mais comum após a implantação do sistema de pontos corridos, em 2003, quando todos os participantes passaram a disputar o mesmo número de partidas. Em 12 edições, o campeão teve também o artilheiro apenas em 2009 (Flamengo e Adriano) e 2012 (Fluminense e Fred). Maior goleador numa única edição do Brasileiro, com 34 gols, o atacante Washington, do Atlético-PR, foi vice-campeão em 2004.
Em oito oportunidades, o artilheiro atuava por um clube que não ficou nem sequer entre os cinco primeiros colocados. O principal exemplo foi Josiel, que em 2007 marcou 20 gols, mas não evitou o rebaixamento do Paraná, penúltimo lugar. No ano seguinte, Keirrison, Washington e Kleber Pereira fizeram 21 gols cada, mas Coritiba, Fluminense e Santos ficaram apenas na nona, 14ª e 15ª posições, respectivamente.
Segundo o comentarista Lédio Carmona, do SporTV, um time não pode depender do seu goleador.
Atacante Josiel foi artilheiro do Brasileirão em 2007, com 20 gols, mas não evitou o rebaixamento do Paraná (Foto: Agência Lance)
- Geralmente, quando o clube depende do goleador, o time não é bom, e a bola dificilmente chega nele. É preferível um time homogêneo de qualidade com um artilheiro matador a um time carente de peças de qualidade em outros setores que depende de um goleador. Isso só funciona quando o goleador resolve individualmente, mas isso está cada vez mais raro no futebol brasileiro. O goleador precisa que o time jogue para ele, mas coletivamente. Ele (artilheiro) é apenas uma parte da engrenagem.
Opinião semelhante tem o ex-jogador Junior, comentarista da TV Globo. Ele ressalta a qualidade técnica do atacante Ricardo Oliveira, mas afirma que o importante é o goleador fazer gols que se traduzam em pontos na tabela de classificação.
- Pelo que temos visto no time do Santos, o lado individual do Ricardo Oliveira está sobressaindo mais que o coletivo da equipe, pois o ideal e o que normalmente ocorre é o artilheiro acompanhar o rendimento do time. Mas o desempenho do Ricardo em si não surpreende, pois é um jogador de qualidade, que foi goleador por onde passou, mas não está sendo acompanhado pelo restante da equipe. Independentemente da disputa pela artilharia, o importante é você ter um goleador que te garanta uma quantidade de gols e, sobretudo, de pontos ao longo do ano.
De 1971 até 2002, o regulamento do Brasileiro mudava a cada ano. O que não mudava era a chance maior de o campeão ter também o artilheiro, pois disputava mais partidas. Das 32 edições, metade teve o artilheiro jogando pelo campeão (10 vezes) ou vice (seis). A pior colocação do time de um goleador foi o America do atacante César em 1979, com um 23° lugar. Mas há um atenuante: esse ano teve 94 participantes, número recorde na história do nacional.
Artilheiros do Brasileiro de 1971 a 2002 e a colocação de seus times
1971 - Dario (15 gols) - Atlético-MG (campeão) - foram 20 participantes
1972 - Dario e Pedro Rocha (17 gols) - Atlético-MG (11° lugar) e São Paulo (nono lugar) - 26 participantes
1973 - Ramon (21 gols) - Santa Cruz (16° lugar) - 40 participantes
1974 - Roberto Dinamite (16 gols) Vasco (campeão) - 40 participantes
1975 - Flávio (16 gols) - Internacional (campeão) - 42 participantes
1976 - Dario (16 gols) - Internacional (campeão) - 54 participantes
1977 - Reinaldo (28 gols) - Atlético-MG (vice-campeão) - 62 participantes
1978 - Paulinho (19 gols) - Vasco (quarto lugar) - 74 participantes
1979 - César (13 gols) - America (23° lugar) - 94 participantes
1980 - Zico (21 gols) - Flamengo (campeão) - 44 participantes
1981 - Nunes (16 gols) - Flamengo (6º lugar) - 44 participantes
1982 - Zico (20 gols) - Flamengo (campeão) - 44 participantes
1983 - Serginho Chulapa (22 gols) - Santos (vice-campeão) - 44 participantes
1984 - Roberto Dinamite (16 gols) - Vasco (vice-campeão) - 41 participantes
1985 - Edmar (20 gols) - Guarani (15ª posição) - 44 participantes
1986 - Careca (25 gols) - São Paulo (campeão) - 48 participantes
1987* - Muller (10 gols) - São Paulo (6º lugar) - 16 participantes
1988 - Nilson (15 gols) - Internacional (vice-campeão) - 24 participantes
1989 - Túlio (11 gols) - Goiás (10ª posição) - 22 participantes
1990 - Charles (11 gols) - Bahia (4º lugar) - 20 participantes
1991 - Paulinho McLaren (15 gols) - Santos (6º lugar) - 20 participantes
1992 - Bebeto (18 gols) - Vasco (3º lugar) - 20 participantes
1993 - Guga (15 gols) - Santos (5º lugar) - 32 participantes
1994 - Amoroso e Túlio (19 gols) - Guarani (3º lugar) e Botafogo (5º lugar) - 24 participantes
1995 - Túlio (23 gols) - Botafogo (campeão) - 24 participantes
1996 - Paulo Nunes e Renaldo (16 gols) - Grêmio (campeão) e Atlético-MG (3º lugar) - 24 participantes
1997 - Edmundo (29 gols) - Vasco (campeão) - 26 participantes
1998 - Viola (21 gols) - Santos (3º lugar) - 24 participantes
1999 - Guilherme (28 gols) - Atlético-MG (vice-campeão) - 22 participantes
2000** - Adhemar (22 gols) - São Caetano (vice-campeão) - 79 participantes
2001 - Romário (21 gols) - Vasco (11ª posição) - 28 participantes
2002 - Luis Fabiano e Rodrigo Fabri (19 gols) - São Paulo (5ª posição) e Grêmio (3ª posição) - 26 participantes
Artilheiros do Brasileiro desde 2003 e a colocação de seus times
2003 - Dimba (31 gols) - Goiás (9º lugar) - 24 participantes
2004 - Washington (34 gols) - Atlético-PR (vice-campeão) - 24 participantes
2005 - Romário (22 gols) - Vasco (12º lugar) - 22 participantes
2006 - Souza (17 gols) - Goiás (8º lugar) - 20 participantes
2007 - Josiel (20 gols) - Paraná (19º lugar) - 20 participantes
2008 - Washington, Keirrison e Kleber Pereira (21 gols) - Fluminense (14º lugar), Coritiba (9º lugar) e Santos (15º lugar) - 20 participantes
2009 - Adriano e Diego Tardelli (19 gols) - Flamengo (campeão) e Atlético-MG (7º lugar) - 20 participantes
2010 - Jonas (23 gols) - Grêmio (4º lugar) - 20 participantes
2011 - Borges (23 gols) - Santos (10º lugar) - 20 participantes
2012 - Fred (20 gols) - Fluminense (campeão) - 20 participantes
2013 - Ederson (21 gols) - Atlético-PR (3º lugar) - 20 participantes
2014 - Fred (18 gols) - Fluminense (6º lugar) - 20 participantes
* Considerada a Copa União
** Considerados os quatro módulos da Copa João Havelange
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