Até nunca mais, Valdivia!

Valdivia: a magia se desfez



Paulo Nobre informou após o final do jogo de ontem frente o Avaí que Valdivia não veste mais a camisa do Palmeiras. Com as declarações frias e objetivas de praxe, ponderou que é um grande jogador, mas que o clube não pode cobrir a oferta que ele diz ter recebido, e que desta forma o jogador apenas cumprirá seu contrato até 17 de agosto.





Encerra-se assim de forma melancólica a passagem deste jogador pelo Palmeiras. Chegou ao Verdão em 2006, aos 22 anos, muito humilde – lembro-me nitidamente de uma foto postada por ele numa rede social, nas arquibancadas do velho Palestra, mencionando a seus amigos o orgulho de estar num clube da grandeza do Palmeiras. Adaptou-se ao clube, aprendeu todas as manhas da profissão – as boas e as ruins – e saiu em 2008 coberto de glórias, após a conquista do Paulistão sobre a Ponte Preta.





Voltou logo após a Copa de 2010 com status de ídolo supremo; veio para ser o maestro de um time que contava, à época, com Marcos, Pierre e com os recém-contratados Kleber e Felipão. Como sabemos, a mistura ficou muito longe de funcionar.





Valdivia jogou 18 dos primeiros 20 jogos em sua volta – duas suspensões impediram a sequência completa. Em outubro, lesionou-se pela primeira vez e ficou de fora da eliminação para o Goiás na semifinal da Sul-Americana. Nunca mais foi um jogador confiável.





Por quatro temporadas, entre 2011 e 2014, o time foi montado em função dele, e fracassamos em todas. Sua frequência nunca passou dos 50%, fosse por lesões, suspensões, convocações ou carnavais – o índice atual é de 43,3% de presenças. Em todo o período de contrato, o Palmeiras gastou a pequena fortuna de R$ 500 mil mensais para mantê-lo no elenco, para que participasse de apenas 148 dos 342 jogos disputados (até o fim de seu contrato ainda haverá mais sete jogos para piorar essa conta, que chegará a 42,4%).





Apenas em 2015 o time foi projetado para funcionar sem ele – e o resultado é nítido: entre 2010 e 2014, o time com Valdivia conseguiu 59,4% dos pontos, ante 48,7% sem ele; este ano, com um projeto sólido, o aproveitamento com o chileno foi de 46,7%, ao passo que em suas ausências o time conquistou incontestáveis 72,8% dos pontos.





Seu carisma com o microfone e as memórias de sua primeira passagem fizeram com que cerca de duas dúzias de jogos bons nesse período parecessem muito mais do que foram. E a torcida do Palmeiras, facilmente inflamável, rachou em torno de sua figura. Em vez de ser razão de alegria por seu indiscutível talento, Valdivia foi motivo de ranço e discórdia nas arquibancadas alviverdes.





É inacreditável que alguém escolha jogar no lixo a chance de se tornar um ídolo eterno do Palmeiras. Ademir, Marcos, Evair e Edmundo são provas vivas de que é possível se tornar um semideus para uma torcida que tem aproximadamente o mesmo tamanho da população do Chile. Com seus incontáveis migués, sua atitude dissimulada e irresponsável, Valdivia, mesmo com um talento raríssimo, deixa o clube deliberadamente pela porta dos fundos, e seu lugar na História do Palmeiras ficou num degrau muito abaixo do que poderia ser.





O anúncio de Paulo Nobre deixa uma incrível sensação de alívio. O clube se livra de um atleta que cria muito mais problemas do que os resolve. Sangrava o caixa, rachava o elenco, tumultuava o ambiente, ao mesmo tempo que conseguia passes geniais e provocava os adversários, nos representando em campo. Pena que a relação entre momentos bons e ruins foi tão pobre.



Adeus, Valdas, e até nunca mais.