Fernando Prass vê Palmeiras na briga pelo título, fala da sombra de Marcos e do medo de não renovar contrato

13/7/2015 15:02

Fernando Prass vê Palmeiras na briga pelo título, fala da sombra de Marcos e do medo de não renovar contrato

Fernando Prass vê Palmeiras na briga pelo título, fala da sombra de Marcos e do medo de não renovar contrato

Goleiro palmeirense completou 37 anos na última quinta-feira (Luis Moura/Gazeta Press)



Fernando Prass tem apenas dois anos e sete meses de Palmeiras, mas até parece um veterano de clube. Entre os titulares, por exemplo, é o único que estava no elenco no ano passado. Se a comparação for com o grupo da Série B, em 2013, restaram apenas o goleiro e o atacante Leandro. Com o moral de quem já viveu de tudo no Palestra Itália — com direito até a uma xícara atirada na orelha, por parte de um torcedor revoltado com Valdivia —, Prass atendeu ao Blog para traçar um Raio-X do novo Verdão. Encheu a bola do clube, admitiu surpresa com a reviravolta alviverde, falou da sombra de Marcos, da perseguição a um título e da preocupação com o fim do contrato, em dezembro.



BLOG_ O Palmeiras se salvou por pouco do rebaixamento no Brasileiro de 2014. Dava para imaginar um salto tão grande sete meses depois?

FERNANDO PRASS_
Realmente, era difícil prever que fosse mudar tanto e tão rapidamente. Até porque se falava da dificuldade financeira e era impossível prever a chegada de 24 jogadores. Mas o futebol é assim e não podemos relaxar.



Em dois anos e meio no Palmeiras, você só ganhou o título da Série B. Isso o incomoda?

Claro. E esse ano passou muito perto com o Paulista. Não digo perto porque o título foi decidido nos pênaltis. No jogo daqui, tivemos várias chances para ampliar o placar. Na Vila, o Amaral fez o gol com a ponta do pé em impedimento. Era o gol do título. Ficou um gosto amargo para mim.



O título do Brasileiro é viável?

Hoje, está longe, tanto em termos de tempo, quanto de rodadas. É um campeonato muito equilibrado. Ainda não dá para saber nem quem vai brigar pelo título. Três semanas atrás, por exemplo, o Palmeiras brigava para escapar do rebaixamento.



Mas o torcedor pode ter esperança?

Com certeza. Eu acho que nosso objetivo é estar próximo do líder nas últimas dez rodadas, para arrancar rumo ao título.



Seu contrato termina em dezembro. Já há discussão para renovação?

Até agora, não houve nenhuma conversa.



A renovação o preocupa?

Preocupa, claro! No ano passado, tinham alguns jogadores em fim de contrato, como o Marcelo Oliveira, e perguntaram se influenciava. Claro que influencia. Tem o lance da mudança da família, minha identificação com o clube, a idade… Então, fico apreensivo.



Você é um dos poucos que não ganha por produtividade?

É que meu contrato é antigo, de 2012. Desde a chegada do Paulo Nobre, não mexi nisso.



Tem proposta para sair?

Não tenho. Mas, se tivesse, também não falaria (risos).



Como enxerga o presidente Paulo Nobre?

Trabalhei com poucos presidentes. Um no Coritiba, o Giovani Gionédis; um no Vasco, o Roberto Dinamite; um no União Leiria… esse do Leiria era um dono do time, o presidia há 24 anos e foi a figura mais difícil com quem trabalhei. O cara era maluco, maluco. Um dia, chegou a fazer reunião para dizer que o time acabaria se todo mundo não aceitasse reduzir o salário pela metade. Os três primeiros jogadores comunicados recusaram e o cara ficou revoltado. No dia seguinte, ele apareceu, pagou dois meses que estavam atrasados e nunca mais tocou no assunto de fechar o time.



Mas e o Paulo Nobre?

Ele vem do mercado financeiro, então é totalmente diferente do Roberto Dinamite, por exemplo. O Paulo é mais metódico, apesar de ser bastante emocional em relação ao Palmeiras. No ano passado, ele teve dificuldade porque o time estava muito mal.



Você já entendeu a demissão do Oswaldo de Oliveira?

São os resultados. Monta-se um time, cria-se a expectativa e, de repente, não acontece. Foi o que aconteceu com o Gareca, que se mostrou um grande treinador, com enorme conhecimento de futebol… Só que nosso time no ano passado não era muito competitivo.



Se o Gareca continuasse, o Palmeiras teria caído?

Difícil dizer. Mas é quase impossível que um time que fica dez rodadas sem vencer passe impune. Detalhe: mesmo trocando de técnico, a gente só se salvou na última rodada, com a menor pontuação da história.



Qual o tamanho do peso de substituir o Marcos?

Foi o maior desafio da minha vida. Até hoje, o Marcos está muito vivo na memória do torcedor. No primeiro ano, de cada dez perguntas que faziam para mim, nove eram sobre o Marcos. Até quando eu não pegava pênalti, tinha gente dizendo que ele teria pego.



Então o sucessor do Rogério Ceni passará por apuros?

A cobrança vai ser enorme. E lá não vai bastar para o goleiro pegar para caramba, porque ainda vão dizer que ele não fez gol. Mas quem não quiser cobrança que vá jogar em um clube pequeno.



Você completou 37 anos na quinta-feira. Como festejou?

Cada ano que passa, eu comemoro mais. Sou um cara muito realizado e não pensava lá atrás que chegaria aos 37 anos jogando em um clube como o Palmeiras. Quando tinha 32 anos e renovei com o Vasco por três, achei que seria meu último contrato. Agora, estou 100% e não me vejo parando.



Qual o segredo para chegar aos 37 em forma?

Eu sempre me cuidei, mas, quando fui ficando mais velho, passei a comer fast food só uma vez por ano, tomo refrigerante apenas em datas especiais. Lá atrás, eu pesava 87,5 kg e tinha 12,5% de gordura. Hoje, estou com 94 kg e 10% de gordura.



Mas você treina menos do que antes?

Pelo contrário. Vejo muito jogador chegando aos 30 e poucos e se dosando em treino. Com isso, ele vai condicionar o corpo a trabalhar menos. Faço o mesmo treino dos meninos. Inclusive, em dia de jogo à noite, venho treinar pela manhã.



O Palmeiras vem de quatro vitórias seguidas sem levar gol. Já havia vivido um momento tão bom desde que chegou?

Nunca. E é o melhor momento em todos os sentidos: resultado, desempenho, organização, estrutura de clube, de time… E ainda vai melhorar, porque estão terminando de construir um hotel aqui no CT.



Então dá para cravar que vocês serão campeões em breve?

Pela experiência que eu tenho, dá para dizer que está se formando um grupo forte, respaldado por um lastro financeiro de 130 mil sócios-torcedores, com direito a um estádio que dá uma renda absurda… Temos todos os ingredientes para fazer um baita bolo, agora depende da mão do cozinheiro.



Três meses após chegar ao Palmeiras, em março de 2013, você foi atingido por uma xícara atirada por um torcedor. O quanto aquilo o assustou?

Eu só tinha feito uns cinco jogos pelo Palmeiras, mal conhecia o clube e ficou uma primeira impressão ruim. Tanto que minha família ficou um tempo sem ir ao estádio. Mas eu não tinha nada a ver. Os torcedores queriam pegar o Valdivia no aeroporto em Buenos Aires, após um jogo da Libertadores.



Qual o melhor time do Brasil hoje?

Não tem um melhor. Em 2013 e 2014 era o Cruzeiro, sem dúvida nenhuma. Neste ano, o Cruzeiro desceu um patamar e tem várias times equilibradas.



Além do Vasco, que ainda lhe paga, ainda há outros clubes devendo dinheiro?

Mais nenhum. Embora eu tenha aberto mão de dois meses de salário no União de Leiria para voltar ao Vasco e tenha feito acordo para sair do Vila Nova. Acho melhor um mau acordo do que uma boa briga.



Como recebeu a notícia de que perdeu a faixa de capitão depois da chegada do Marcelo Oliveira?

Para mim, é normal. Claro que é uma honra botar a faixa de capitão em um time com a grandeza e a tradição do Palmeiras. Dá satisfação, mas nunca mudei meu jeito por ser capitão ou não. Continuo participando de tudo, inclusive das conversas com a diretoria.



Qual o maior absurdo do futebol na atualidade?

Não sei se é o maior, mas está entre os maiores: essa determinação de não poder falar com a arbitragem. É verdade que se recamava demais, mas perderam a mão e ficou muito radical. Até por isso, faz sentido não ter um goleiro capitão, porque estou sempre longe do árbitro.



Qual foi a crítica mais dura que já recebeu?

Sempre fui muito tranquilo em relação à critica. Meus piores momentos na carreira foram sempre relacionados a lesões e não com alguma fase ruim dentro de campo.



E qual foi o pior momento?

Tive dois muito ruins, mas o pior foi no ano passado. Sofri uma contusão ferrada no cotovelo e o médico que me operou, com mais de mil cirurgias no currículo, nunca tinha operado um goleiro. O mais próximo tinha sido o Edmilson, aqui do Palmeiras, que ficou com limitação dos movimentos.



Você levou mais de cinco meses para voltar. Chegou a pensar que teria de parar?

Eu sentia muita dor e tomava remédio direto. Andava medicado 24 horas por dia. Sem contar a situação que o clube atravessava, brigando para não ser rebaixado. Tinha medo de não jogar mais porque doía só de contrair o tríceps. Quando havia impacto da bola, então…



E como se resolveu?

Tiramos os pinos e aí entendi a dor. Eram dois pinos imensos e um fio de aço da grossura de um arame. Aquilo batia direto no cotovelo. Melhorou bastante, mas ainda fiz onda de choque, tomei infiltração e hoje sinto aquela dor suportável.



Qual foi o outro momento difícil que citou?

Em 1997, eu estava nos juniores do Grêmio e rompi o ligamento cruzado do joelho direito. Naquela época, não tinha ressonância e a técnica de cirurgia era completamente diferente. Levei 11 meses para voltar e, quando fui liberado, era o sétimo goleiro do time. Imagina a situação: ganhava R$ 500 por mês, nunca tinha jogado e estava há quatro meses do fim do contrato. Por sorte, o Celso Roth me subiu para o time profissional e ganhei um pouco de tempo para mostrar algo.



Tem ideia do que você faria da vida se não fosse jogador?

Difícil falar, porque comecei a jogar com oito anos, fui para o Grêmio com 12 e já estou há 25 anos fazendo isso aqui. Sem contar que o futebol é uma profissão que dificilmente dá brecha para você fazer outras coisas em paralelo. Não sei se seria empreendedor, advogado…



Mas e quando parar?

Cheguei a fazer faculdade de Educação Física quando estava no Grêmio, mas, quando parar, farei alguma faculdade que não tenha nada a ver com futebol.



Como assim?

Primeiro, é importante dizer que não sei quando vou parar: pode ser daqui a três, quatro ou cinco anos. Meus planos são de morar fora, nos Estados Unidos ou na Austrália, e depois estudar e conhecer coisas fora do futebol.



Gosta da ideia de continuar no futebol quando parar?

Para saber se é isso que eu vou querer fazer, precisarei conhecer o outro lado primeiro. É aquela coisa: você gosta do doce sem experimentar o salgado. Quero ver outras possibilidades. De repente, me apaixono completamente por algo.



Como investe seu dinheiro?

Tenho imóveis, aplicações no mercado financeiro, debentures da CCR, com isenção de imposto de renda… Sem contar o restaurante da família, na Guarda do Embaú, em Santa Catarina. Meu pai e minha irmã que tocam no dia a dia.



É impressão ou você se afastou um pouco do Bom Senso?

Não me afastei, não. É que agora chegou um momento em que as ações estão mais nos bastidores. Estou acompanhando tudo: sei que a Medida Provisória foi aprovado na comissão, depois foi para o Plenário e agora está no Senado.



E como é sua atuação?

Converso com muita gente. Já tive reunião com Aldo Rebelo, Toninho Nascimento, Otávio Leite… Sem contar as vezes em que precisa e eu pego o telefone e ligo para os políticos. Se a MP que está sendo aprovada não é perfeita, pelo menos deu um passo enorme para fazer o futebol melhor.



Vários clubes passam por graves crises financeiras. Existe o risco de uma quebradeira geral?

Sinceramente, não sei a que ponto poderia chegar. Porque hoje, sob o aspecto financeiro, há muitos clubes praticamente quebrados. Agora o Governo dá uma mãozinha com o financiamento em 20 anos, com abatimento das dívidas, então é uma mão na roda. Vale lembrar que a dívida fiscal representa mais de 50% das dívidas dos clubes.



Sente-se bem fazendo política?

Não gosto. Faço porque acho que é importante. Há uma frase que diz: em momentos de crise, ficar em cima do muro é a maior covardia. Estou vendo que essa batalha vai refletir na classe e eu precisava me posicionar.



É possível imaginá-lo no futuro como presidente de um clube? Ou técnico?

Não. As pessoas criticam muito que os clubes não são geridos por profissionais, mas vários jogadores param e no outro ano são diretores, treinadores… O cara tem de se preparar e muito. Por mais experiência que tenha adquirido em campo, é completamente diferente da parte administrativa. Tem de se preparar.



Por que virou goleiro?

Para falar a verdade, eu comecei jogando na linha, no futsal. Com oito anos de idade, eu não tinha posição, só corria atrás da bola. E até que eu era mais ou menos bom, não fazia feio. Aí, um dia, nosso goleiro faltou em um jogo do campeonato e começamos a revezar. Fui o primeiro a ir para o gol, o time ganhou, fui bem e nunca mais saí.



Qual o pior frango que você sofreu?

(Pensativo) Foi em 2001, pelo Vila Nova, em um jogo contra o Internacional, pela Copa do Brasil. Deram um balão e eu saí da área para tirar de cabeça ou com o pé. Mas a bola parece que quicou no cimento, porque subiu muito, me encobriu e o Luiz Cláudio só empurrou a bola para o gol. O jogo terminou em 3 a 3.



Você chegou a ter algum ídolo na linha?

Não que eu me lembre, porque, depois que virei goleiro, comecei a observar mais os goleiros. Por exemplo, o Taffarel e o Mazaropi.



É verdade que seu avô também foi jogador?

É sim, seu Lúcio era o beque de espera. Não chegou a ser profissional, apesar de ter o convite para jogar no extinto Renner, de Porto Alegre. Ele precisou trabalhar, porque a realidade financeira era outra, e teve de largar o futebol.



E ele o incentivava?

Ele adorava me ver jogar, tanto que com 90 e poucos anos ia no estádio. Toda vez que eu jogava em Florianópolis, ele aparecia. Infelizmente, faleceu em 2007.



Dizem que mãe e esposa de jogador de linha sofrem durante o jogo, com medo de contusão. De goleiro também?

Posso dizer que sofrem em dobro, porque, além do medo de lesão, ainda tem a preocupação com alguma falha, que sempre resulta em gol. Minha mãe, dona Sandra, fica muito nervosa.



E sua mulher?

A Letícia já avisou que nosso filho não vai jogar no gol, porque ela não quer pagar os pecados duas vezes. Já basta o marido. Para se ter uma ideia, a Letícia não o deixa chegar nem perto da luva.







30477 visitas - Fonte: Blog do Jorge Nicola

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