Das peladas do bairro ao Verdão, Gabriel Jesus não esquece as origens

À vontade no profissional, promessa do Palmeiras lembra das peladas em que deu seus primeiros chutes, revela inspiração em Ronaldinho Gaúcho e fala sobre fama precoce

Gabriel Jesus posa para o LANCE! na Academia de Futebol (Foto:Alan Morici/LANCE!Press)



Bastou um toque na bola para que Gabriel Jesus se livrasse da marcação de Lucas com um chapéu. Na sequência, o garoto "achou" Cristaldo atrás da defesa e o acionou com um lançamento de três dedos. Era só um coletivo - e ele sabe disso -, mas a linda jogada que terminou em gol do argentino mostra que o Palmeiras uma joia tem nas mãos.



- Quando dá, sempre tento mostrar um pouco de habilidade. Foi o que a jogada pediu. Resultou em gol, mas é treino, não adianta ficar só no treino - avisou Gabriel, ao LANCE!.



Ele ainda é um homem em formação. Tem 18 anos, é tímido até para sorrir em fotos e nem iniciou o processo para obter a carta de motorista, mas ao mesmo tempo tem consciência de que precisa repetir no profissional o desempenho da base para confirmar a fama de promessa.



O lado garoto do palmeirense se faz presente quando ele visita o Jardim Peri, bairro onde morou até poucos meses atrás, para ver a pelada dos amigos. O lado experiente o impede de participar da brincadeira que já lhe rendeu bons goles de refrigerante para evitar uma lesão.



- Quando era pequeno, jogava na rua com os marmanjos, apanhava demais, e foi daí que começou. Ninguém queria perder, porque era apostando Dolly - lembra o camisa 33, que jura ter feito parte de um esquadrão que ainda domina os "contras", mesmo sem ele.



Para tirá-lo da quadra, só um ídolo que hoje serve de inspiração.

- O Ronaldinho Gaúcho. Quando comecei a jogar bola na rua, via ele jogando pela TV. Pô, em 2006, 2008, ele bagunçou. Era difícil eu parar de jogar bola, mas já até parei para assistir ele jogando - conta.



Gabriel foi da várzea direto para o time sub-17 do Palmeiras, mas jogou tanto que fez só uma “participação especial” no sub-20 antes de ser promovido. Por enquanto, fez só um gol em 13 jogos, mas não há pressa para vê-lo explodir. O clube o encara como um candidato seríssimo a futuro ídolo. Como R10?



- Vou ficar muito feliz se um dia se espelharem em mim.





Jovem é conhecido pela grande quantidade de gols na base (FOTO: Alan Morici/LANCE!Press)



Confira um bate-bola exclusivo com Gabriel Jesus:



Como você lida com o rótulo de promessa do futebol brasileiro?



Muitas pessoas falam isso para mim, mas eu nem fico pensando assim. Tenho que pensar mais dentro de campo, em ajudar a equipe e demonstrar meu futebol. Procuro não parar para pensar nesses negócios. Pode me ajudar, mas também pode atrapalhar, porque fica um peso, né?



Você demorou 12 jogos para marcar gol. Por isso chorou quando fez contra o ASA-AL?

Foi um gol importante. Quem fala que não ficou emocionado com o primeiro gol no profissional está mentindo ou é muito frio. Foram umas quatro, cinco comemorações de uma vez só. Fiquei emocionado, caiu uma lágrima. Não cheguei a chorar, mas caiu, sim.



Os jogadores tiraram sarro?

Todo mundo me deu parabéns, elogiou. Uns brincaram, falaram "Jesus chorou" (música do grupo Racionais MC's) e tal, esses negócios. Mas é tranquilo, é normal (risos).



Já está dando autógrafo?



Não está aquela coisa que você fala "caramba, da hora", mas eu tenho um, que é G. Jesus. Ainda vou melhorar.



Ainda joga a pelada do bairro?

Deixei de jogar no fim do ano passado porque é muito arriscado. Em uma segunda de folga, fui lá, fiquei olhando, e os moleques do outro time já falaram: "O Gabriel vai jogar? Vocês trouxeram o Gabriel? Não vale". Eu falei: "Você é louco? Não vou jogar, não". Mas mesmo assim eles ganharam, os meninos são muito bons. Meu time sempre foi o melhor. Não por causa de mim, lógico, mas porque todos eram bons. Pô, era um time do caramba! Eram cinco no time e eu catava no gol, jogava de goleiro-linha, dominava e chutava forte. Sempre foi bom, nós ganhávamos toda vez.



Já que você é fã do Ronaldinho, está pensando em trocar camisa quando jogar contra o Flu?



Falei para os caras aqui: "Quem conseguir trocar camisa com ele, me dá". Tem até o Marlon, que estava comigo na Seleção, e falei: "Pô, Marlon, se você ficar próximo dele fala para ele trocar a camisa comigo". É um ídolo, olho muito ele jogar, e ainda bem que voltou para o Brasil, que aí eu posso ver de perto.



A TRAJETÓRIA:

Primeiros chutes - Gabriel Jesus tinha apenas seis anos quando começou a jogar futebol. Nas peladas do Jardim Peri, bairro onde morou dos três anos de idade até poucos meses atrás, ele encarava adversários mais velhos. Geralmente, a brincadeira valia garrafas de refrigerante.



Talento raro - Em 2012, Gabriel enfrentou o Palmeiras pelo Anhanguera, time de várzea. Os profissionais da base alviverde se impressionaram tanto com ele que ignoraram o fato de não poderem inscrevê-lo nas competições daquele ano, já que o prazo para novos registros havia acabado. O atacante ficou alguns dias em observação, foi aprovado e ficou só treinando. Ele era aposta para o futuro.



Anônimo até outro dia - Quando não era possível pegar carona, Gabriel ia de ônibus do Jardim Peri até a Barra Funda, onde se juntava aos outros garotos da base e partia para o treino em Guarulhos no veículo do Palmeiras. Isso só deixou de acontecer no ano passado, quando o jovem passou a ser reconhecido na rua – ele ainda não tirou carta e vai à Academia de carona com o irmão.



Pouco mudou - Gabriel já é tietado em locais públicos, mas segue indo ao shopping para tomar sorvete com os amigos, como sempre fez.