Atento como deve ser o blog ao que rola na mídia esportiva nacional, fiquei bastante impressionado com a entrevista que a rádio CBN levou ao ar, há cerca de duas semanas, com o técnico do Grêmio, Roger Machado. Primeiro, pela clareza do discurso, pelo refino e articulação dele, o que já o torno um caso à parte entre os técnicos. Não bastasse isso, o Grêmio faz uma campanha muito boa para o elenco que tem, logo no primeiro trabalho de Roger num grande clube. Não exagero quando digo que, pelos conceitos dele sobre futebol, fique comvontade de que ele fosse o técnico do meu time e da Seleção Brasileira. Alguns dos pensamentos do comandante gremista:
- "Quando parei de jogar, decidi ficar quatro anos me preparando para ser treinador. Concluí o curso de educação física, aprendi noções de fisiologia, para saber a dosagem dos treinos, entre outras coisas. Fiz curso de administração esportiva, para entender como funciona o mercado, o que o ajuda na montagem do elenco".
- "Não acredito em jogador que anda no treino para correr só no jogo".
- "Defendo a pré-temporada longa para preparar um time. A melhor forma de armar uma equipe é montando da parte para o todo. Primeiro organizamos bem a defesa, depois acrescenta-se o meio-campo, e por fim o ataque. No esquema que é hoje, somos obrigados a montar todo o time em 20 dias, e depois ir treinando em cima dos erros que aparecem no jogo".
- "Sou um consumidor voraz de livros sobre o futebol. A literatura aqui é pouca, leio livros estrangeiros. Para aprender outras culturas e organizações de jogo, para poder aplicá-las aqui, não perdendo a característica do futebol brasileiro, que é o drible, a arte, a inventividade".
- "Sempre ressaltando que essa não é a única verdade, mas é como eu vejo, fui jogador de 30 técnicos. Aprendi muito com cada um. Mas se fosse direto do campo para o banco, iria apenas reproduzir conceitos que os técnicos aprenderam com os técnicos destes, que aprenderam com os técnicos daqueles. Ou seja, iria reproduzir conceitos de 50 anos atrás. Admite que alguns desses conceitos ainda valem, mas que outros só estudando e aprendendo com outras escolas e na teoria da universidade é possível atualizar".
- "No esquema do Grêmio, é fundamental a participação de Giuliano e Pedro Rocha na marcação pelos lados do campo. É fundamental a linha de quatro protegendo a defesa porque, didaticamente, se um zagueiro alto e mais pesado, encara um jogador mais baixo, mais leve, mais ágil é lógico que vai levar desvantagem. Procuro compactar o time para que o adversário não tenha espaço para tabelar, tentamos fazer um círculo perto da bola para o adversário se ver enredado e ter que retroceder. E buscamos avidamente a recuperação da bola quando a perdemos. " (um conceito básico do Barcelona, lembram?)
É isso. Vida longa às novas ideias, aos novos tempos, aos treinadores que aliam a experiência de terem jogado bola com a humildade de ralar para aprender a comandar e fazer um time de futebol render o máximo. Vida longa a Roger Machado.
P.S Não posso deixar de registrar entre os comentários do post sobre os palpites para a Copa do Brasil, o do doutor Leandro Apolinário, o melhor advogado trabalhista do país, a léguas do segundo colocado. Vascaíno da melhor safra, evidentemente discordou de meu palpite sobre seu time nas oitavas da Copa do Brasil. É claro que o Vasco tem tradição e camisa para avançar diante do Flamengo, mas não dá para fria e isentamente apontar favoritismo ao Cruzmaltina na situação atual. Caso o Vasco vença, já sei que a corneta vai tocar aqui no blog. Mas no caso do doutor Leandro, uma corneta desse naipe é música da melhor qualidade.
3327 visitas - Fonte: Globo Esporte