O meia Valdivia, em fim de contrato com o Palmeiras, definiu seu futuro em junho, durante a disputa da Copa América. Mas ele poderia ter assinado com um clube brasileiro bem antes disso. Enquanto ainda discutia a possibilidade de um novo contrato com a diretoria alviverde, o chileno recebeu duas ofertas de clubes brasileiros (Flamengo e Cruzeiro). Nas palavras do jogador, propostas melhores que a apresentada pelo Verdão.
Livre desde fevereiro para assinar um pré-contrato com qualquer equipe, o Mago, em entrevista ao GloboEsporte.com, rebateu críticas e afirmou não ser mercenário. Aproveitou para cutucar a cúpula palmeirense e responsabilizar a diretoria por sua saída.
– A diretoria se posicionou um tempo atrás falando que teria muito tempo pela frente (para definir se renovaria ou não), até o dia 17 de agosto, que é quando meu contrato acaba. Nesse período, recebi proposta, mas não assinei. Se fosse ingrato e mercenário, eu teria aceitado alguma das proposta dos dois times, que eram muito melhores – contou.
Há um culpado por não permanecer no Palmeiras?
– A diretoria. O Oswaldo (de Oliveira, ex-técnico do Verdão) falou publicamente que faria de tudo para eu permanecer. Infelizmente, ele acabou saindo primeiro que eu. Guardo muito carinho por ele porque era uma pessoa 100% franca e honesta. Quem eu posso dizer que foi o responsável pela minha não permanência foi a diretoria. Eles não mostraram internamente o desejo que passavam para fora.
Por que você acha que o Palmeiras não admite que não queria renovar?
– Eles sabem que tem muita gente que gosta de mim. O torcedor queria que eu ficasse. Se a diretoria se posicionasse de uma maneira negativa falando que eu não iria ficar, ainda mais com a Copa América que eu fiz, tenho certeza de que alguns iriam criticar a postura deles. Tentaram também acusar meu pai. Ele teve uma situação delicada com meu avô, que morreu. Mas isso foi em maio. Não tivemos contato mais. Fui campeão da Copa América e nem uma mensagem do Paulo recebi. E ele disse que sentia que o Palmeiras também era um pouco campeão da Copa América. O (Alexandre) Mattos (diretor de futebol), sim, me ligou e mandou uma mensagem: "Parabéns, vocês mereceram". Mas do Paulo, nada.
Você recebeu propostas de outros clubes nesse período?
– Recebi duas de clubes brasileiros, mas eu estava esperando a minha equipe. Falei cara a cara, inúmeras vezes, que não tinha gostado (da primeira proposta do Palmeiras). Não é a palavra produtividade que foi determinante para eu não ficar, mas como seria definida a produtividade. Tem casos de ir para a seleção, de treinador poupar o jogador, sempre fui crítico em relação a isso. Se isso acontecesse eu não receberia? Mas nunca houve uma reunião para se explicar isso. As pessoas tentaram acusar meu pai de não ter vindo numa reunião no dia 7 de maio. Mas quando você manda uma proposta por e-mail acho que o fato de o meu pai não ter vindo não é tão determinante. A primeira foi por e-mail a segunda poderia ter sido também. Se a diretoria realmente tinha a intenção de renovar, poderia ter ido até o Chile também, coisa que não aconteceu.
Faltou franqueza por parte dos dirigentes?
– Sem dúvida. Se você realmente quer que o seu empregado fique, você logo define o assunto. A diretoria se posicionou há algum tempo dizendo que teria muito tempo pela frente, até o dia 17 de agosto, que é quando meu contrato acaba, para definir. Nesse período, recebi proposta, mas não assinei. Se eu fosse ingrato e mercenário eu teria aceitado uma das duas ofertas, que eram muito melhores.
Você pediu para não jogar?
– Fiz, sim, um pedido ao presidente de me ausentar dos dois últimos jogos, contra ASA e Corinthians, e esse pedido foi negado. Não tem problema. Joguei os dois jogos. A partir do momento em que o Palmeiras perdeu a exclusividade de renovar comigo, eu poderia teria feito muitas coisa para não continuar aqui. Não iria para os jogos, não ficaria bravo com o treinador quando não me colocava para jogar, quando me tirava dos jogos, não jogaria como eu joguei contra o Corinthians. Eu dei a vida lá no estádio deles. Outros (jogadores) pediram para sair, eu não, eu continuei e joguei.
Você teve problemas com o departamento médico do clube?
– Hoje a estrutura da fisioterapia do Palmeiras é nota 10. Mesmo assim, tem gente que se machuca. O próprio Oswaldo falou que dos 40 jogadores que tinha, 30 ou 35 já tinha passado pelo DM. Não é só o Valdivia. A minha defesa é essa. O Palmeiras sempre teve médicos bons, a parte física muito boa, mas os tratamentos (de fisioterapia) às vezes não adiantavam. Trouxe um fisioterapeuta que paguei do meu bolso e o resultado está aí. Passei a jogar mais e a ter menos lesões.
Você foi um bom investimento para o Palmeiras?
– Dizem que eu ganhava 700 mil aqui, 600 mil, 500 mil... Nunca ganhei isso. Quando eu vim para o Palmeiras, o clube pagou 3 milhões de dólares e eu ganhava 35 mil (reais). Fui vendido por 9 ou 11 milhões de euros. Nem foi o Palmeiras que pagou, foi um investidor. Agora se o Palmeiras paga para o investidor ou para o banco não é problema do jogador. Se juntar os sete anos, foi um bom investimento.
E na segunda passagem?
– Na segunda passagem, a gratidão que eu sinto pelo clube foi marcada pela (minha) permanência para disputar a Série B arriscando perder uma Copa do Mundo. Foi ser campeão da Copa do Brasil. foi jogar no limite, sem condição física, no último jogo para não cair no ano passado. Dependíamos desse jogo. Se não tivéssemos deixado o clube na Série A, nada disso que o clube vive hoje teria acontecido, com jogadores de qualidade, estádio lotado. Eu fiz as minhas coisas negativas, mas falando em salário, em quantas vezes eu joguei sem condição, acho que foi bom (investimento) sim. Com certeza.
Como é o seu relacionamento com a torcida?
– Faz tempo que tem uma divisão entre o verdadeiro torcedor palmeirense e o torcedor organizado. E não é todo mundo lá (nas organizadas) que me odeia. Recebo mensagem deles falando que estão tristes por eu ir embora, mas também outros que me xingam. Sinto que as pessoas queriam que eu ficasse, estão tristes por eu ir embora. Se você quer fazer uma matéria negativa e passar a imagem de que ninguém queria que eu ficasse, você vai logo na torcida organizada. Mas se entrevistar de dez caras, cinco ou seis vão falar que estão tristes por eu ir embora. E eu sou o primeiro a ficar triste por ter de sair.
Que mensagem você deixa ao torcedor palmeirense...
– Agradecimento por ter me esperado, me elogiado. Esperei até onde eu pude, mas não podia esperar mais porque não vi interesse, como aconteceu com outros jogadores. Com Kardec e Barrios, a diretoria até viajou para acertar. Aí você vê a diferença. Quero agradecer pelo carinho que essa torcida me entregou, mesmo com divisão, com críticas. Nunca vou esquecer quando tinha parte da torcida me xingando, e a outra parte, a maioria, me aplaudindo.
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