Desorganização do Palmeiras não é por falta de vibração. É falta de organização coletiva

O Vasco já abrira o placar e calava o Allianz quando Rafael Silva, em apenas um movimento, conseguiu bagunçar a defesa do Palmeiras e passar para Nenê anotar o gol. Torcedores e até jornalistas explicariam o lance como uma falha de Vítor Hugo, que errou o bote no camisa 9, como você vê na imagem.





Mas veja novamente e retorne ao início do lance. Observa que 1.Egídio sai da linha defensiva e vai dar um bote no suposto lugar de Zé Roberto; 2.Robinho apenas assiste e 3.Thiago Santos vai cobrir o erro e…erra de novo, deixando um espaço livre. O que você faria no lugar de Vítor Hugo, com menos de 1 segundo para agir?







O Vasco deu um banho de organização. O 4-3-1-2 de Jorginho tinha Riascos e Rafael voltando pelos lados e levando João Pedro e Egídio no ataque. No Palmeiras, Marcelo Oliveira posicionou Robinho como meia aberto e Rafael e Gabriel procurando o 1x1 no ataque. Um 4-3-3 sem unidade e abusando da marcação individual.









O lanterna Vasco venceu pois foi mais organizado e coletivo que o tecnicamente superior Palmeiras.



Jogador não joga sozinho. Mesmo se for melhor, precisa do companheiro. Sem movimentos pensados e ideias, a ansiedade e a pressão de resolver por si, ou de correr mais, só aumenta...novamente o Palmeiras saía mal, mesmo com 2 armadores - Zé e Robinho. A criatividade depende menos dos camisas 10 e mais da organização coletiva. A saída de bola, por exemplo. Primeira etapa do ataque. Se pouca recebe na frente, como na imagem, fica mais difícil para os atacantes receberem em condição de finalizar.







Poucas alternativas na saída de bola, fazendo o jogo ficar mais picado





A solução cria outra lacuna: Barrios recua e mata a profundidade do ataque. Sem opção pra passar, a jogada termina no lado, com algum cruzamento.



O problema está na falta de uma ideia de jogo. Se não existe uma consiência de como a equipe deve atacar e defender coletivamente, o jogo fica excessivamente individual. Uns tentam correr, outros tentam resolver por todos e o time atua sem unidade, criando uma desconexão nos movimentos. O passe sai errado pois o movimento não é coordenado. Solução automática? Chutão ou cruzar para a área.



Será que a explicação para tudo isso é a falta de vibração?



Por cultura, o brasileiro tem dificuldade de entender o jogo e busca explicações fora do campo. Enquanto isso, equipes tecnicamente inferiores como Chapecoense, Ponte Preta e agora Vasco venceram o Palmeiras pois possuem um plano tático coletivo e pensado. Uma ideia, um norte do que se quer e um treino para alcançar isso.



Há alguns anos, o futebol ficou mais veloz e intenso. Com menos espaços, as equipes precisam de movimentos elaborados para desorganizar o rival e não permitir que ele avance. O segredo é o espaço: diminuí-lo na defesa, criá-lo no ataque. Como? Marcação zonal, jogadores procurando espaços entre as linhas do oponente, saída qualificada com volantes de bom passe e velocidade. Santos e Corinthians que o digam.



O palmeirense deve apoiar em mais uma final. Mas já faz meses que o futebol é pobre e o sufoco é grande. Pouco para tantas opções no banco, o luxo de se ter Barrios no meio de temporada e repor com precisão a lesão de Gabriel. Alguns motivos que fazem o trabalho de Marcelo Oliveira ser aquém do esperado. E do possível.