Bayern e Corinthians? Declaração de Marcelo Oliveira se perde em meio a um Palmeiras desorganizado; veja análise

A declaração de Marcelo Oliveira, técnico do Palmeiras, após a derrota para o Vasco, no último domingo, comparando o Corinthians ao Bayern de Munique, levanta uma série de questionamentos sobre como praticar futebol atualmente, modelo de jogo, criação de comportamentos coletivos e individuais, etc... Por outro lado, a afirmação do comandante alviverde também o joga, inconscientemente, contra a parede.



Explico. Ficou claro que, ao dizer "que o Corinthians tem uma marcação igual a do Bayern", o treinador se referiu aos momentos defensivos das duas equipes. Neste sentido, existe sim uma semelhança clara: a compactação defensiva. Mas qual equipe vencedora hoje no mundo não se compacta na hora de defender?





Marcelo Oliveira elogiou a compactação do Corinthians



Independente do esquema tático, é comprovado por quem estuda futebol que, quanto mais você diminui a área de atuação do seu adversário, mais chances de sucesso (não levar gol no caso) você tem.



Na análise feita pelo DataESPN, logo após a última partida do Palmeiras, mostramos o quanto a equipe de Marcelo Oliveira teve dificuldade em sua transição defensiva. Foi ao ar na ESPN Brasil três lances. No primeiro, em uma saída de bola errada, o Vasco recupera a posse e sai rápido. O time carioca, quase que com igualdade numérica, tem um contra-ataque com o Palmeiras totalmente desequilibrado defensivamente. Os alviverdes atacam a zona da bola e deixam dois jogadores vascaínos livres no lado oposto.



Em seguida, em duas bolas paradas ofensivas, o time paulista vê sua linha de quatro mais uma vez desequilibrada. Vemos metade do time fazendo a pressão na bola, independente de onde ela esteja, e a outra fazendo a recomposição defensiva. Também há jogadores desistindo da jogada. Resumindo, não existe um padrão. Padrão, inclusive, que vemos em Corinthians, Bayern, Barcelona, Grêmio, Sport, Borussia Dortmund... Ou seja, conceitos e ideias precisam estar coordenados dentro do mesmo modelo de jogo.





Comportamento do sistema defensivo do Palmeiras contra o Vasco



Vou dar um exemplo prático: Meu time perdeu a bola. Vamos pressionar o adversário a todo custo para recuperar a posse dela imediatamente? Vamos todos (coletivamente!) se colocar atrás da linha da bola e se posicionar para neutralizar os espaços? Ou vamos pressionar a zona da bola até ela sair de uma zona de pressão? Isso é preciso ser definido e, principalmente, ser treinado para ser feito coletivamente.



Outra situação que Marcelo Oliveira deve ter visto como semelhante entre equipes como Corinthians e Bayern de Munique é a transição ofensiva organizada. Sim, o time de Tite consegue chegar ao ataque com toques rápidos e com pelo menos quatro jogadores. No último fim de semana, contra o Stuttgart, a equipe de Pep Guardiola chegou com seis atletas. E fez o gol. Mas José Mourinho faz isso, Jurgen Klopp também... Milton Mendes fazia com o Atlético-PR no início deste Brasileirão. Existem diversas equipes no mundo com essa característica como seu ponto forte.





Bayern tem uma transição ofensiva organizada



A questão aqui é muito maior. É sobre o futebol que pratica o Palmeiras. Uma equipe que joga com uma intensidade absurda sem a bola, que consegue pressionar o adversário e sair rápido em contra-ataque e que chegou na final da Copa do Brasil também com seus méritos. Mas é a mesma equipe que até outro dia só chegava ao ataque com bolas longas, que tem um sistema de cobertura com problemas, que tem um mecanismo de saída de bola de pouco repertório e uma bola parada defensiva.



A declaração de Marcelo Oliveira, apesar de bem pontuada, se virou contra ele próprio. Sim, ele tem competência e um currículo para comprovar que pode praticar um futebol melhor. O Palmeiras tem elenco para jogar melhor. E ele tem exemplos de sobra, não só Corinthians e Bayern de Munique, para fazer um trabalho melhor.