Superstição, reza e festa em campo: o lado torcedor do fanático Paulo Nobre

Presidente do Palmeiras não assistiu aos minutos finais dos jogos decisivos da Copa Brasil. Em vez disso, ficou rezando no vestiário da arena até ser avisado do título

Paulo Nobre e o técnico Marcelo Oliveira depois da vitória contra o Santos na decisão do título (Foto: Marcos Ribolli)



Dos 39.660 torcedores que estiveram na arena alviverde no dia 2 de dezembro acompanhando a partida entre Palmeiras e Santos, final da Copa do Brasil, pelo menos um deles não assistiu aos minutos finais da decisão. Por superstição, o presidente Paulo Nobre resolveu abandonar o camarote da diretoria, no quarto andar do estádio, para se preservar em um local reservado no vestiário.



O dirigente já havia tomado essa atitude em outras ocasiões. Tudo começou em 2014, na última rodada do Campeonato Brasileiro, no empate em 1 a 1 com o Atlético-PR que evitou o rebaixamento da equipe à Série B.



– Superstição é uma desgraça. Quando começou o segundo tempo de Palmeiras e Atlético-PR em 2014, eu fiquei tão nervoso que desci para o vestiário e fiquei rezando. Passou o filme da minha vida na minha cabeça, fiquei me perguntando se eu atirei pedra na cruz. Acabou que nos safamos graças ao Santos, que ganhou do Vitória. Isso me marcou – conta.



Todo o ritual de Paulo Nobre foi repetido em 2015, na fase decisiva da Copa do Brasil. Nas quartas de final, contra o Internacional, e na semifinal, contra o Fluminense, o presidente se trancou no vestiário. O problema é que o atraso de três ou quatro segundos da televisão do vestiário o confundia. Então, na decisão contra o Santos, decidiu nem ficar perto do monitor.



– Quando estava 1 a 0, faltavam 15 minutos, e eu falei: "Em time que está ganhando não se mexe". Minha cota de colaboração seria não assistir a essa vitória épica. Eu falava: "Eu abro mão de ver a essa conquista, mas não tira isso do Palmeiras" (risos)... Eu escutei o 2 a 0 e depois escutei um barulho menor (pelo gol do Santos). Quem estava no vestiário (vendo pela televisão) já estava praguejando – lembra.



– Nos pênaltis, eu fiquei no meu cantinho porque estava dando certo. Eu sabia que o Prass era o sexto a bater, pelos treinos. Quando eu vejo a torcida comemorar duas vezes seguidas muito rápido eu pensei: "Foi gol e o Santos não marcou, estamos com uma vantagem". Quando eu escutei o pessoal no vestiário falando "Vai, Prass", eu fiquei decepcionado pensando que tínhamos perdido a vantagem por causa do sexto pênalti. Foi gol e eu continuei na torcida para o Santos perder o sexto pênalti. O pessoal não parou de comemorar, até que me acharam e falaram: "Presidente, fomos campeões. Acabou". Eu respondi: "Acabou? Tem certeza?"... Porque contra o Fluminense teve um terceiro gol que foi anulado e eu saí pulando antes da hora. Dessa vez eu não quis correr risco.



Além da superstição, Paulo Nobre fez uma promessa (não revelada) durante os minutos finais da final da Copa do Brasil e viveu uma noite de herói no estádio. Ao entrar no gramado, acompanhado pelo vice Mauricio Galiotte, o dirigente foi ovacionado pelos torcedores e teve o nome gritado na arquibancada, situação bem diferente da vivida no ano anterior.



– É muito legal ver o palmeirense contente. O fato de gritar seu nome ou não... O futebol é tão volátil. Em 2013, o palmeirense me adorava. No fim de 2014, o palmeirense praguejava contra mim. No fim de 2015, voltou a gostar. (Em 2016) espero que continue. Você não pode se abater com as críticas nem se emocionar com os aplausos.





Paulo Nobre abraça Zé Roberto durante a comemoração do título (Foto: Marcos Ribolli)



Vice-presidente na gestão de Affonso Della Monica, nos anos de 2007 e 2008, Paulo Nobre assumiu a presidência no fim de janeiro de 2013. Conhecido por ser um torcedor fanático e colecionador de porquinhos, o dirigente é alvo de brincadeiras e especulações dos torcedores.

A imagem de bilionário disposto a usar dinheiro pessoal em contratações de grandes nomes o incomodava no começo. Hoje, mais experiente, ele leva com bom humor os comentários.



– Outro dia me perguntaram se é verdade que no portão da minha casa tem dois porcos de ouro. Eu falei: "O quê?". Tenho dois javalis de pedra (risos). As coisas vão aumentando. Falam "o Paulo Nobre é dono do Banco Itaú"... As pessoas não têm noção do tamanho do banco.



O maior investidor pessoa física... Se eu fosse, eu faria todas e mais algumas loucuras e não ia nem perceber. Eu trabalho no mercado financeiro, tenho ações do Itaú, da Vale do Rio Doce, do Bradesco, do Banco do Brasil... Tenho uma carteira de ações. Existe muito exagero no mercado. Em 2013 eu ficava meio assustado, hoje acho engraçado – diz.



Na presidência, Paulo Nobre tenta controlar as emoções e separar a função de dirigente e administrador da paixão de ser um torcedor de arquibancada. Realizado com a conquista da Copa do Brasil, ele enaltece a campanha da equipe de Marcelo Oliveira e diz que o título será um marco na história recente do clube.



– Existia muita dúvida sobre a maneira com que estávamos administrando o clube. Eu já tinha visto que tinha mudado da água para o vinho, mas se você não tem uma conquista esportiva parece que a coisa não aconteceu. Eu sabia que era fundamental, e os jogadores mereciam. A torcida merecia. Eu tinha certeza de que seria um final de ano totalmente verde, que isso seria muito positivo para o elenco e teria influência em 2016. O nervosismo foi grande, mas graças a Deus deu certo.





Paulo Nobre comemora a vitória contra o Fluminense, que levou o Verdão à final da Copa do Brasil (Foto: Marcos Ribolli)