Libertadores é razão para deixar Zé Roberto em dúvida sobre a carreira

27/12/2015 11:20

Libertadores é razão para deixar Zé Roberto em dúvida sobre a carreira

Com contrato com o Palmeiras até o fim de 2016, lateral pode se aposentar dos gramados. "Volto para fazer a pré-temporada ou para dar tchau para os meus amigos"

Libertadores é razão para deixar Zé Roberto em dúvida sobre a carreira

Capitão do Verdão, Zé Roberto levanta a taça de campeão da Copa do Brasil (Foto: Marcos Ribolli)



"O Palmeiras é grande". O discurso de Zé Roberto no vestiário da arena alviverde no dia 31 de janeiro, momentos antes da partida contra o Audax, na primeira rodada do Campeonato Paulista, virou uma espécie de hino entre os jogadores e torcedores do Verdão na temporada.

Mas, além de contagiar o grupo e ganhar o respeito da arquibancada, serviu também como motivação para o atleta escrever mais algumas linhas em uma grande e brilhante carreira. Ou o título da Copa do Brasil será o último capítulo da trajetória do atleta como profissional?



Aos 41 anos, Zé Roberto ainda não tem essa resposta. Mesmo com contrato renovado até o fim de 2016, ele vai aproveitar o período de férias ao lado da família – enquanto segue treinando fisicamente até na praia (veja vídeo acima) – para tomar a decisão: pendurar as chuteiras ou disputar a Libertadores.



Após uma temporada de altos e baixos da equipe, o lateral-esquerdo não segurou as lágrimas quando viu Fernando Prass converter o pênalti que deu o título ao Palmeiras. Ao erguer o troféu, o incansável jogador sentiu, pela primeira vez em 21 anos de carreira, a sensação de dever cumprido.



– Passou pela minha cabeça dentro do campo (se aposentar com o título da Copa do Brasil). Quando eu senti aquela realização dei algumas declarações que ali seria o término do meu ciclo. Foi a primeira sensação que eu tive na minha mente. Mas também existe a possibilidade de jogar uma Libertadores – diz o atleta, deixando no ar o futuro.



O elenco do Palmeiras se reapresenta na Academia de Futebol no dia 6 de janeiro. E Zé Roberto garante presença ao lado dos companheiros. Só não sabe ainda se para iniciar a pré-temporada ou anunciar a decisão de se aposentar.



Volto para fazer a pré-temporada ou para dar tchau para os meus amigos (risos) – desconversa.

Experiente e líder do elenco, Zé Roberto não tem vergonha de assumir que sentiu a pressão das finais da Copa do Brasil. E chegou a sentir uma "tremedeira" quando ouviu do técnico Marcelo Oliveira que seria o primeiro batedor do Palmeiras na decisão por pênaltis contra o Santos. Foi quando o discurso do dia 31 de janeiro e os gritos na arena o ajudaram a construir uma vantagem importante.



Confira alguns trechos da entrevista exclusiva de Zé Roberto ao GloboEsporte.com:



GloboEsporte.com: Você terminou o ano como campeão da Copa do Brasil, capitão do Palmeiras e em grande fase. Tudo isso aos 41 anos. Como consegue?

Zé Roberto: Eu só posso definir isso como abençoado. De onde eu saí e onde eu cheguei, não tinha perspectiva nenhuma para me tornar um jogador. Saí da periferia, é um povo meio que desacreditado. até mesmo quando eu não acreditava mais, que foi a minha mãe. Acho que nunca vi um jogador de 42 anos jogando em time grande, conquistando um título da expressão da Copa do Brasil e jogando em alto nível. E eu joguei com jogadores de mais idade na Alemanha. Prestes a completar 42 anos eu nunca tive nenhuma lesão grave. Isso foi um fator muito importante para a minha longevidade. Sem falar outras coisas, como ser titular de uma seleção pedia um quinteto, sendo que já tinha o quarteto. Jogar em grandes clubes como Real Madrid, Bayern de Munique. Se eu for contar a minha história, o que eu passei, e chegar onde eu cheguei, com a carreira consolidada, só posso dizer que posso ser abençoado.



Por que você acha que criou uma identificação tão rápida com a torcida palmeirense?

O Palmeiras vinha de uma fase muito difícil. A torcida cobrava muito (que tivesse) contratação. Uma das primeiras fui eu. Até lembro que uma parte da torcida ficou meio assim por ter trazido um jogador de 40 anos para resolver o problema. Como eu sempre fui movido por desafios eu vim para o Palmeiras, pela história que tem. Vim para ser campeão e marcar meu nome na história do clube.



Não pensou em nenhum momento se valia esse desafio nesta altura da sua carreira?

Eu estou pensando agora (risos). O ano que vem teremos mais desafios, e mais difíceis. Quando você coroa uma temporada com uma vitória sempre a esperança para o próximo ano é melhor. A cobrança sempre vai existir. Pensar se vale a pena o ano que vem é porque, por entrar na história de um clube tão grande na história do Palmeiras no fim da minha carreira, eu posso dizer que eu estou realizado. Se eu decidir parar vou continuar realizado nessa busca por todos os sonhos que conquistei.



O Palmeiras se reapresenta dia 6 de janeiro. Você volta?

Eu volto (risos). É a reapresentação. Eu já volto definido do que vai ser o próximo ano para mim. Não que eu já não tenha essa definição. Estou meio que em êxtase, estou vivendo esse momento que foi muito marcante para mim. Nesse período em que eu vou estar de férias com a família vou pensar bastante para saber como será meu ano. Volto para fazer a pré-temporada ou para dar tchau para os meus amigos (risos).



O que te faz ter dúvida sobre seu futuro?

Não diria uma dúvida, mas esse período de férias vai ser importante. O que me mata é o calendário brasileiro, que consome muito de mim. Eu vivo a minha profissão intensamente. Se o treino é 16h30 eu chego uma hora antes, saio depois, entro para jogar e dou meu máximo. Nesse jogo contra o Flamengo (última rodada do Brasileirão) não era nem para eu ter ido. O professor Marcelo já tinha antecipado as férias de alguns. A parte emocional da final mexeu muito conosco. Ele tinha decidido levar o Vitor Hugo e o Dudu, mas o Egídio teve um problema. Eu fui no sábado para me despedir dos roupeiros e do pessoal. Quando eu fui ao campo me despedir da comissão técnica o professor falou que tinha tido um problema e que precisava de mim. Eu falei que estava lá para isso. Estava com a minha mala pronta, só tirei a nécessaire e fui para o jogo.



Você renovou por mais um ano há pouco tempo. O que te faz mudar de ideia agora?

O calendário me consome muito. Desde quando eu voltei para o Brasil, em 2012, eu tenho convivido pouco com a minha família. Sinto muito a falta de estar em casa. Ano que vem faz 21 anos de carreira profissional. Jogar de quarta e domingo não é problema para mim, mas concentração e viagem me matam. Estar longe de casa é um fator importante.





Zé Roberto renovou com até o fim de 2016

(Foto: Fabio Menotti/Ag. Palmeiras/Divulgação)




Então tem aquela sensação de parar por cima, de ter a última imagem como atleta profissional levantando um troféu?

Passou pela minha cabeça dentro do campo (pendurar as chuteiras). Quando eu senti aquela realização dei algumas declarações que ali seria o término do meu ciclo. Foi a primeira sensação que eu tive na minha mente. Mas também existe a possibilidade de jogar uma Libertadores. O Palmeiras tem essa tradição, tem o estádio com uma das maiores médias de público. O time foi formado nesse ano e já deu resposta. No ano que vem vai se manter a base, trazer algumas peças, então a possibilidade de conquista pode ser grande...



E parar com um possível titulo da Libertadores também não te motiva?

Claro. Me motiva também. Eu estou praticamente entre a cruz e a espada (risos). Tem dia que eu falo que parei. Isso me intriga. Mas a resposta eu ainda não tenho. Essa fase que eu vou estar com a minha família vou ter tempo para refletir bem.



Por que você acha que virou ídolo da torcida?

Eu acho que pela entrega, desde quando eu cheguei. Eu vim disposto a conquistar a torcida. A minha identificação com o torcedor foi por causa daquele discurso. Foi algo que marcou para essa fase de transição do clube. Quando eu cheguei o clube estava vindo de um momento de desprestígio, desacreditado. Era uma fase difícil para o torcedor palmeirense. Quando eu cheguei vim falando que o Palmeiras é grande, pela história, e com a convicção de que poderíamos trazer de volta o orgulho do torcedor.







Os seus discursos marcaram muito o ano do Palmeiras. É algo natural, de momento, ou você pensa dias antes o que falar?

Por já viver há muito tempo nesse meio aprendi muita coisa. Tem alguns momentos de jogos em que você, por ter passado experiências lá atrás, consegue usar nos dias de hoje. Sou muito grato por poder agregar dentro de campo, que é o mais importante, e fora de campo esse papel é importante também no sentido de ajudar os mais jovens, colocar algo a mais dentro do elenco. Nós jogamos uma final com três jogadores que subiram do time junior. Lembro que um dia antes do jogo, na concentração, chamei o Nathan, o Matheus Sales e o Gabriel Jesus para uma conversa. Foi tipo pai com filho. Estava brincando, mas conversando com eles sobre a sensação de disputar uma final com 18 anos, perguntando se estavam ansiosos, falando das coisas que eu vivi quando tinha a idade deles. Isso ajudou o time a entrar sem muita pressão. Quando você pode agregar algo é importante.



E as brincadeiras sobre o seu discurso incomodaram?

Não me incomodou. A rivalidade aqui em São Paulo é muito grande. Só fico chateado quando passa a desrespeitar. Brincadeira é aceitável. Mas eu não vi como falta de respeito. Foi mais uma provocação e rivalidade. É até normal no meio do futebol.





Aos 41 anos, Zé Roberto se emociona com título da Copa do Brasil (Foto: Marcos Ribolli)



Como foi para você, com passagens por grandes clubes da Europa e do Brasil, pela Seleção, viver o clima da final da Copa do Brasil?

A festa da torcida do Palmeiras foi muito grande... Eu, particularmente, nunca tinha visto algo igual no sentido de confiança e de entusiasmo dentro de estádio. Eu joguei no Real Madrid, Bayern de Munique, Bayer Leverkusen, joguei finais importantes pela seleção e pelos clubes, mas esse jogo do dia 2 de dezembro ficou marcado na minha carreira. Passei por uma situação que nunca tinha vivido na minha carreira, um episódio de nervosismo. Quando faltavam três ou quatro minutos para acabar, na minha cabeça tinha acabado o jogo quando fizemos o segundo gol. Eu tentava passar algo para os meus companheiros e não conseguia porque parecia que o torcedor estava dentro de campo. Ficou um caldeirão. Quando tomamos o gol foi um choque. Quando o juiz terminou eu coloquei em dúvida o título. Quando fomos falar com o professor Marcelo, eu perguntei se podia bater o último. Me deu um nervosismo naquele momento. Ele estava olhando os nomes e falou para eu bater o primeiro. Quando ele disse isso minhas pernas começaram a tremer (risos). Meu nervosismo aumentou quando o primeiro cobrador do Santos perdeu, porque a responsabilidade aumentou. Eu abaixei a cabeça saí falando: "seja o que Deus quiser". Quando eu saí comecei a ouvir o estádio gritar "au au au Zé Roberto é o animal". Me veio uma confiança que acabou com o nervosismo. Ganhei oito títulos com o Bayern de Munique e não chorei em nenhum deles. Mas quando terminou com o Prass... Até tem uma imagem aqui (Zé mostra uma foto dele emocionado logo após o fim da partida). Essa foto marcou.

E nas outra cobranças você ficou agachado, sem ver os pênaltis...

Não vejo. Ali é a hora que eu estou concentrado pedindo para Deus. Não olhei contra o Fluminense e nem contra o Santos.





Palmeirenses durante as cobranças de pênaltis na final da Copa do Brasil (Foto: Marcos Ribolli)



Aqui na rua da sua casa dá para ver muita bandeiras e camisa do Palmeiras. Sofreu com a pressão em casa também?

Deve ter umas quatro ou cinco famílias aqui. Eles falaram assim: "Pelo amor de Deus, Zé. Traz esse título para nós" (risos). Eles me pediram uma camisa. Estavam muito confiantes. Tinham certeza do título. O Jajá mora aqui na frente e reuniu uns amigos aqui no primeiro jogo. Fizeram uma rifa, eu doei uma camisa, que foi usada para a fundação do Edmilson (o lateral do Verdão é vizinho do ex-zagueiro do Palmeiras e da Seleção).



Em um momento importante da temporada o Palmeiras sofreu com irregularidade. Pela base ser mantida, acha que isso pode ser um problema a menos no ano que vem?

O Palmeiras fez 25 contratações e conseguiu ter um time competitivo. É normal passar por instabilidades. Houve momentos em que a defesa era uma das melhores do campeonato, depois chegou uma época em que o ataque era um dos que fazia mais gols. Essa oscilação é normal num time que está sendo formado. Acho até que fizemos muito, por ser um elenco praticamente novo.





Marcelo Oliveira e Zé Roberto na Academia

(Foto: Cesar Greco/Ag Palmeiras/Divulgação)




Qual foi a importância do Marcelo Oliveira na conquista?

Ele não se abalou com a cobrança no sentindo de inconstância em alguns jogos. O professor Marcelo percebeu que não conseguia colocar os 11 ideais da cabeça dele em sequência por causa do calendário e lesões. Por essa mudança tática dificultou para a nossa equipe ter uma sequencia de bons jogos.



O que é o tão comentado projeto do Palmeiras, que fez você vir para o clube em 2015 e renovar para 2016?

É jogar num time estruturado, num clube de tradição e história, e projetar títulos. Isso é o mais importante. Se conquistamos um título esse ano a possibilidade de conquistar ano que vem é grande também. Até pela base que foi mantida e por algumas peças que vão chegar.



O que significa ser campeão pelo Palmeiras?

Significa eu entrar para a história de um clube que tem uma grandeza gigante. Entrar para a história do Palmeiras foi um sentimento que eu sempre tive desde quando eu cheguei. Falei dentro do vestiário, para o presidente Paulo Nobre mesmo. Eu falei para ele que queria ver meu rosto lá no vestiário e brinquei que quero ver isso ano que vem. Foi marcante na minha carreira.



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