Carta aberta a vascaínos e palmeirenses

30/12/2015 15:25

Carta aberta a vascaínos e palmeirenses

Carta aberta a vascaínos e palmeirenses

Evair e Edmundo. Craques compartilhados nos áureos tempos de Vasco e Palmeiras



Eu moro no Rio de Janeiro há quase 8 anos. Quando cheguei por aqui, os cariocas me perguntavam: para que time você torce aqui no Rio? Eu enchia o peito de orgulho e respondia: pro maior time do Rio de Janeiro, o Palmeiras. Alguns ficavam furiosos, muitos sorriam e retrucavam alguma brincadeira. Outros tantos desandavam a falar o quanto gostavam do Palmeiras em São Paulo ou como nossa crise parecia não ter fim.



Desde a minha chegada, procurei observar os hábitos futebolísticos cariocas. E tentar entender com qual time eu teria alguma afinidade. Se é que teria com algum. O Flamengo estava descartado previamente, desde o dia em que o Euller marcou dois gols no Palestra e os despachou da Copa do Brasil. Eu estava lá, e vi a torcida deles gritar “Timão, ê ô”. Inadmissível. No jogo seguinte, ainda vi as escadas do velho palestra pichadas com o nome “Gaviões da Fiel”. Passei a amaldiçoá-los. Qualquer possível simpatia construída pelo time de Jorge Ben se perdeu.



Para além do fato do Vasco ser “o único que bate de frente com o Flamengo”, como me disse certa vez o amigo Marcelo Marchesini (que co-fundou este blog em 2008), entendi que a relação dos dois times era mais profunda ao assistir os jogos contra o Cruzmaltino em São Januário. Na primeira partida, surpreendi-me com os torcedores dos dois times trocando gorros e bonés. Na segunda, nos arredores do estádio, fui puxado pelo braço por uma senhora vascaína que fez questão de me fazer sentar na mesa com sua família e amigos na beira da calçada e me obrigou a aceitar um delicioso churrasquinho no pão enquanto falava eloquente e repetidamente: “No dia que tu quiser vir a São Januário, me procure e que eu te arrumo os ingressos”. Como explicar tamanha gentileza de um torcedor rival? Não expliquei, apenas deixei crescer naturalmente a simpatia pela Gigante da Colina.



De lá para cá, vi coisas horríveis aconteceram com os dois times. Vi a pior partida de futebol da minha vida em um estádio de futebol em São Januário. Um 0x0 em que os dois times maltrataram a bola, não me lembro em que campeonato. Os times que um dia compartilharam atletas como Edmundo e Evair passaram a compartilhar também jogadores como Jumar. Tempos de vacas magérrimas. Um longo inverno.



Em 2011, enquanto o Palmeiras fazia campanha medíocre, torci pelo Vasco contra o Corinthians enquanto pensava: “O Vasco caiu e conseguiu se reerguer. Por que diabos o Palmeiras é incapaz de fazer o mesmo?”. No mesmo ano, vi a final da Copa do Brasil nas sociais de São Januário com um amigo vascaíno e seu pai. O seu amigo palmeirense é pé quente, disse o Sr. Cecilio ao filho Marco, após o título. Em 2012, o Vasco fez boa campanha. Nós nos iludimos com a Copa do Brasil, para cair novamente. Subimos em 2013. O Vasco caiu. Em 2014 não caímos por 1 ponto e por obra do acaso. O Vasco subiu. Em 2015, nos redimimos no campo. E torci para o Vasco superar a trágica gestão Eurico Miranda, a humilhação do Sergio Malandro. Quase como torço para o meu time de verde. Não foi possível.



Eu vi meus amigos vascaínos no dia a dia, em variadas situações, derrubados, com lágrimas nos olhos, tentando se livrar do ódio e da dor que os dilacerava e maltratava sua paixão. Eu já estive lá. Duas vezes. Eu também sei como é. Eu pensei em como olhei para o Vasco em 2011 e quis que nossos times pudessem trocar de lugar (não no mundo, mas pelo menos nas tabelas de classificação). Hoje o vascaíno tem Eurico; ontem nós tínhamos Arnaldo Tirone.



De um dia para o outro, tudo mudou. Tudo pode mudar. Especialmente em um meio recheado de corruptos e incompetentes como o futebol. Amanhã, o sol pode brilhar bonito para o Vascão. E as nuvens carregadas podem visitar novamente as bandas de Perdizes. E como a maior parte dos clubes, estes gigantes ficaram à mercê dos ventos, de dirigentes incapazes, da própria sorte.



Pouco sei sobre o que a torcida vascaína tem feito para reverter o grave quadro do Cruzmaltino. Mas talvez a torcida palestrina possa servir como um exemplo em ao menos um ponto. A partir de um dado momento, o torcedor alviverde libertou-se da sua diretoria, compreendeu que “o Palmeiras somos nós”, não os néscios que comanda(va)m o clube. Quando São Marcos se aposentou, a festa foi feita nas ruas, independente de qualquer incentivo ou apoio oficial. Quando lutamos pela democratização e aprovamos as diretas (ainda falta o voto do Sócio-Torcedor!), quando fizemos 100 anos e o centenário popular. Em cada uma dessas situações, a alma palestrina inventou motivos para festejar e carregar a instituição nos braços. Sempre além dos padrões pré-moldados pelos nossos dirigentes. Muitas vezes, diante da completa inércia de nossa direção (ainda não acredito que Marcos se aposentou e Arnaldo Tirone afirmou que não esperava que isso ocorresse).



Mas da mesma forma que se orgulhar de ser brasileiro vai muito além de gostar dos governantes e parlamentares que temos (é orgulhar-se da nossa cultura, da nossa comida, da nossa língua, da nossa música, da nossa terra e nosso jeito de ser), orgulhar-se de nossos clubes vai além de gostar dos nossos administradores. Dane-se o Eurico. O Vasco é muito maior que isso. E precisa ser carregado por sua torcida nesse momento, de novo. O vascaíno precisa invadir a política do clube, como fez o palmeirense após 2003.



Para o palmeirense, o risco neste momento é o da acomodação. É o de achar que o inferno não está mais à sua espreita. Que o tempo não pode virar. É o de pensar que as reformas estão completas, que tudo está no caminho certo. Mesmo com avanços claros e que merecem reconhecimento, o Palmeiras ainda não atravessou o oceano do amadorismo para se transformar em um clube amplamente profissional. Não mudou seu estatuto. Não se democratizou nem desempoderou as velhas oligarquias de conselheiros que fabricaram gestões catastróficas.



O tempo pode virar. Para vascaínos, isso é um motivo para ter fé e lutar. Para palmeirenses, é um alerta para não parar de lutar, que não deve ser desprezado.



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13479 visitas - Fonte: ESPN FC

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