Curado de câncer, ex-volante lamenta saída do Palmeiras e detalha briga feia com Luxa

6/1/2016 07:43

Curado de câncer, ex-volante lamenta saída do Palmeiras e detalha briga feia com Luxa

Curado de câncer, ex-volante lamenta saída do Palmeiras e detalha briga feia com Luxa

Magrão jogou por seis anos no Palmeiras, mas foi jogar no Japão: 'Maior besteira'





O sotaque gaúcho bastante carregado esconde um pouco a origem humilde paulista - da qual se orgulha muito - de Márcio Rodrigues, o Magrão, como ficou muito conhecido no futebol.



Natural da favela de Heliópolis, no estado de São Paulo, o ex-volante foi ídolo do Palmeiras, por onde passou seis dos 20 anos da carreira, e do Internacional, onde conquistou o Campeonato Gaúcho de 2008 e 2009, a Copa Sul-Americana e a Copa Suruga, ambas em 2009, além da simpatia do torcedor colorado.



Mas nem tudo foi alegria na carreira de Magrão. O ex-jogador também de São Caetano, Cruzeiro, América-MG, Náutico, Al Wahda e Dubai Club, os dois dos Emirados Árabes, e hoje empresário de atletas como Nilmar, Valdivia e Denílson (volante ex-São Paulo), descobriu um câncer nos testículos que o fez realizar uma quimioterapia e, como ele próprio diz, temer a morte, em 2011.



A utilização dos medicamentos para o tratamento da doença o obrigaram a parar de fazer o que mais gostava, quatro anos depois, em 2015, após ser pego no exame antidoping, quando jogava pelo Novo Hamburgo, do Rio Grande do Sul.



Em entrevista exclusiva ao ESPN.com.br, Magrão contou que sair do Palmeiras, inclusive, foi sua maior "besteira" do período em que esteve ativo. Ele aceitou proposta do Yokohama Marinos, do Japão, exatamente quando havia sido convocado para a seleção brasileira, em 2015. Depois, ele acabou esquecido e preterido por Mineiro, então campeão mundial pelo São Paulo.



Magrão e Denílson: ex-volante é empresário





"Talvez não devesse ter ido para o Japão. Foi meu maior erro. A proposta era boa e pensei apenas na parte financeira. Se tivesse ficado um pouquinho mais no Palmeiras... Tinha mais um ano e meio de contrato, poderia ir para onde quisesse e como quissese depois, mas fui convencido pelo empresário e pelo clube", disse.



Foi também na própria equipe do Palestra Itália que o ex-jogador se envolveu em uma briga feia. Em 2002, ele se desentendeu com Vanderlei Luxemburgo, então treinador palmeirense. Apesar do entrevero, ele afirma não guardar mágoas do 'pofexô'.



"Não tenho mágoa nenhuma dele, é um grande treinador, mas jovem você tem outras opiniões. Foi coisa de momento", contou, após detalhar a discussão.



Magrão ainda contou, dentre outras coisas, qual time ele tem mais saudades de atuar, suas maiores alegrias e os técnicos pelos quais ele possui maior apreço.



Confira, na íntegra, a entrevista exclusiva com o ex-volante, de 37 anos:



ESPN.com.br:
Como é a vida nos Emirados Árabes? É tudo muito luxuoso mesmo como dizem? Tem alguma resenha boa para contar?



Magrão: O que tenho de impressão lá é diferente. A visão que o pessoal tem de luxo é um pouco diferente, porque o país me abriu as portas e depois que eu parei eu fui de férias para lá e me abriraram as portas de novo para trabalhar. A visão é mais de gratidão, acabo não vendo esse luxo todo, mas não me apego muito não. É um país que gosto demais.



Tem os presentes que eles dão. Nos dois clubes que joguei, ganhei relógio e minha esposa também, [ganhou] brinco de ouro. Tentei me adaptar à cultura deles e, quando estava morando lá, tentei viver o mundo deles, respeitando a cultura, tentando comer com a mão. Ia para o jantar e comia igual a eles. Já fui para lá um pouco mais maduro, mas no começo dá um pouco de susto, da forma como se vestem. Hoje a gente chega lá e é normal, não tem mais esse negócio de choque cultural.



Quando você chega em Dubai ou Abu Dhabi, o pessoal já te conhece? Te para na rua?



M:
A gente foi campeão da Supercopa lá, né? Principalmente em Abu Dhabi, onde tem mais local que turista, eles gostam de futebol e me conhecem bem. Quando vou no jogo, as crianças pedem para tirar foto, correm atrás do carro para tirar foto, falo com jogadores que jogaram comigo, tem postagem no Facebook, no Instagram do Al Wahda e tudo mais. É bem legal.



Essa sua proximidade com o Al Wahda ajudou no negócio do Denilson para os Emirados Árabes?



M
Eu tenho um sócio lá, Juan Inacio, que me ajudou muito, foi meu empresário lá nos Emirados e a gente conversava. Levou o Éverton Ribeiro para lá, é muito forte no país. Na negociação do Denilson eu fui de férias no domingo, falei com o presidente do time e já na segunda-feira sai com permissão de trazer ele. Foi muito rápido e fácil.



Voltando ao Brasil: que time você tem muitas saudades? Se pudesse voltar a jogar por um dia, onde jogaria?



M:
Um time que eu tenho muitas saudades é o Inter, porque vivo aqui [em Porto Alegre]. Joguei na partida beneficente do D'Alessandro há alguns dias, e vejo como a torcida me trata.



E o Palmeiras?



M:
No Palmeiras foram seis anos que ficaram manchados pela minha ida para o Corinthians. Consegui fazer minha trajetória pelo Inter sem manchar nada. Pessoal me reconhece. Entrar no Beira-Rio é especial.



Se arrepende de ter aceitado ir para o Corinthians mesmo tendo história no Palmeiras?



M:
Não me arrependo. Minha família é toda corintiana e eu também. Não tinha como não aceitar o Corinthians, fui profissional. Faria tudo de novo. Tava com uma proposta de voltar ao Brasil. Comuniquei o Palmeiras, mas ele não se importou.



Magrão comemora gol com Tite, no Inter





Você já disse que o melhor time que fez parte foi o Inter com o Tite. Já via, àquela época, que ele poderia ser o melhor do Brasil depois de alguns anos?



M:
Achava. Tanto achava que seria o melhor do Brasil, que ajudei de todas as formas sua ida para o Al Wahda. Fiz um churrasco em casa, chamei a diretoria toda e falei no nome do Tite. Fiz de tudo para ele ir. Talvez tenha sido o melhor treinador que peguei.



Teve algum outro?



M:
Outro foi o Mário Sérgio. Quando o Palmeiras me emprestou pro São Caetano, foi ele quem me deu todo o suporte. Lá pude desenvolver meu futebol e inclusive joguei mais adiantado, como um camisa 10. Cresci muito como atleta. Ainda mais que havia saído do Palmeiras de forma conturbada, briguei com o Luxemburgo, quase fomos às vias de fato...



Como foi essa briga com o Luxemburgo?



M:
Foi num jogo em 2002. Passei a noite mal, com gripe forte. Pedi para sair com 30 minutos do segundo tempo, sofremos o empate e fomos eliminados. Tudo caiu sobre as minhas costas. Naquele momento, ele achava que eu não servia para o Palmeiras. Fui rebelde, era jovem, ai não aceitei essa imposição. Fui preterido e ia ficar encostado. A gente acabou discutindo e o melhor foi eu sair mesmo. Hoje tenho uma certa amizade com ele, não sou amigo, mas tenho uma relação.



Guarda mágoas dele?



M:
Não tenho mágoa nenhuma dele, é um grande treinador, mas jovem você tem outras opiniões, porque ele sabia que eu tinha ficado mal no dia anterior. Foi coisa de momento.



Você chegou a ser convocado para a seleção brasileira, mas jogou pouco. Achou que merecia mais oportunidades?



M:
Na seleção, eu tive azar de me machucar duas vezes. Uma foi no coletivo antes de um jogo contra o Uruguai, quando rompi o adutor. Não sei se merecia mais chances, era uma seleção muito forte, muita gente boa, tinha Gilberto Silva, Émerson, Edmilson... Acho que era um sonho estar na seleção, realizei. Dependia muito do clube. Talvez não devesse ter ido para o Japão. Foi meu maior erro. A proposta era boa e pensei apenas na parte financeira. Se tivesse ficado um pouquinho mais no Palmeiras... Tinha mais um ano e meio de contrato, poderia ir para onde quisesse e como quissese depois, mas fui convencido pelo empresário e pelo clube.



Como estava sendo convocado, achei que continuaria sendo convocado. Só me dei conta do contrário quando estava no Japão. O Émerson se machucou e convocaram o Mineiro, que ficou no Brasil, fez uma baita campeonato. Era justa a convocação dele. Foi minha maior besteira da carreira.



Você já jogou Inter x Grêmio e Corinthians x Palmeiras, duas das maiores rivalidades do futebol brasileiro. Qual delas é maior?



M:
Grêmio e Inter, disparado. Em São Paulo, tem vários rivais e, pra mim, a rivalidade maior do Palmeiras era com o São Paulo. Pela diretoria, muita coisa histórica ali. Pra torcida, Corinthians e Palmeiras é maior, realmente. Mas Inter e Grêmio é totalmente diferente, são dois clubes dentro de uma cidade que respira futebol, vive o futebol 24 horas por dia. Não posso experimentar camisa azul aqui, que reclamam (risos). Mas é uma rivalidade sadia. Não tem violência, que nem Palmeiras e Corinthians, que há casos de um que matou outro no ônibus, no metrô. Aqui é rivalidade bem de criança. Tem os exaltados, claro, mas 90% é sadio. A cidade simplesmente para. Pode ser jogo de basquete, que para. Só quem vive aqui pra entender o que estou falando.



Ainda mais que o Grêmio não vem ganhando nada e o Inter ganhando muito nos últimos anos. A década de 90 foi toda do Grêmio e, de 2006 para cá, o Inter ganha quase tudo. Cria-se uma rivalidade ainda maior. A torcida se apega muito à vitória.



Você se curou de um câncer no testículo há algum tempo. Como foi que descobriu, o tratamento e o drama vivido?



M:
Não tive tempo de sofrer. Fui pego no exame antidoping nos Emirados. Tive uma alteração de testosterona e ela está vinculada ao câncer no testículo. Tive um mês de tristeza, porque foi exame em cima de exame, para ver se já tinha se espalhado para alguma parte do corpo. Foi o momento de maior tensão. No momento da remoção do testículo, depois de 15 dias que voltou tudo ao normal, voltei a ficar tenso, porque fiz quimio. Fiquei dois anos fazendo quimioterapia para ver se ele voltaria ou não. Mas quando vimos que a chance foi diminuindo, vi que Deus me deu chance muito mais rápida de descobrir isso.



Eu tive desespero, tensão mais dois anos. Qualquer dorzinha que você sente, já faz exame, quer tomar remédio, ir para o hospital. É uma realidade que não vivia e ficava com medo. Não sofri muito, foi mais desepero. Em maio completam cinco anos e dizem que depois desse período não tem perigo de voltar. Digo que nasci de novo.



Agora você ingressou na vida de empresário, participou de algumas negociações como a do Denílson, do Nilmar e do Valdívia. O que é mais fácil: ser empresário ou ser jogador e estar dentro de campo?



M:
Jogar, com certeza. Como empresário eu ainda sou novo e dentro de campo eu sabia já o que fazer. Era muito mais fácil. Tem muita gente esperta, que se aproveita da situação. É um meio um pouco desonesto. É complicado porque tem muita gente boa, mas tem os dois lados da moeda. Seu Juan Figer foi por 12 anos meu empresário, só me ajudou. Aprendi muito com ele. Peguei o lado bom, conheço também o [Eduardo] Uram. Tem muita gente que batalha, que ajuda o jogador.



Qual foi sua maior decepção nesses seus 20 anos de carreira?



M:
Difícil falar em decepção. Acho que fui feliz pra caramba. Tive erros e acertos. Voltei para o Náutico que não tinha estrutura nenhuma. Errei em ir para o Japão, mas tudo isso faz parte da vida. Vivi intensamente o futebol, com erros e acertos e fui amado e odiado. Mas foi legal. Aprendi outra língua, tive oportunidade de estudar, aprendi a comer, sentar à mesa direito, com pessoas importantes. Se não fosse o futebol, ainda estaria batalhando em Heliópolis e não teria vivido nada disso.



E sua maior alegria?



M:
Acho que foi quando fui convocado para a seleção. Também na volta do Palmeiras da segunda para primeira divisão, fiz o gol do acesso. Foi um ano difícil demais, não podíamos nem sair na rua. Era tensão total, porque foi a primeira vez que o Palmeiras caiu. Para minha família foi ir para o Corinthians. Foram alguns momentos diferentes que guardo com carinho.



Magrão, para terminar, então. Você tem origem humilde, nasceu em Heliópolis. O que nascer e viver lá te ensinou que você levou para o futebol?



M:
A respeitar o próximo, a ouvir mais e falar menos. Lá é uma comunidade humilde, mas que todo mundo se respeita, todo mundo divide o que tem. Como digo, onde come um, comem 10 e foi isso que aprendi para a vida toda.



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