Marcelo Oliveira fez mudanças importantes. Resta saber se foram circunstanciais ou se são tendências
Marcelo Oliveira ensaiou mudanças muito interessantes no jogo contra o Botafogo, em Ribeirão Preto. Os que não tiveram a chance de ir ao estádio ficaram limitados à imagem da televisão, o que impede a observação completa do desenho do time em campo. Mas o que se viu neste jogo de estreia no Paulistão nos permite, no mínimo, sonhar com um time bem mais encorpado e menos previsível que o de 2015.
A primeira novidade foi a entrada de Thiago Santos no lugar de Matheus Sales. O prata-da-casa foi o melhor volante do elenco nas atividades em Itu e no Uruguai, e parecia bem pouco provável que fosse sacado para a entrada de Jean, uma das mais badaladas contratações. Eis que ele saiu do time e deu lugar ao surpreendente Thiago Santos, que acabou sendo um dos melhores em campo.
Isto pode significar bem mais do que parece. Marcelo Oliveira sempre teve como característica insistir na mesma formação em todos os clubes por onde passou, mas pela primeira vez sugere que pode escalar o time conforme as características do adversário; analisando o Botafogo, concluiu que é um time mais forte e mais alto, e assim escolheu Thiago Santos, mais cascudo e mais eficiente no jogo aéreo que Matheus Sales.
Podemos imaginar que Marcelo tende a fazer essa análise do adversário em todos os jogos e fazer dezenas de combinações diferentes para escalar os 11 que entram em campo, diante de tantas opções qualificadas que tem à disposição. Este tipo de trabalho tende a render muitos frutos se o elenco for capaz de assimilar essas variações, compreender e executar o que o técnico pretende. O time não se acomoda, não entra "no automático". Demanda muito treinamento, claro.
Outro ensaio importante foi a alteração significativa no desenho tático do time a partir do meio do segundo tempo. Com a entrada de Roger Carvalho no lugar de Thiago Santos, ficamos com três zagueiros; Arouca fazendo a proteção, Robinho recuou um pouco e Lucas e Egídio ficaram livres para apoiar. Com mais confiança, sabendo que não precisava se preocupar tanto com as costas, Egídio fez um jogo muito bom, participando de boas jogadas ofensivas.
Ficou ainda nas redes sociais a discussão semântica sobre o “chutão”: afinal, um “lançamento” é um chutão que deu certo e o “chutão” é um lançamento que deu errado, ou tudo se relaciona com a intenção de quem deu a bicuda na bola? Pouco importa, na verdade. O que ficou nítida foi a disposição do time em sair jogando sempre com a bola dominada. Mas Marcelo Veiga, técnico do Botafogo, atrapalhou o desenvolvimento dessa mudança ao subir a marcação de seu time durante quase todo o jogo.
Nessas situações, a saída longa deixa de ser um problema e se torna quase uma solução, já que vai encontrar um sistema defensivo bem menos compacto e as chances de um chute longo acabar virando um lançamento preciso ou de uma segunda bola se tornar uma jogada produtiva aumentam proporcionalmente ao espaço que o adversário deixa. Foi assim que saíram nossos dois gols. Precisamos esperar novos jogos, contra times que não marquem nossa saída de bola, para verificarmos os dispositivos treinados por Marcelo para melhorar a saída de bola; o jogo em Ribeirão não pode contar.
Enfim, são observações feitas a partir da televisão, num único jogo. Tudo ainda não passa de conjecturas. A sequência de jogos dirá se esses eventos foram apenas circunstanciais ou se são realmente tendências do trabalho de Marcelo Oliveira, que tem pela primeira vez nas mãos um elenco incrivelmente variado e qualificado – o que talvez explique por que sempre preferiu manter suas escalações fixas em seus trabalhos anteriores. Permanecemos observando com muita atenção.
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